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Sem querer, Diego Costa "ressuscita" Barcelona brasileiro com só R$ 300 mil

Patrick Mesquita e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

06/03/2015 06h00

R$ 123 milhões. Este foi o valor pago pelo Chelsea para tirar Diego Costa do Atlético de Madri em maio de 2014. Se os espanhóis tiveram motivos para vibrar com a saúde financeira e a restruturação do elenco, teve time no Brasil que comemorou muito mais. Clube formador do atacante, o Barcelona Esportivo da Capela, de São Paulo, voltou às atividades profissionais graças ao aporte financeiro recebido com a transação.

O até então conhecido como Barcelona de Ibiúna estava longe das competições profissionais há seis anos, devido a problemas internos. O retorno já era estudado há algum tempo, mas ganhou força com a quantia de quase R$ 300 mil que a equipe ganhou de direito por ter sido a primeira a ter um contrato profissional com o centroavante naturalizado espanhol.

Além da ajuda do “filho prodígio”, o retorno do time conta com o apoio do fundador, dono e presidente, Paulo Sérgio Moura, e outros patrocinadores. O empresário admite que o dinheiro da venda de Diego Costa foi importante para a volta, já que pode pagar as contas por quase seis meses e o valor da ajuda da FPF é de apenas R$ 30 mil por ano. No entanto, ele nega que a ida do centroavante para Chelsea tenha sido essencial no orçamento.

“Já era um projeto de voltar recebendo ou não. Tem que trabalhar com os pés no chão. Estamos fechando dois patrocínios, não é um valor exorbitante, mas nos qualifica viajar um dia antes dos jogos com alimentação e tudo”, destaca em entrevista ao UOL Esporte.

“Tudo depende muito do trabalho que você quer fazer. Hoje, para você fazer um trabalho intermediário, gasta brincando R$ 50 mil por mês. Nesta divisão que nós estamos, vamos dizer que esse dinheiro dá para seis meses”, aumentou.

Os frutos por ter revelado um dos maiores atacantes da atualidade são tantos que o presidente do Barcelona não descarta a chance de utilizar o nome de Diego Costa em atividades relacionadas ao marketing.

“É inevitável associar o Diego ao Barcelona, não tem como não explorar esta ideia. Antes da Copa do Mundo, dei várias entrevistas para televisões estrangeiras e as crianças foram ao delírio. Então isso serve como uma motivação para essa criançada. Agora, se der para usar o nome dele para alguma coisa rentável, vai ser uma maravilha. Só que as pessoas tem que dar o primeiro passo pelo coração. Eu não tenho autorização por escrito para usar o nome dele, mas tenho a verbal. Ele cansou de falar: ‘Olha comecei no Barcelona’. Fala de mim, do professor Jabá, que o descobriu. Só se virar muito a cabeça dele”, analisa.

Só que se engana que a relação entre o clube paulista e o astro do Chelsea é apenas financeira. Basta falar em Diego Costa para Paulo Sérgio Moura se encher de orgulho. Apesar de não falar com o jogador desde a Copa do Mundo, o empresário comenta com muito carinho sobre a amizade que mantém com o ídolo.

“Agora no Chelsea liga pouco, mas na época do Atlético de Madri eu falava sempre com ele. Nunca negou, nunca se omitiu, para ele foi uma honra trabalhar aqui. Tem contato comigo, tem respeito, consideração. Uma vez ele me confidenciou: ‘Poxa, quando eu parar de jogar, vou ajudar aí’. Tomara que faça isso, mas não é algo que ele deva se prender, não é algo que o Diego tem obrigação”, conta.

Agora financeiramente pronto para uma nova empreitada e com sede no bairro Capela do Socorro, zona sul de São Paulo, o “Barça-SP” se prepara para a estreia na Segunda Divisão do Campeonato Paulista. A partida acontece no dia 19 de abril, contra o Inter de Bebedouro.

Brincadeira que virou clube

O clube teve origem na várzea, no início dos anos 2000. Nascido em Interlagos, zona sul de São Paulo, o time começou como uma brincadeira bem modesta, tanto que o nome nem veio em homenagem ao gigantesco xará catalão. O início aconteceu em um campo antigo que já era conhecido como Barcelona. Como a equipe utilizava o local para treinos, logo foi batizada com o mesmo apelido.

O que era diversão começou a ficar mais sério pouco tempo depois. O time passou a fazer um trabalho social com as crianças do bairro, com uma escolinha. Rapidamente surgiram alguns jovens de talento e que mais tarde se tornariam profissionais de sucesso, caso de Pará (lateral do Flamengo), Renato Abreu (meia que jogou no Flamengo e no Corinthians) e Ralf (volante do Corinthians).

“O Barcelona da Espanha não era nem top como é hoje. Fazíamos isso de forma graciosa nunca cobramos nada de ninguém, um trabalho social mesmo. Quando surgiram Ralf, Pará e Renato Abreu, nós revelávamos jogadores e saímos distribuindo para clubes. Tudo sem ganhar nada, nunca ganhei um centavo por isso”, conta Paulo Sérgio Moura.

Em 2004 veio o profissionalismo. Nascido como clube empresa, o “Barça-SP” disputou a extinta Série B2 do Paulistão. Além de amargar maus resultados nos primeiros anos, o time enfrentou uma série de problemas burocráticos e teve até mesmo que mudar de cidade. O local escolhido foi a cidade Ibiúna, no interior paulista, o que deu início ao Barcelona Esportivo da Capela, de Ibiúna.

“A FPF, baseada no estatuto do torcedor, tem uma obrigatoriedade de forçar as equipes a terem um estádio próprio, com capacidade mínima para cinco mil pessoas na localidade aonde o clube é sede. Nós não temos estádio próprio até hoje, tanto é que nós vamos mandar os nossos jogos no estádio do Nacional, e não tínhamos na época a possibilidade de locar em nenhum lugar estavam comprometidos.  Então, fomos para Ibiúna”, lembra o presidente.

Pouco tempo depois veio a crise. O último ano nas competições profissionais foi o de 2009, quando novamente teve uma campanha fraca. Em 2011 e 2012, a situação se agravou ainda mais e o time jogou apenas nas categorias de base. Desde então, o clube esperava a chance de voltar, o que vai acontecer com a ajuda involuntária de Diego Costa.