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Corinthians e CBF indenizam torcedores que viram jogo em pé no Pacaembu

"A superlotação dos estádios privilegia o interesse econômico em detrimento da segurança", disse a Justiça - Augusto Zaupa/UOL
"A superlotação dos estádios privilegia o interesse econômico em detrimento da segurança", disse a Justiça Imagem: Augusto Zaupa/UOL

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

19/03/2015 06h00

O Corinthians e a CBF foram condenados pela Justiça a pagar uma indenização no valor de dez salários mínimos (R$ 7.880), com juros e correção monetária, a um grupo de dez torcedores que foi obrigado a assistir de pé a uma partida do Campeonato Brasileiro de 2005. A decisão judicial foi proferida em maio de 2013, mas o caso só foi encerrado agora após um acordo entre os réus e os torcedores sobre o valor final da indenização.

O caso começou no dia 20 de novembro de 2005, quando dez torcedores compraram ingressos para o setor de cadeiras numeradas cobertas no estádio do Pacaembu para assistir à partida entre Corinthians e Internacional, válida pela Campeonato Brasileiro daquele ano.
O estádio estava lotado, e os torcedores não conseguiram fazer uso dos lugares marcados em suas entradas. Tiveram que assistir ao jogo de pé, colados ao alambrado, segundo narraram nos autos judiciais. Também anexaram ao processo notícias de jornal da época, que mostravam que haviam sido vendidos ingressos com numerações duplicadas, o que causou a revolta de muitos espectadores.

Por causa disso, decidiram entrar na Justiça pedindo reparação por danos materiais e morais, baseados no Código de Defesa do Consumidor, alegando que existiu falha na prestação do serviço. Corinthians e CBF, por sua vez, disseram que os torcedores tinham assistido à partida para qual haviam comprado os ingressos, e que não tinham responsabilidade sobre a duplicidade, tendo sido este problema causado por uma outra empresa, que confeccionou as entradas.

A Justiça, então, demorou quase seis anos para proferir sua decisão em primeira instância. Em abril de 2011, o juiz José da Ponte Neto decidiu que cabia reparação por danos materiais, mas não por danos morais. Segundo o magistrado, quem vai ao estádio ou a qualquer evento de massa sabe que está sujeito a enfrentar multidões e incovenientes.

Ele decidiu, então, que, após os quase seis anos, Corinthians e CBF deveriam devolver os R$ 30 que custaram cada ingresso aos torcedores, sem correção monetária. O clube e a entidade não se opuseram à sentença. Já os torcedores não ficaram satisfeitos, e entraram com recurso para que o caso fosse julgado pelos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo.

A Justiça paulista, então, levou mais quase dois anos para julgar o caso novamente. Em maio de 2013, foi proferido o acórdão reformando a sentença inicial. Nele, os desembargadores explicam seus motivos para fazê-lo, criticando a decisão do juiz de primeira instância:

"A se admitir a parcimônia do sentenciante (juiz de primeira instância), quiçá valesse a pena pagar esse tipo de indenização, desprezado o dano moral, superlotando os estádios e pagando o singelo preço de ingresso, à data do fato, nada obstante a venda seja de lugares numerados.

Assim, o torcedor que se abala à frequência aos estádios com uma série de desconfortos (estacionamento, superlotação, flanelinhas, furtos, assaltos, violência), ao pretender um mínimo que é assistir à peleja, sentado, em local previamente designado, nada representa, em termos de consumo.

Por outro lado, a superlotação de estádios em partidas de futebol, prática comum dos clubes e entidades organizadoras das partidas e competições nacionais, privilegia o interesse econômico em detrimento da segurança de todos os que ali se encontram, seja para apreciar a partida ou mesmo trabalhar.
"

Com este raciocínio, os desembargadores sentenciaram o Corinthians e a CBF ao pagamento de uma indenização total, com as correções, de pouco mais de R$ 20 mil para cada torcedor.

A partir daí, os réus passaram a discutir os cálculos para o valor final das indenizações. O caso seguiu arrastado até o começo deste mês, quando os torcedores aceitaram um acordo com o Corinthians e com a CBF, e receberam um montante que julgaram satisfatório diante das circunstâncias.