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Hulk da Série B apanhou de graça por causa do Palmeiras e guarda mágoa

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

16/03/2015 06h00

O ano de 2003 foi marcante para o Palmeiras. Por um lado, a tristeza de disputar uma Segunda Divisão do Brasileirão. Por outro, uma apoio em massa da torcida, lotando estádios. No meio disso tudo, um homem se destacou: Mauricio Bonatti. O nome não fez fama, mas o apelido e a imagem dele entrando como o super-herói Hulk, fortão, todo pintado de verde e de camiseta rasgada, ainda são lembrados pelos palmeirenses. 12 anos depois, sobraram a tinta verde, o orgulho e as lembranças do que viveu, além de uma amargura com a diretoria do clube.

O musculoso Mauricio Bonatti trabalhou no Gigantes do Ringue, fazendo lutas de telequete, e é ator do SBT, participando da "Praça é Nossa". Mas nada supera o que viveu em sua paixão por futebol. Filho de italianos, herdou a torcida pelo Palmeiras da família e, em 2003, se viu no meio de uma ideia para empolgar os torcedores na Segundona.

"Eu trabalhava com o Michel Serdan, e o filho dele, Paulo, era presidente da Mancha Verde. O Palmeiras estava f..., aquela situação horrível, e eles acharam que eu me vestir de Hulk para entrar com os jogadores daria um ânimo para eles. Era só molecada na época", lembra Maurício.

Algo que ajudou foi o fato de o filme "O Hulk" ser lançado no mesmo ano, então a febre no gigante era grande. Maurício acompanhou a chegada da película, e se empolgou. Fez uma vaquinha para comprar uma peruca, juntando R$ 200 e complementando o custo com mais R$ 60 do bolso. Comprou ainda lentes de contato brancas, arranjou tinta verde - seu único "patrocínio" -, comprou diversas camisetas brancas para poder rasgar e vários pares de calças jeans.

A Mancha Verde fez o contato com a diretoria do Palmeiras, permitiu sua entrada com os jogadores, e estava criado o "monstro".

"Comecei a entrar em campo com os jogadores e o time não perdeu mais nenhum jogo. Subia a bandeira de um lado e eu aparecia de Hulk do outro. Virei um talismã. Essa época ninguém apaga da minha vida", diz Maurício.

A performance do Hulk palmeirense ficou famosa entre os torcedores. Para onde o time ia, ele ia atrás. Chegando ao extremo de viajar a Garanhuns, para a partida contra o Sport que deu o título e o acesso à Primeira Divisão ao Palmeiras.

Acompanhar a virada e a vitória de 2 a 1 foi a maior aventura do palmeirense/mascote. "Apanhei dos polícias fora do estádio. O Magrão me colocou para dentro e acharam que eu estava invadindo. Eu, de verde, fui jogado no meio da torcida do Sport. Ali foi um milagre não terem me linchado", relembra.

Segundo Maurício, nada era bancado pelo Palmeiras. Ele precisava garantir ingresso para entrar no estádio - a maioria das vezes isso ficava a cargo da Mancha. Tinha ainda de pedir permissão para o Batalhão de Choque para entrar com o corpo e o rosto pintados. A viagem a Pernambuco foi paga por um amigo, piloto de avião, mas ele acabou ficando no mesmo hotel dos jogadores do Sport. "E para sair do hotel pintado de Hulk? Teve que vir escolta! Olha a situação...".

Apesar do calor da torcida, de fazer parte dos momentos marcantes do seu time e de ir até a festas com jogadores, Maurício conta que parte da experiência o marcou negativamente.

"Fiquei triste no último jogo que fiz. Quando o Palmeiras fazia um gol, todo mundo gritava 'Hulk, Hulk'. Mas deu dois minutos e veio um telefonema do Mustafá (Contursi, ex-presidente do clube), pedindo que eu não subisse na marquise, que tirava o brilho dos jogadores. Então, quando precisava desviar o foco, eles me usavam, mas depois não davam mais atenção", reclama o ator.

"Não tive reconhecimento do trabalho. Nunca quis reconhecimento financeiro. Mas os caras do Palmeiras estão cagando e andando, nunca me ligaram para oferecer uma carteirinha, nem para conhecer o estádio novo", completou ele, para concluir. "Hoje eu não me fantasiaria de novo de Hulk para ir a um jogo. Talvez ir com rosto pintado sim, mas pintar todo o corpo inteiro, nunca mais."

Maurício Bonatti ainda chegou a se vestir como o super-herói verde algumas vezes em "A Praça é Nossa" e repetiu a fantasia em aniversários de amigos palmeirenses. Hoje, ainda guarda o que restou da tinta verde do "Incrível" Hulk em casa. É o que sobrou, junto às lembranças da época mais maluca de sua vida.

Veja Maurício em ação em A Praça é Nossa