Topo

Mourinho: "Tenho um problema. Estou ficando melhor e evoluindo em tudo"

Alastair Grant / AP
Imagem: Alastair Grant / AP

Do UOL, em São Paulo

09/04/2015 11h38

Falsa modéstia não é com José Mourinho. Em entrevista ao jornal Daily Telegraph, o treinador falou sobre sua carreira, analisou seu atual status de um dos principais técnicos do futebol mundial e não se intimidou em rasgar elogios a si mesmo.

“Tenho um problema, que é estar ficando melhor em tudo relacionado ao meu trabalho desde que comecei. Tenho evoluído em diferentes áreas, na maneira como vejo o jogo, na forma como me preparo para a partida, do jeito que eu treino, na metodologia. Me sinto melhor e melhor. Mas há uma coisa que nunca muda: quando encontro a imprensa, nunca sou hipócrita”, afirmou o técnico do Chelsea.

Mourinho contou que mantém sempre a mesma rotina de trabalho no Chelsea. Chega no clube por volta das 7h30, vai a seu escritório e tranca a porta, permanecendo isolado no local por cerca de duas horas. Só então encontra o restante da comissão técnica e participa dos treinamentos dos atletas.

“Preciso do meu tempo para ficar sozinho. No futebol, não sou muito velho. Com 52, tenho 20 anos como técnico. Mas me sinto como uma ‘raposa velha’. Nada me assusta, nada me preocupa muito. É como se nada pudesse acontecer comigo. Sou muito, muito estável em controlar essas emoções, mas preciso do meu tempo para pensar. Não acordo no meio da noite preocupado com a lesão de alguém ou com a tática para esta partida. Mas preciso refletir, tentar antecipar problemas. Preciso do meu tempo”, contou.

Durante a entrevista, Mourinho mostrou-se preocupado com o que considera um processo de individualização do futebol mundial. Inclusive, concordou com as críticas do técnico do Arsenal – e seu desafeto – Arsene Wenger sobre a importância da Bola de Ouro.

“Acredito que Wenger disse algo interessante. Ele é contra a Bola de Ouro. E acho que está certo, porque neste momento o futebol está perdendo um pouco o conceito de time para focar mais no individual. Estamos sempre procurando a performance individual, a estatística individual, o jogador que corre mais. Se você corre 11 km em um jogo e eu corro 9, fez um trabalho melhor que o meu? Talvez não! Talvez meus 9 km sejam mais importantes que os seus 11 km”, opinou.

Mourinho ainda falou sobre a dificuldade de trabalhar com jovens jogadores. O treinador afirmou que muitos deles ficam deslumbrados com os altos salários recebidos e acabam se perdendo pelo caminho.

“Antes os jogadores vinham para o futebol esperando estar saudáveis [financeiramente] quando se aposentassem. Agora esperam estar saudáveis após jogarem sua primeira partida”, afirmou. “Tive um jogador, que não direi o nome, e dei a ele a chance de jogar como titular. Algumas semanas depois dele jogar, seu pai deixou o trabalho, sua mãe deixou o trabalho. Eles estavam vivendo com ele, vivendo a vida dele, tomando decisões por ele. Isso é muito difícil”.

O estilo confiante, muitas vezes considerado arrogante, faz com que Mourinho colecione desafetos no futebol europeu e seja criticado pela imprensa internacional. O treinador, porém, disse que se considera ‘um cara legal’, especialmente fora do futebol.

“Eu acredito que sim, tento ser. Não tenho problemas com família ou amigos. Sou um bom cara de família. Sou um bom amigo. Tento ajudar pessoas que nem conheço. Cometo erros? Sim. Minha área professional não é apenas muito competitivo, é competitiva, emocional e empurra a maioria das pessoas a certo comportamento. Mas a vida profissional é apenas uma parte da pessoa. Uma pessoa é muito mais que isso”, disse o técnico.