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Seleção pode escalar jogador que atua na China pela 1ª vez na história

R. Goulart comemora gol na China pelo Guangzhou Evergrande; meia pode ser pioneiro - (Xinhua/Jin Linpeng
R. Goulart comemora gol na China pelo Guangzhou Evergrande; meia pode ser pioneiro Imagem: (Xinhua/Jin Linpeng

Do UOL, em São Paulo

05/03/2015 06h00

Pela primeira vez em seus mais de cem anos de história, a seleção brasileira nunca escalou um jogador que atua na China. Se Dunga confirmar as expectativas e apostar em Ricardo Goulart e Diego Tardelli, pode ser o pioneiro. Para isso, precisa dar o primeiro passo e incluir a dupla na convocação desta quinta, para os amistosos contra França e Chile, em 26 e 29 de março, em Paris e Londres, respectivamente.

O Japão foi o lugar mais perto que a seleção chegou da China. Ao longo da década de 1990, na esteira do sucesso de Zico, nomes como Leonardo, Jorginho, César Sampaio e o próprio Dunga ganharam chances de representar o Brasil enquanto estavam atuando no país asiático. Nenhum outro lugar da Ásia, porém, ganhou a atenção da seleção.

Ricardo Goulart e Diego Tardelli trocaram Cruzeiro e Atlético-MG por Ghangzou Evergrande e Shandong Luneng, respectivamente. Além deles, Everton Ribeiro, outro bicampeão brasileiro, foi parar no Al-Ahli, dos Emirados Árabes, que igualmente nunca foi contemplado com uma vaga na seleção brasileira, embora seja um destino comum de brasileiros há mais tempos. Nesta quinta, todos podem ser lembrados por Dunga.

Pioneiros na Ásia
A novidade será um marco. Desde que começou a ser montada, a seleção brasileira sempre olhou mais para o próprio país. Do ponto de vista histórico, mesmo a Europa é uma novidade. Somente nos anos 1980, quando o Velho Continente abriu as portas para estrangeiros, virou comum ver atletas que estavam em atividade em outros países vestindo a camisa verde-amarela.

Os primeiros “estrangeiros” a atuarem pela seleção, segunda o site de estatísticas RSSSF, foram Luiz Luz, Martim Silveira e Patesko, que defendiam Peñarol, Boca Juniors e Nacional em 1934. A Europa surgiu na vida da equipe nos anos 1960, com Amarildo, no Milan. Dali até a abertura de 1980, só Luiz Pereira emendou uma boa sequência defendendo o Brasil enquanto atuava na Europa – no caso, no Atlético de Madri.

A estatística, diga-se, não significa que mais brasileiros não tenham tido sucesso fora do país no período. Evaristo de Macedo é ídolo de Barcelona e Real Madrid, Juninho Botelho um herói da Fiorentina e Mazzola vive até hoje na Itália após passagens de sucesso em Milan, Napoli e Juventus. Só que a dificuldade de acompanhamento e um certo preconceito mantinham alguns desses craques longe da seleção, ao menos enquanto estavam na Europa.

A abertura
A partir dos anos 1980, porém, diferentes mercados foram sendo desbravados. Falcão abriu caminho na Itália (Roma), Valdo em Portugal (Benfica), Júlio César na França (Brest) e Romário na Holanda (PSV). Juninho, já nos anos 1990, foi o primeiro “inglês” a ganhar sua chance. Jardel, por sua vez, fez o Brasil olhar para a Turquia no começo do século pela boa fase no Galatasaray.

A partir de 2002, porém, a questão dos “estrangeiros” na seleção virou cíclica. Até 2006, o time era tão estrelado e badalado que nem quem jogava no Brasil tinha chance. As exceções de Carlos Alberto Parreira foram concedidas à Turquia, cujo Fenerbahçe emplacou Alex e Fábio Luciano em alguns jogos, e ao Japão, com Dudu Cearense fazendo a estreia (e mais nada) no time principal quando estava no Kashiwa Reysol.

Depois do fracasso na Alemanha, então, Dunga abriu os horizontes. Chamou jogadores da Rússia (Dudu Cearense, Daniel Carvalho e Vagner Love, do CSKA) e da Ucrânia (Elano, do Shakhtar) quando esses mercados ainda não tinham espaço na Liga dos Campeões e foi seguido por quase todos seus sucessores. O currículo do hoje técnico pode explicar essa ausência de preconceito.

Hoje ninguém discute a carreira do ex-volante, capitão do tetra e um marco na seleção brasileira. Em clubes, porém, Dunga só vestiu a camisa de gigantes quando esteve no Brasil. Fora do país, passou por Pisa, Fiorentina, Pescara, Stuttgart e Jubilo Iwata e ganhou, no máximo, dois Japoneses. Até por isso, vê vantagens em atuar em um mercado inexplorado.

“Sem dúvida eles não têm a malícia que o sul-americano tem. Mas para quem é jogador, a pior coisa é jogar com quem não tem essa experiência. No futebol tem movimentos que são automáticos. O jogador vai até a linha de fundo e você sabe que ele vai cruzar. Quem é desses lugares não. Eles erram as coisas mais fáceis e acertam a mais difícil”, disse Dunga na última segunda, ao ser questionado sobre o assunto.