O Barça não joga mais para Xavi. E é por isso que ele vai ao Qatar

O Barcelona se notabilizou por ter cultivado um estilo de jogo ao longo de décadas. Semente que foi plantada pelo holandês Rinus Michels, na década 70, e cultivada pelo compatriota Johan Cruyff, entre o fim dos anos 80 e o início dos 90. Deste processo colheu-se Xavi Hernández, o maior dos frutos do clube, pronto para jogar o estilo de jogo que seria lapidado por Pep Guardiola. Hoje, o Barcelona que parece cada vez mais distante deste caminho joga um futebol que pouco parece com aquele que ficou conhecido. Neste, Xavi não cabe.

Xavi, aos 35 anos, vai jogar no Qatar. Neste sábado o Al-Sadd, clube no qual até pouco tempo jogava o atacante Raúl – outro ídolo espanhol, este do Real Madrid –, divulgou de forma atrapalhada que o meio-campista do Barcelona se encontrou em Doha com a diretoria do clube. Um funcionário do clube declarou em uma rede social que o contrato foi assinado e ainda postou uma foto do encontro com o espanhol. Em pouco tempo, a imagem foi apagada e o Al Sadd emitiu um comunicado no qual afirmava ainda estar em negociação.

Nesta temporada 2014-2015, Xavi é reserva do Barcelona. É claro que a idade o afeta. Apesar de nunca ter precisado de atributos físicos para praticar seu estilo de jogo – de muito comando e extrema precisão técnica –, hoje a idade o impede de treinar na mesma intensidade e também de disputar espaço no campo com a mesma eficiência.

O fato mais importante, porém, é que o Barcelona joga um futebol cada vez mais diferente daquele para o qual Xavi foi desenvolvido, e no qual Xavi reinou. O Barça atual é líder do Campeonato Espanhol, disputa as quartas de final da Liga dos Campeões, mas pratica um futebol irreconhecível se comparado àquele cultivado nas últimas décadas. Tem muito pouco de Guardiola e quase nada de Cruyff. Neste estilo, nem o Xavi de 27 anos de idade caberia.

Xavi foi titular absoluto da seleção espanhola antes de ser titular absoluto do Barcelona, clube no qual foi revelado. Antes de Guardiola assumir, o Barça chegou a flertar com uma mudança de estilo. Não houve espaço para Xavi, que foi reserva do holandês Mark Van Bommel e do luso-brasileiro Deco.

É o mesmo que acontece agora. O time de Luis Enrique não tem lugar para Andrés Iniesta e Xavi, dois criadores e eternos parceiros, no mesmo time titular. O primeiro volante deixou de ser um ponto de partida, mais um criador, para voltar a ser de fato um primeiro volante. O segundo volante, que era Xavi, passou a ser o croata Ivan Rakitic. Prefere-se, hoje, um jogador de dinâmica e não de passe de bola. Como era no caso de Van Bommel.