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Marcelinho pede sucessor 20 anos após gol de falta épico contra o Palmeiras

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

02/04/2015 06h00

A cena se repetiu 51 vezes entre 1994 e 2001: Marcelinho Carioca ajeitava a bola ajoelhado no gramado e, segundos depois, após um chute perfeito, comemorava mais um gol de falta pelo Corinthians. Há exatos 20 anos, contra o Palmeiras, o ex-camisa 7 do time alvinegro começou a mostrar o seu talento à torcida e aos adversários.

Na ocasião, Marcelinho acertou um chute da intermediária e empatou o jogo válido pelo Campeonato Paulista. O craque ainda faria o gol da vitória por 2 a 1 no final da partida disputada no dia 2 de abril de 1995, no Pacaembu. Naquele ano, ele ainda marcaria mais dois importantes gols de falta: contra o próprio Palmeiras, na final do Paulistão, e diante do Grêmio, na decisão da Copa do Brasil.

Ao UOL Esporte, Marcelinho relembra os passos trilhados até se tornar uma referência nas cobranças de falta. Fã de Zico, Éder e Nelinho na juventude, o ex-meia vê, hoje, cinco anos depois de se aposentar, poucos talentos no futebol brasileiro. Para ele, Rogério Ceni está à frente, mas Jadson, que marcou um gol de falta na vitória do Corinthians sobre o Danubio nesta quarta-feira, pode se tornar um especialista na função caso faça um treinamento específico.

UOL Esporte: O gol contra o Palmeiras marcado há 20 anos foi um dos mais importantes da sua carreira?

Marcelinho: Sim, porque foi meu primeiro gol contra o Palmeiras. Em 1994, eu marquei gol em todo mundo, no Santos, no São Paulo, mas não fiz no Palmeiras. Aquele de falta em Ribeirão Preto (na final do Campeonato Paulista) também foi importante. Foram dois gols decisivos. Contra o Grêmio, na final da Copa do Brasil de 1995, eu inverti e o Danrlei ficou sem ação. Aquele gol fez o Corinthians ir com a vantagem para o sul.

Quando o goleiro Velloso pediu para tirar a barreira, o que você pensou em fazer?

Eu tentei acertar o gol, de três dedos. Lembro que o Roberto Carlos passou a mão no meu rosto e falou que dali só ele marcava. Mas ele só brincou, tentou tirar minha concentração. Quando eu fiz o gol, ele ficou surpreso.

Você ficou muito emocionado depois do gol. Por quê?

Naquele jogo eu errei o passe antes do gol do Roberto Carlos. A torcida, no intervalo, foi para cima do meu pai na arquibancada. Depois que marquei o gol, fui até a bandeira de escanteio e tirei todo peso que estava nas minhas costas. Daquele jogo e de não ter marcado ainda contra o Palmeiras. Eu abracei o Ronaldo depois do segundo gol porque eu fiquei dez minutos trancado no banheiro durante o intervalo. E ele foi o único que foi lá perguntar o que estava acontecendo. A torcida do Corinthians cobra gols contra o Palmeiras. Tanto que depois eles me perdoaram o erro do pênalti em 2000 (na semifinal da Libertadores). Por causa do histórico, de tudo que fizemos, os títulos, os gols em cima deles. Senão eu estava morto. Tudo que o Velloso sofreu, o Marcos teve de compensar.

Como era o treinamento da bola parada?

Quando eu tinha a semana livre, eu treinava duas vezes, umas 100 faltas por dia. Quando tinha jogo no meio da semana, eu treinava uma vez só, na sexta-feira.Treinava próximo à área e de longa distância. E escanteio também. Eu testava e via como a bola obedecia, se era três dedos, alavanca, de rosca. Fiz do meu pé um "joystick". Eu comecei a fazer isso e deu certo. O Ronaldo, o Macarrão (Wilson) e o Ricardo Pinto ficavam no gol. Eu pendurava um colete (na trave, para acertar o ângulo). Na época do Flamengo eu colocava argola, porque o Zico treinava assim. Tive a felicidade de, aos 16 anos, treinar do lado dele.

Em qual jogador você se espelhou?

O Zico foi a minha maior inspiração. Eu pegava fita de vídeo para assistir e via o Éder e o Nelinho também, que batiam de longa distância, de três dedos. O Branco também fazia muito isso também.

Quando o Branco foi para o Corinthians em 1994 houve disputa entre vocês?

Não, de longa distância era com ele. Eu perguntava para ele: 'Branco, como você chuta?'. E ele falava: 'pô, justo você me perguntando?'. Eu dizia que queria aprender, pois já tinha aprendido com o Zico. Na semifinal do Brasileiro de 1994, contra o Atlético-MG, eu conversei com o Éder também.

O futebol brasileiro tem um grande cobrador de faltas?

O talento está escasso. Na seleção, o Neymar tem de levar sozinho. Antigamente tinha o Djalminha, o Petkovic, o Giovanni. A disputa era violenta. De um tempo para cá só apareceu o Neymar. Não tem um exímio batedor de falta hoje. pois não basta só treinamento. O treinamento é bom porque você se torna um especialista. Aprende o peso da bola, o posicionamento do corpo, o pé de apoio. Mas tem de nascer com o dom, com talento. Hoje também ninguém arrisca mais. Só tem jogada ensaiada. Contra o Vasco, em 1998, arrisquei do meio da rua e fiz o gol. A bola pegou uma curva e enganou o goleiro.

Qual é melhor hoje no Brasil?

O Rogério está na frente de vários jogadores. Não tirando os méritos dele, pois ele é um cara brilhante. Mas é duro para um goleiro sair do gol para bater falta e pênalti. O Jadson, se ficar umas horinhas a mais depois do treino, pode virar um especialista. Ele tem muita qualidade técnica.