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Da favela à Europa: ex-Fla tem ganês como aliado para vencer na Itália

Caio Rangel (d) conta com a família em período de adaptação ao futebol italiano - Reprodução/ Instagram
Caio Rangel (d) conta com a família em período de adaptação ao futebol italiano Imagem: Reprodução/ Instagram

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/03/2015 06h10

Caio Rangel era considerado uma das principais promessas da base do Flamengo até ser vendido em julho do ano passado para o Cagliari-ITA. Oriundo do Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, o jovem driblou o tráfico de drogas da região para realizar o sonho de ajudar a família através do futebol. Mas atuar na Itália colocou outras barreiras no caminho do atacante. Aos 19 anos, ele ainda transparece uma ponta de frustração por não ter se profissionalizado no clube de coração.

A vida seguiu e novos desafios apareceram. Na Europa, Rangel passou dois meses longe da família e sem falar uma palavra sequer em italiano. A solidão o minou até a chegada dos pais, Roberto e Adenilda, da irmã Karoline, e da namorada Daniella. O técnico Zeman foi o responsável por indicá-lo e um projeto de carreira desenvolvido entre os dirigentes italianos e o empresário Marcelo Bastos.

No meio do caminho, o comandante foi substituído pelo italiano Zola. Caio teve pouco espaço e o Cagliari pensou em emprestá-lo para clubes da 2ª divisão. Porém, a demissão de Zola para o retorno de Zeman nos últimos dias funcionou como o combustível que faltava. Em meio ao “abandono” e saudade de casa, o brasileiro também contou com a amizade do meia ganês Donsah para insistir no sonho de construir uma carreira sólida.

“A mudança de treinador foi uma turbulência enorme. O Zeman assistiu aos meus vídeos e entrei em sete partidas com ele. Estava pegando ritmo de jogo e ficou difícil com o Zola. Ainda existiam os problemas de adaptação. Não sabia conversar. Ficava olhando para aquele ganês [Donsah] na concentração e não saía nada. Aprendi bastante coisa do idioma e viramos amigos. Ele foi um cara importante nos momentos complicados. Também conheci alguns brasileiros na cidade. Essas coisas melhoram o clima, pois na chegada você se sente isolado em outro país”, afirmou.

Caio Rangel foi relacionado para 20 partidas. Atuou cinco vezes pelo Campeonato Italiano e em outras duas oportunidades pela Copa Itália. Os dribles e a velocidade foram vistos, mas ainda longe do que imagina render. Agora, o atacante se prepara para ficar mais um período separado dos familiares, já que pai, mãe e namorada retornam ao Brasil por esgotarem o prazo de permanência no país.

“Vai dar para levar. Já consigo me virar sozinho em muitas coisas. Acho que o pior passou. Minha família deu o suporte na hora em que tudo poderia dar errado. Vou caminhar com as próprias pernas e aguardar o retorno deles”, disse.

Caio Rangel e Godfred Donsah - Reprodução Instagram - Reprodução Instagram
Caio Rangel (d) com o meia ganês Godfred Donsah: amizade na adaptação ao Cagliari
Imagem: Reprodução Instagram

O empresário Marcelo Bastos usou a comparação com outros jogadores brasileiros para abordar as dificuldades do menino do Complexo do Alemão na Itália.

“A filosofia de jogo é muito diferente. A prioridade é a defesa. O futebol italiano talvez seja o mais tático da Europa. A primeira temporada do Lucas no Paris Saint-Germain foi assim. São dificuldades naturais. É um amadurecimento necessário. O Caio é um atacante que deseja mostrar cada vez mais qualidade. É como se estivesse reaprendendo a jogar”, explicou.

Caio Rangel aguarda a esperada sequência de jogos na Itália enquanto transborda otimismo. A ponta de frustração só aparece ao falar do Flamengo, que o vendeu quando teve a oportunidade. Os mais de dez anos no clube não foram esquecidos de uma hora para outra, tampouco o sonho de jogar no Maracanã.

“O meu sonho era a profissionalização no Flamengo. Vejo amigos jogando no Maracanã e sei que preciso esperar por isso. Infelizmente, não chegamos ao acordo. O Cagliari abriu portas, mas não guardo mágoas. Conheci pessoas boas no clube. Tenho um projeto de vida e quero o melhor para a minha família. Torço por todos no Flamengo e sempre assisto aos jogos. Enquanto isso, busco o meu espaço aqui na Itália”, encerrou.