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Juninho Pernambucano, vinhos e videogame: as paixões do "maestro" Pirlo

Andrea Pirlo é um dos principais nomes do atual elenco da Juventus - AFP PHOTO / OLIVIER MORIN
Andrea Pirlo é um dos principais nomes do atual elenco da Juventus Imagem: AFP PHOTO / OLIVIER MORIN

Do UOL, em São Paulo

24/04/2015 06h00

“Os passes são precisos, exatos, irretocáveis como um soneto antigo. Direi mais, se me permitem a comparação: é a mãe dos pernas-de-pau. Quantos companheiros vivem, e sobrevivem, à sua sombra? Ele não depende de ninguém e quantos dependem dele? Ao lado dele, o perna-de-pau já o é muito menos”, a crônica de Nelson Rodrigues fazia alusão a Didi, bicampeão mundial com o Brasil, mas poderia muito bem ser utilizada para descrever Pirlo.

Dono de um passe primoroso e uma técnica rara, o camisa 21 da Juventus impressiona pela elegância dentro de campo, seja ao executar um passe em profundidade ou bater uma falta no ângulo do goleiro adversário. Em boa fase apesar dos 35 anos, Pirlo é um dos principais nomes do meio-campo da equipe italiana, classificada para a semifinal da Liga dos Campeões depois de 12 anos. 

Segundo atacante no início da carreira, Pirlo foi tendo seu estilo e posicionamento moldados aos poucos, passo a passo, como em uma obra de arte. O primeiro elemento foi posto pelas mãos de Carlo Ancelotti, hoje técnico do Real Madrid, mas na época comandante do Milan.

“Ele marcou um antes e um depois na minha carreira. Parei de jogar como segundo atacante e me transformei em um armador, um pivô. Isso mudou a tendência no futebol italiano. Provamos que era possível vencer jogando um bom futebol. Ancelotti é meu pai, em termos de futebol. Ele me levou ao ápice do esporte”, explicou Pirlo, em entrevista site espanhol “ABC.es”.

O segundo elemento, talvez não mais importante que o primeiro, porém provavelmente mais marcante, foi inspirado em um brasileiro ídolo na França: Juninho Pernambucano. As cobranças perfeitas de faltas do meia fizeram com que Pirlo sentisse o desejo de aprimorar sua técnica e torná-la uma marca registrada.

“Quando eu cobro faltas, eu penso em português. Eu estudei o que o Juninho faz. Assisti a DVD’s e observei fotos de suas partidas. A busca pelo segredo de Juninho se tornou uma obsessão para mim. Tudo se resume em como você bate na bola, não aonde”, explicou em sua biografia “Penso, logo jogo”.

Aos 35 anos e campeão de praticamente tudo, a aposentadoria já passa a ser um tema recorrente das entrevistas de Pirlo. E ele já sabe o que fará quando esse dia chegar. “Agora, eu só penso em jogar pelos próximos anos. Depois disso, eu irei definitivamente passar mais tempo na vinícola”, afirmou o meia, que é dono de uma vinícola próxima a Brescia, na Itália.

Elegante dentro de campo, um menino fora dele

Quem olha Pirlo dentro de campo, com seu estilo e sua volumosa barba, provavelmente não acredita que ali está um viciado em videogame. Em sua biografia e em diversas entrevistas, o meia da Juventus deixou claro seu amor pelos jogos virtuais, chegando a dizer que o Playstation era a melhor invenção de todos os tempos, depois da roda. E ainda relatou a rivalidade que tinha com Alessandro Nesta nos tempos de Milan.

“Eu e Nesta fazíamos um clássico no CT. Levantávamos cedo, tomávamos café às 9 da manhã e depois ficávamos trancados no quarto jogando. Daí então treinávamos, tomávamos um lanche e voltávamos ao videogame. Nossos duelos eram pura adrenalina. Eu escolhia o Barcelona, Alessandro também. Barça contra Barça. O primeiro jogador que eu acionava era Eto’o, o mais rápido de todos, mas sempre acabava perdendo. Ficava furioso, arremessava o controle, pedia uma revanche e perdia de novo. Nunca precisei usar a desculpa de que o treinador dele era melhor que o meu, já que Pep Guardiola era o técnico dos dois. Pelo menos no banco, começávamos em termos iguais”.

O encanto pelo Barcelona no videogame o fez ficar atônito em uma reunião com Pep Guardiola, quando o técnico espanhol tentou tirá-lo do Milan – o clube italiano, no entanto, não quis se desfazer de Pirlo e ele permaneceu em Milão.

“Durante meia hora eu me mantive quieto e deixei Guardiola falar. Eu ouvi e, no máximo, balancei a cabeça. Eu estava tão surpreso que meus reflexos ficaram mais lentos. Eu estava mais atordoado do que animado: mexido com a situação, mas de uma maneira bastante positiva. Eu nunca teria esperado por isso. Talvez eu tivesse passado tanto tempo no Playstation que acabei dentro dele. Sugado por um universo paralelo de meu passatempo preferido e agora à mercê de um manipulador de fantoches com algum tipo de mãos encantadas”.

No melhor estilo Frank Underwood, personagem de Kevin Spacey na premiada série “House of Cards”, Pirlo também usa o videogame para relaxar em momentos de extrema tensão, como a final da Copa do Mundo de 2006. “Passei a tarde dormindo e jogando Playstation, então eu deixei a concentração e conquistei a Copa do Mundo”.