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Edmundo pediu carinho na "nova" Placar. Revista chegou às bancas há 20 anos

Edmundo na capa da Placar, em 1995: o craque precisava mesmo de carinho - Reprodução/Placar
Edmundo na capa da Placar, em 1995: o craque precisava mesmo de carinho Imagem: Reprodução/Placar

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

19/04/2015 06h00

Coloque um dos maiores craques do futebol brasileiro na capa da revista de esporte mais popular do País. Dê a ele um ursinho de pelúcia. Aumente o tamanho da publicação, com um projeto gráfico revolucionário. Pronto, decerto a mistura marcará época. Dito e feito. Há exatos 20 anos, a Revista Placar chegou às bancas totalmente reformulada, com Edmundo, um animal em busca de carinho, em uma foto gigante, que fazia jus ao futebol do craque e à importância da revista.

Mas engana-se que o caminho até abril de 1995 foi fácil para que Placar continuasse viva. Da crise do começo da década de 1990 à capa história de Edmundo, muita coisa aconteceu. Segundo Juca Kfouri, diretor da revista à época, a vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em julho de 1994, atrelada à explosão de interesse por futebol no País possibilitou a mudança do projeto gráfico e o lançamento da nova revista no dia 19 de abril de 1995.

"Placar estava meio em banho-maria, fazendo edições temáticas (entre 1991 e 1994). Com a vitória do Brasil, ocorreu um fenômeno bastante perceptível, com jovens usando camisas de times. Eu chamava atenção para isso com muita frequência. E então a direção da Abril se convenceu que de fato havia uma nova onda de futebol e uma juventude em busca de ídolos. Resolvemos fazer uma revista jovem", disse o jornalista ao UOL Esporte.

Nada melhor do que ter Edmundo na capa da revista intitulada "Futebol, Sexo & Rock’n Roll". O atacante, na ocasião, defendia o Flamengo desde janeiro e ainda vivia às voltas com as polêmicas. "A Placar era e é a marca mais importante no Brasil. Como eu tinha um comportamento que as pessoas criticavam muito, que vivia em polêmica, aceitei fazer. Quando recebi o convite, achei bacana. Teve uma repercussão muito positiva", contou o ex-jogador.

O plano, de acordo com Juca, era colocar Edmundo em destaque, na linha "o animal precisa de carinho". Mas fazer o craque segurar um ursinho de pelúcia, algo que não foi previsto, soava como absurdo. O casamento perfeito na capa se deu pela esperteza da então diretora de arte, Lenora de Barros, que levou o ursinho ao estúdio. "Ela perguntou se podia levar um ursinho para ele pegar. A gente riu. Imagina, o Edmundo pegando um ursinho no colo..", lembra Juca.

O craque, entretanto, aceitou a sugestão e posou dessa forma para o fotógrafo Bob Wolfenson. "Eu sou muito tímido. Há 20 anos era mais ainda. A minha timidez fazia minha reação ser ruim às vezes. Como eu já tinha entrado no espírito da coisa, com as pessoas envolvidas, acabei me soltando e levei numa boa. Aceitei logo. Repercute até hoje", contou.

E Edmundo precisava mesmo de carinho. Segundo ele, as coisas ruins do clube sempre eram vinculadas a ele. "O fator negativo sempre caía na minha conta. Era realmente o que eu sentia naquela ocasião. Eu precisava mesmo de carinho. Eu tinha meus problemas familiares, tinha uma vida conturbada mesmo. Mas as pessoas não estavam nem aí para isso. Eu precisava de um pouco de carinho", admitiu o ex-atacante.

Uma nova Placar

A Revista Placar chegou às bancas em um novo formato. Em vez do tamanho convencional, a publicação tinha quase 36 centímetros de altura por 28 de largura. O projeto gráfico era de Roger Black, um conceituado diretor de arte. "Ele veio para cá, gostou da ideia e se surpreendeu. Ele bolou um projeto gráfico e aí nasceu uma revista com um formato absolutamente inusitado no Brasil. A ideia era falar com o molecada, com o novo consumidor de futebol", explicou Juca.

Com o nova revista, Placar tornou-se mensal pela primeira vez. Semanal até agosto de 1990, a publicação sofreu com o fracasso brasileiro na Copa de 1990. Assim, passou a ter edições temáticas nos anos seguintes, sem periodicidade fixa. Juca, no entanto, apresentou um projeto com 12 revistas para 1991.

Aprovado, Placar se manteve no mercado, conseguiu passar pelo momento difícil e renasceu. A edição com Edmundo na capa vendeu 350 mil cópias, um sucesso absoluto. Mas a linha editorial de uma sessão (o encarte Placar Urgente) e a incompatibilidade com a direção da Abril resultaram na saída de Juca do comando da revista três meses depois. Em 1996, Placar voltou ao formato original. O projeto revolucionário, com Edmundo clamando por carinho, porém, marcou época no Brasil.