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Dunga define "mandamentos" para quem sonha com vaga na seleção

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

05/03/2015 19h13

São quatro convocações e seis jogos desde que Dunga voltou ao comando da seleção brasileira – ele já havia dirigido o time entre 2006 e 2010 e substituiu Luiz Felipe Scolari após a Copa do ano passado. O reinício do treinador mostrou jogadores que têm sido pilares na reconstrução do time, que ainda luta contra a frustração do 7 a 1 (Miranda, Filipe Luis, Luiz Gustavo, Oscar, Willian e Neymar, por exemplo, participaram de todas as apresentações da equipe nacional no novo ciclo). Mas as listas montadas até aqui também já serviram para mostrar algo mais relevante do que nomes: direções escolhidas pelo técnico.

Nesta quinta-feira (05), logo depois de anunciar os convocados para amistosos contra França (26 de março, no Stade de France, em Saint-Denis) e Chile (29 de março, no Emirates Stadium, em Londres), Dunga escancarou isso de forma didática. Em entrevista coletiva, o treinador enumerou quatro mandamentos que balizam a construção do grupo.

Além da evidente qualidade técnica, Dunga elegeu a velocidade, a inteligência tática e a mentalidade ganhadora como premissas básicas da seleção brasileira.

“O jogador precisa ter qualidade técnica e velocidade com ou sem a bola. Se ele não for participativo e não conseguir fazer isso com intensidade no ataque e na defesa, a equipe vai jogar com um a menos. O futebol moderno precisa de algo diferente disso, com muita competitividade. Outro aspecto é a inteligência ou a percepção tática, do jogo de futebol como um todo. É o posicionamento. O jogador precisa ter mentalidade ganhadora. Se ele ganhou uma partida ou um campeonato, não pode se contentar com isso e já precisa pensar no que vem, no próximo. O que não pode é ficar na frente da TV vendo o gol que fez ou o passe que deu”, disse o treinador.

Veja como as premissas definidas pelo técnico influenciam na montagem da seleção:

Mentalidade ganhadora

A seleção brasileira estava arrasada quando Dunga foi contratado. O treinador foi o antídoto escolhido pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para os estragos causados pelo 7 a 1 – jogando em casa, o time comandado por Scolari perdeu de forma acachapante nas semifinais da Copa e acabou no quarto lugar.

Dunga foi escolhido, entre outras coisas, porque já havia sido massacrado na seleção brasileira. Quando jogador, o técnico foi o maior símbolo da geração que não deu certo na Copa de 1990. Depois, reagiu e foi campeão no Mundial seguinte.

Na atual gestão, “competitividade” tem sido o mantra de Dunga. O técnico tem fomentado disputas por posição e feito alertas constantes aos jogadores. Até aqui, a seleção tem sido moldada com foco em resultados. Foi assim nos amistosos, mas o exemplo mais gritante foi a vitória por 2 a 0 sobre a Argentina no Superclássico das Américas, disputado em Pequim.

Neymar é o exemplo mais gritante nesse quesito. O camisa 10 foi escolhido por Dunga para ser o capitão da seleção depois da Copa do Mundo. Até aqui, marcou sete dos 14 gols da seleção no ciclo.

“Os números estão aí para mostrar que o Neymar teve um upgrade a partir do momento em que colocou a faixa de capitão. É um jogador que gosta de desafio e que tem mentalidade de vencer. Quanto maior a responsabilidade, mais ele vai ter um desenvolvimento e crescer”, opinou Dunga.

Inteligência tática

Em seis partidas, a seleção de Dunga já passou por diferentes sistemas de jogo. O time sempre começou com dois volantes e dois meias abertos (Oscar e Willian), mas oscilou muito durante os 90 minutos.

Dunga testou formações sem atacantes fixos, com homem de área e com apenas um volante, por exemplo. Na vitória por 4 a 0 sobre o Japão, trocou Elias por Kaká e deixou Souza como único homem de marcação durante uma parte do segundo tempo. “O jogador precisa disso: perceber o posicionamento e a tática do jogo. É o futebol em si”, disse o treinador nesta quinta-feira.

Ao contrário do ciclo anterior, quando a seleção tinha um 4-2-3-1 estável e apostava basicamente em contragolpes, a seleção pós-Copa de 2014 tem mostrado repertório. O time de Dunga teve mais posse de bola e volume de jogo em cinco dos seis jogos (a exceção foi a vitória por 2 a 0 sobre a Argentina).

Velocidade

O time de Dunga não é mais dependente apenas dos contragolpes, mas ainda abusa da transição em velocidade. Esse é o aspecto que o comandante mais enfatiza nos treinos desde que voltou ao cargo.

A seleção de Dunga tem meias abertos, que se associam a Neymar e Diego Tardelli na transição. É um time que alterna aposta em contragolpes e marcação pressão, mas que dificilmente reduz o ritmo da partida.

Esse é um dos principais motivos para o treinador ter barrado Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart na convocação para amistosos contra França e Chile. O treinador explicou que não quis chamar três atletas que ainda estão em início de temporada – Ribeiro defende o Al-Ahli (Emirados Árabes Unidos), e Goulart está no Guangzhou Evergrande (China), e o técnico preferiu chamar apenas Diego Tardelli, do Shandong Luneng (China).

A aposta em Tardelli tem outra relação com um dos mandamentos da seleção de Dunga. O ex-jogador do Atlético-MG usa a camisa 9 da equipe nacional, mas não é um homem de área. Ele atuava aberto pela direita na equipe mineira e tem a velocidade como um de seus principais atributos.

Dunga chegou a convocar Luiz Adriano, um centroavante mais fixo, para os amistosos contra Turquia e Áustria. Nesta quinta, voltou a ter apenas Tardelli como homem com mais presença de área. As outras opções ofensivas são Neymar, Roberto Firmino e Robinho.