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Final inédita ou nova crise? Por que o jogo do Barça é vital para o técnico

Do UOL, em São Paulo *

04/03/2015 10h00

Nas últimas temporadas, o Barcelona de Xavi, Iniesta e Messi instituiu novos padrões a seus torcedores. Foram anos de bonança, estabilidade e briga por títulos (duas Ligas dos Campeões e quatro Campeonatos Espanhóis de 2008 a 2012, por exemplo). Por tudo isso, o jogo contra o Villarreal, às 16h (de Brasília) desta quarta-feira (04), é nevrálgico para o ambiente da equipe catalã. É a chance de o técnico Luis Enrique, que ocupa o cargo desde maio de 2014, atingir sua primeira decisão no cargo. Para quem viveu meses de uma contundente gangorra, a partida de volta das semifinais da Copa do Rei é um ponto vital entre a chance de uma temporada perfeita ou o início de uma nova crise.

O Barcelona não conquista um título desde agosto de 2013, quando venceu a Supercopa da Espanha – aliás, a única taça erguida por Neymar no clube. Na Copa do Rei, a última campanha vitoriosa da equipe catalã aconteceu na temporada 2011/2012.

Essa estiagem é parte fundamental do ambiente instável que tem cercado o trabalho de Luis Enrique. Ex-jogador do próprio Barcelona, ele prometeu “um novo clube” quando foi apresentado como novo técnico. Meses depois, colecionou polêmicas com astros e viu sua trajetória ser minada por uma crise fora de campo.

Em novembro de 2014, por exemplo, o jornal catalão “Mundo Deportivo” disse que o Barcelona flertava com a crise. O diário “Sport” foi ainda mais incisivo: “Jogando assim não se ganha nada”. A equipe comandada por Luis Enrique tinha sofrido sua segunda derrota consecutiva no Campeonato Espanhol.

A situação foi se deteriorando ainda mais nos meses seguintes. A falta de resultados foi acompanhada por críticas à falta de manutenção do time e por uma série de notícias sobre problemas nos vestiários do Barcelona – principalmente acerca do relacionamento entre Messi e Luis Enrique. Para completar, o clube foi proibido de contratar pela Fifa por acusações sobre aliciamento de jogadores e o ex-presidente Sandro Rosell está cada vez mais afundado num processo judicial decorrente da negociação que levou o atacante brasileiro Neymar à Catalunha. Até o início de janeiro, a crise batia de todos os lados.

A situação começou a mudar justamente por causa dos resultados. O Barcelona iniciou uma reação no dia 8 de janeiro, quando goleou o Elche por 5 a 0. Em fevereiro, quando se classificou para as semifinais da Copa do Rei, o time catalão chegou a 11 vitórias consecutivas e igualou um recorde registrado em 2008 pelo time dirigido por Pep Guardiola.

O Barcelona ainda pode conquistar três títulos nesta temporada. Na Copa do Rei, bateu o Villarreal por 3 a 1 no primeiro jogo das semifinais, no Camp Nou, e tem vantagem confortável nesta quarta-feira. Além disso, está a dois pontos do líder Real Madrid no Campeonato Espanhol e bateu o Manchester City por 2 a 1 na Inglaterra na primeira partida das oitavas de final da Liga dos Campeões.

“Estamos no rumo certo. Queremos ganhar todos os jogos e chegar ao fim da temporada com chances de brigar por todos os títulos”, disse Luis Enrique em entrevista coletiva, negando que o Barcelona adote prioridades entre as três competições.

A reação do Barcelona na temporada passou por um encaixe do setor ofensivo. O trio formado por Messi, Neymar e Suárez marcou 72 dos 115 gols que o Barcelona anotou nesta temporada (62,6% do total).

A fase é tão positiva que o Barcelona já começou a pensar no futuro. Segundo o “Sport”, Luis Enrique teve uma reunião na segunda-feira (02) com Josep María Bartomeu, presidente do clube, e começou a desenhar o planejamento para a próxima temporada. O técnico tem contrato até 2016, e o mandatário catalão já disse publicamente que pretende cumprir o acordo até o fim.

O problema para Luis Enrique é que toda essa reação está condicionada ao jogo contra o Villarreal. A imprensa catalã ainda desconfia da estabilidade do técnico, e o principal motivo para isso é o desgaste com jogadores. Nesta temporada, Messi, Neymar, Suárez e Daniel Alves já foram flagrados reclamando abertamente ao serem substituídos.

Em novembro, numa vitória por 3 a 0 sobre o Eibar, Messi chegou a recusar uma substituição do técnico. Essas reações não diminuíram nem com a ascensão da equipe – Suárez ficou insatisfeito no último sábado (28), quando participou de três gols e saiu no segundo tempo.

“Uma derrota e tudo desmorona”, costuma dizer Luis Enrique após qualquer vitória do Barcelona. Ainda mais se a derrota acontecer nesta quarta-feira.

* Colaborou João Henrique Marques, de Barcelona