Topo

Pavilhão 9 negocia com Corinthians para velar mortos no Parque S. Jorge

Torcedores e familiares das vítimas se concentram no IML de São Paulo, com um misto de tristeza e perplexidade nos rostos  - RENATO MENDES/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Torcedores e familiares das vítimas se concentram no IML de São Paulo, com um misto de tristeza e perplexidade nos rostos Imagem: RENATO MENDES/BRAZIL PHOTO PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

19/04/2015 15h30

A diretoria da torcida organizada Pavilhão Nove está negociando com o Corinthians para que os oito torcedores mortos na noite deste sábado na sede da uniformizada sejam velados no Parque São Jorge, sede do clube alvinegro.

De acordo com Ana Paula Santos de Oliveira, irmã de uma das vítimas (André Luiz Santos de Oliveira), a torcida ofereceu aos familiares bancar todos os custos referentes ao enterro dos mortos, bem como a possibilidade também de realizar os velórios na sede da Pavilhão Nove.

Ana Paula conta ainda que seu irmão já havia dito à família que, quando morresse, gostaria de ser enterrado com um modelo de camisa da torcida organizada que traz em sua lateral uma homenagem ao ex-piloto Ayrton Senna, que era corintiano.

Na noite do último sábado, os oito torcedores da Pavilhão Nove estavam pintando faixas e bandeiras que seriam levadas ao clássico deste domingo entre Corinthians e Palmeiras, quando foram baleados na cabeça, na sede da organizada.

A quadra da torcida recebia desde a manhã de sábado um torneio de futebol de salão, que durou até o final da tarde. Quando o campeonato acabou, as pessoas começaram a ir embora, ficando no local apenas os oitos torcedores que viriam a ser mortos.

Eles permaneceram na sede da organizada pintando bandeiras e faixas. Os mais ativos na tarefa eram os mais jovens: Marco Antônio Corassa Júnior, de 19 anos, Matheus Fonseca de Oliveira, que também tinha 19 anos, e Jonathan Fernando Garzillo Massa, de 21.

Já o restante dos mortos que foram identificados até agora, Ricardo Júnior Leonel do Prado (34 anos), André Luiz Santos de Oliveira (29), Fábio Neves Domingos (34) e Midras Schmidt Rizzo (38) coordenavam as atividades enquanto faziam churrasco.


Momento pavoroso

Quem informa essas circunstâncias é a prima de uma das vítimas (Midras), Flávia Lima, de 27 anos, que estava na quadra da torcida até poucas horas antes da chacina. Segundo ela, assim que o crime aconteceu, a notícia começou a se espalhar rapidamente pela região aonde se localiza a Pavilhão Nove, próxima à Ponte dos Remédios, na zona oeste da capital.

"Foi um momento pavoroso. Todo mundo começou a correr para lá (sede da torcida). Ninguém sabia quem tinham morrido nem quantas pessoas. Só se sabia que era muita gente, alguns falavam em nove mortos", conta Flávia.

Cerca de 70 pessoas se reúnem em frente ao IML (Instituto Médico Legal), onde estão os corpos das vítimas, na tarde deste domingo. O clima é de desolação e perplexidade. Pequenos grupos se reúnem, conversam, indagam perguntas que não conseguem responder e, de quando em vez, desatam a chorar.

Boa parte dos presentes no IML estão vestindo camisas da Pavilhão Nove. Em seus rostos, um misto de revolta e tristeza. E silêncio. Eles não falam com os jornalistas presentes no local. A torcida ainda não se pronunciou oficialmente. Em sua página no Facebook, há muitas mensagens de solidariedade, algumas até de torcidas adversárias.


Polícia diz ter suspeitos

A Polícia Civil afirma que já tem suspeitos de terem cometido o crime. Seus nomes, porém, serão mantidos em segredo para não atrapalhar as investigações, informou o plantão da DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa).

A possibilidade de briga entre torcidas ser a causa do crime foi descartada pela Polícia Civil. Os investigadores trabalham com outras linhas de apuração, que incluem tráfico de drogas. Peritos inspecionaram o local e encontraram cápsulas de pistola 9 milímetros, calibre de uso exclusivo da Polícia Federal e das Forças Armadas, mas disseminado no mundo do crime.

"Pelo que nós já temos no papel, em declarações de testemunhas, há uma linha de investigação, que não está em briga de torcida", afirmou o delegado Arlindo José Negrão, em entrevista à rádio CBN. "O pessoal já estava indo embora. Sobraram oito pessoas lá. Chegaram três pessoas armadas, colocaram de joelhos, para deitar, e efetuaram disparos neles", relatou.