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Choque trágico na boca fez goleiro não ser mais o mesmo após jogo com o Fla

Vagner Magalhães e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

25/04/2015 06h00

O ex-goleiro Leopoldo virou celebridade nacional ao fechar o gol e garantir o empate de 0 a 0 entre o seu time, o Operário-MS, e o Flamengo, em janeiro de 1998, no estádio Morenão, em partida válida pela Copa do Brasil. Na ocasião, Romário estava em busca do seu 600º gol na carreira. Na frente, o time carioca tinha ainda Sávio e Palhinha. 

Após toda a repercussão pelo empate, o Operário foi animado jogar no Maracanã, duas semanas depois. Ainda no primeiro tempo, com o Flamengo vencendo por 1 a 0, o goleiro Leopoldo sofreu um trauma que nunca mais saiu da sua memória e daqueles que presenciaram a cena. Somente mais tarde ele soube que o seu time foi goleado por 4 a 0.
 
Em uma disputa com Cleisson, Leopoldo sofreu uma joelhada involuntária. Com o choque, ele engoliu parte da sua prótese dentária, quebrou um dente, afundou o maxilar, sofreu três fraturas no nariz e teve três paradas respiratórias. Ali, os dias de sonho do goleiro se encerraram e começou uma longa recuperação.
 
O médico do Flamengo, José Luiz Runco, lembra a operação que foi feita para salvar o goleiro. Naquele dia ele apenas assistia à partida, mas com a gravidade da situação, foi a campo para ajudar no atendimento.
 
"Não era uma dentadura completa. Era a parte da frente que soltou e obstruiu parte da respiração bucal. Mas como ele sofreu um trauma e sangrava pelo nariz, ele não respirava nem pela boca, nem pelo nariz. Assim, entrou em asfixia. Quem trabalhava no jogo era o médico José Fernando Gagliano. Como segundo médico, eu assistia ao jogo no fosso do Maracanã. O Operário não tinha médico naquele dia", relembra.
 
"Nós conseguimos fazer a desobstrução e ele começou a respirar. Foi para o hospital e no dia seguinte, à tarde, foi liberado. Eu lembro que tivemos muito trabalho. Enfiamos os dedos dentro da boca dele para que pudesse respirar. Foi complicado, mas no momento que desobstruímos, ele começou a respirar".
 
Leopoldo lembra que o médico do time, perdeu o voo. "Eu tive três paradas respiratórias. Na hora fiquei desacordado. Eu só sei que quando eu me recuperei eu não sabia nem cair. Não sabia sair mais na bola e depois eu parei de jogar".
 
O ex-goleiro lembra que foram três meses de recuperação, mas que nunca mais foi o mesmo. "Quando eu voltei, tinha medo de ir na bola, mas fui tentando. Tinha medo quando alguém chutava a bola, cruzava. Depois eu fui para o Ubiratan-MS e fui campeão jogando como titular. Fui mais com o nome, porque eu sabia que não era mais o mesmo. Depois disso ainda fui jogar no Paraguai e decidi parar. Já não tinha mais confiança. Hoje eu brinco na linha, quando tem um jogo de festa", afirma.
 
Apesar do trauma, ele nunca mais se esqueceu também do primeiro jogo em que teve uma atuação próxima da perfeição. "O Flamengo tinha Romário, Sávio, Júnior Baiano, Palhinha (...) Para mim foi inesquecível. Eu fiquei conhecido no Brasil todo porque o Romário estava tentando fazer o seu 600º gol e a imprensa do Brasil toda veio para Campo Grande para ver esse gol. Eu fui feliz naquele jogo e acabaram me vendo. Eu vivia um bom momento desde 1994", diz.
 
Ele mesmo lembra os lances que mais o empolgaram. "Em um deles, o Cleisson foi na linha de fundo e cruzou para trás. O Romário pegou de sem pulo no meu contrapé. Eu consegui voltar e colocar a bola para escanteio. Teve outra que o Romário escapou e chegou na minha cara. Ele tentou me dar um chapéu e eu consegui puxar a bola com a mão direita para baixo, aos 46 minutos do segundo tempo. Fui considerado o melhor em campo. Ganhei um prêmio, uma chuteira de 'ouro'", diverte-se.
 
Depois de encerrar a carreira, o goleiro se formou em Educação Física e trabalha na cidade de Jateí-MS com acompanhamento escolar. "Os alunos que têm nota boa treinam com a gente. Também faço esse trabalho em Anhanduí  e em Rochedo, ambas em Mato Grosso do Sul".