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Com ações bloqueadas, Fonte Nova quer cortar custos no contrato com Bahia

André Uzêda

Do UOL, em Salvador (Bahia)

11/03/2015 13h11

Após a Justiça de São Paulo determinar o bloqueio das ações da empreiteira OAS sobre o consórcio Arena Fonte Nova, que opera o estádio baiano da Copa de 2014 , a empresa administradora busca "minimizar custos" para viabilizar a operação do equipamento.

Na avaliação do consórcio, o passo a ser dado agora é redefinir um contrato com seu principal cliente: o Esporte Clube Bahia.

Assinado em 2012, o convênio entre clube e consórcio vence no fim deste mês. No novo acordo jurídico que está sendo formulado a Arena quer reduzir o pagamento anual que oferece ao clube, hoje calculado em R$ 9 milhões.

O Bahia, entretanto, tem resistido em aceitar a oferta em valores menores.

No entendimento da empresa, desde que o contrato passou a vigorar, o Bahia não conseguiu manter uma constante de alto público, gerando despesas recorrentes à administradora.

Neste ano, por exemplo, em quatro jogos disputados na arena, somando todos os públicos, o Bahia só conseguiu levar 30.170 pagantes aos seus jogos.

Isto corresponde a 60% da lotação do estádio em uma única partida -- uma vez que o equipamento possui espaço para 50 mil pessoas.

Para forçar o acordo aos seus moldes a Arena Fonte Nova tem duas cartas na manga. A primeira é o fato do Bahia não possuir estádio próprio. E a segunda, e mais contundente, é a cláusula 12.3 do contrato de Parceria Público Privado (PPP) assinada entre consórcio e governo do estado.

Esta cláusula versa que, para dar viabilidade a Arena Fonte Nova, o governo da Bahia impedirá realizações de jogos oficiais no Estádio de Pituaçu, salvo com permissão da Arena.

Ou seja, dentro de Salvador o Bahia não tem estádio público onde atuar. Restando aceitar os termos da Arena ou jogar fora da capital baiana. Há ainda uma terceria via -- bem improvável --, que seria tentar um acordo para atuar no Barradão, estádio privado do arquirrival Vitória.

Contactado pela reportagem, o presidente do Bahia, Marcelo Sant'Ana, não foi encontrado para falar sobre o assunto.

DEMISSÕES E CORTES

O consórcio Fonte Nova admite que está diminuindo gastos e enxugando a folha de funcionários, porém, nega que haja relação entre estas ações e o arresto de bens promovido pela Justiça.

Em nota, o consórcio diz opera "dentro da absoluta normalidade" e "sem nenhuma interferência das questões relacionadas aos seus acionistas".  E atribue os desligamentos e redução de custos ao "atual cenário econômico" do país.

Além da redução no contrato com o Bahia, a Arena tem diminuído outros custos nos dias de jogos para desonerar a receita.

Por exemplo, os refletores estão sendo desligados mais cedo após o término da partida. Da mesma forma que tem se buscado economia como a luz solar artifical que fica sobre o gramado para melhorar seu desempenho.

DIFICULDADE FINANCEIRA

O consórcio Arena Fonte Nova é formado pelas empreiteiras baianas OAS e Odebrecht, ambas investigadas na Operação Lava-Jato da Polícia Federal.

Em dificuldade financeira e com executivos presos pela PF, a OAS pediu um
empréstimo de R$ 50 milhões ao Banco Caixa Geral - Brasil S.A, mas não conseguiu pagar os juros das dívidas nos primeiros meses, conforme acertado em contrato.

Como garantia, o banco pediu arresto das ações da OAS sobre a Fonte Nova, o que foi acatado pela Justiça.

A OAS possui 49,6% das ações da Arena Fonte Nova Participações, além de manter a presidência do conselho da empresa. A presidência geral está sob o comando da Odebrecht, hoje é representada pelo atual mandatário Marcos Lessa.