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Treinos que valem vitórias. Veja como Tite e Corinthians ganham na véspera

Treinamentos e uso de dados são fatores fundamentais no trabalho de Tite - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Treinamentos e uso de dados são fatores fundamentais no trabalho de Tite Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

25/03/2015 13h37

Tite odeia a palavra sorte.

É como se transferir o sucesso para o acaso diminuísse o mérito de trabalho de toda sua comissão. O treinador do Corinthians, invicto com titulares e reservas nos três primeiros meses de seu retorno ao clube, adora a palavra trabalho. Gosta e coloca em prática.

Com dois gols de Malcom, a vitória por 2 a 0 sobre a Portuguesa na terça-feira foi mais um jogo que confirmou a ideia que o treinador já tinha muito clara. E que foi fortalecida em seu contato com Carlo Ancelotti no Real Madrid. A ideia é de que o que ocorre em campo é o retrato fiel do que ocorreu na véspera. O jovem Malcom, 18 anos, é exemplo disso.

Nos treinamentos do Corinthians em 2015, Tite tem sido insistente: "entra na área, entra na área", gritou, por exemplo, em atividade na última sexta-feira. Ele quer que Malcom, quando do lado oposto em que a jogada se inicia no ataque, entre na área. Foi assim que ele fez dois dos três gols que tem pelo Campeonato Paulista. Os treinos de finalização que ocorrem sempre isoladamente depois de cada atividade também ajudaram.

Foi por acreditar nesse ideal que Tite aboliu o treinamento de rachão do Corinthians. Realizada normalmente aos sábados, a atividade recreativa com jogadores misturados e goleiros na linha não ocorre mais, no que é quase uma quebra de paradigma. Quase todos os treinos começam com uma roda de bobinho que dura 10 minutos. Depois, como o treinador diz, "é pau dentro". Não por acaso, quando ele fez sua reestreia no fim de janeiro, após quatro semanas de trabalho, já parecia integrado há anos.

A impressão no Corinthians é como se Tite possuísse o dom da premonição: o que prepara no treino ocorre no jogo. É assim com as bolas aéreas que executa e que renderam gol de Felipe contra o Danubio. É assim na bola cruzada pelo fundo, em ponto específico da área, de onde Danilo finalizou para o gol que deu vitória no clássico com o São Paulo. O treinador chama esse setor da área de "funil".

Na entrevista coletiva depois de vencer a Portuguesa, aliás, Tite demonstrou pelo menos uma faceta importante nesse contexto de seu trabalho: não duvida da capacidade de seus jogadores entenderem suas instruções, que eventualmente podem parecer prolixas para quem não vive o futebol por dentro. "Entra no funil", disse a Bruno Henrique em determinado lance. Um repórter questionou se ele, de fato, acreditava que seria compreendido. "Vocês desprezam a capacidade dos atletas. Quem sabe mais do jogo é o atleta", respondeu, educadamente.

Esse tipo de confiança tem a ver com a gestão de grupo, ponto forte do trabalho de Tite, mas também com o que ele acredita: usar dados estatísticos é um diferencial. Por isso, antes de treinamentos, costuma conversar individualmente com atletas. Mostra, com números e imagens e da forma mais objetiva possível, o que deve ser aprimorado. Esse, muitas vezes, ainda é um tabu para treinadores brasileiros.

Essa foi também uma ideia que Tite fortaleceu após acompanhar cinco treinamentos do Real Madrid, dois jogos, almoçar, jantar e trocar mensagens pelo WhatsApp com Carlo Ancelotti. Assim como a forma de compactar a equipe ou, principalmente, fazer seu time abrir mais a defesa adversária. Ou alargar o campo, como ele diz, e aconteceu no gol de Malcom contra a Portuguesa.

Não é por acaso, mesmo, que o Corinthians tem a melhor campanha do Paulista ao lado do Santos e 100% na fase de grupos Copa Libertadores. Sem perder, seja com titulares ou reservas.