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Hernanes quer voltar à seleção e diz que 7 a 1 não foi "Série A x Série B"

Com boas atuações na Inter, Hernanes planeja voltar à seleção - Daniele Mascolo/EFE
Com boas atuações na Inter, Hernanes planeja voltar à seleção Imagem: Daniele Mascolo/EFE

Vanderlei Lima e Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

04/05/2015 06h00

O meia Hernanes, da Inter de Milão, aguarda com ansiedade a lista de convocados do técnico Dunga para a disputa da Copa América, em junho, no Chile. Apesar de ter participado do grupo que disputou a Copa do Mundo no Brasil, Hernanes foi pouco aproveitado por Felipão. Em boa fase no futebol italiano, o jogador espera ter uma nova chance de vestir a camisa da seleção brasileira. Prestes a completar 30 anos, ele acredita que poderá viver a sua melhor fase na carreira agora, com a bagagem adquirida. "Hoje estou bem experiente e maduro para chegar nesse nível. Meu foco são os próximos três anos", diz ele, em entrevista ao UOL Esporte.

A lista de convocados para a Copa América será conhecida nesta terça-feira. E Hernanes acredita que uma futura convocação depende mais dele do que do próprio Dunga. "Eu estou em um momento de grande forma. Se eu mantiver essa pegada nos próximos jogos, fica difícil ele não chamar. Então não depende dele. Depende de mim. Eu estou pronto para voltar à seleção". Leia abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva ao UOL Esporte:
 
UOL Esporte: Você jogou pouco na Copa, entrou no decorrer de três jogos. Por que acha que perdeu espaço?
Hernanes: É uma situação à parte. É um torneio curto e o Felipão tinha a confiança nos jogadores. Achei que tinha entrado bem contra a Croácia e depois não entendi. Contra Camarões, o Fernandinho entrou muito bem, fez um gol. Então não é que eu perdi espaço. Eu tive a chance contra a Croácia e fui bem. O Fernandinho teve a chance contra Camarões e foi muito bem. Acontece isso no futebol. (Hernanes entrou novamente nas quartas de final contra a Colômbia e na disputa do terceiro lugar, contra a Holanda, substituindo Paulinho).
 
UOL Esporte: Você chegou a ficar desanimado por não ser usado?
Hernanes: Não. Eu sou um cara que tem um objetivo para o futuro e não me deixo abalar com situações assim. Continuei trabalhando, buscando jogar cada vez mais.
 
UOL Esporte: Como foi assistir do banco os 7 a 1 contra a Alemanha? Conseguiu dormir naquela noite?
Hernanes: Não, eu não dormi. A gente ficou conversando, tentando achar explicação. Tentando perceber o que tinha acontecido. Então não deu para dormir. A vida no futebol é assim. Te pega de surpresa. Eu sempre penso que se jogássemos contra eles um dia depois seria completamente diferente. Foi uma tragédia. Deu tudo errado e racionalmente não tem como explicar isso.
 
UOL Esporte: Por que acha que seria diferente?
Hernanes: Porque a nossa equipe era muito qualificada. A diferença dos dois times não era desse tamanho. Aqui no Campeonato Italiano, ganhamos de 7 a 0 do Sassuolo em casa e depois perdemos de 3 a 1. Não era uma diferença enorme entre os dois times. Naquele dia, os caras foram pegos de surpresa. Mostraram isso ao vencer a gente por 3 a 1 depois. E a diferença de Brasil e Alemanha não era a de um time de Série A contra um time de Série B. Ali a gente era tão forte quanto eles, mas a Alemanha estava em um momento melhor. Não existia essa diferença toda.
 
UOL Esporte: O que os italianos da Inter falam para você sobre os 7 a 1? Sentiu que o prestígio do futebol brasileiro ficou abalado?
Hernanes: Hoje  um pouco menos. O Brasil sempre foi comparado com as coisas boas, positivas. Eu ouvi algumas comparações negativas e aquilo realmente mexia comigo. Mas ainda não foi esquecido. O Brasil, agora com Dunga, está fazendo um grande trabalho. Já foram várias vitórias, então a seleção tem de se manter ganhando para deixar uma outra impressão. O que aconteceu foi uma tragédia para o futebol brasileiro.
 
UOL Esporte: O grupo estava unido? Respeitavam o Felipão?
Hernanes: Sim, estava unido. É até estranho ouvir isso. Se algum jogador falou isso, eu acho estranho, porque a nossa união era marcante e bonita de ver. Quanto ao Felipão, ele ainda consegui nos motivar para a disputa do terceiro lugar, sem largar a toalha. 
 
UOL Esporte: Você acha que a sua história na seleção está mais difícil de prosseguir agora?
Hernanes: Não. Eu vejo que a relação treinador/jogador depende muito mais do jogador. Eu estou em um momento de grande forma e se eu mantiver essa pegada nos próximos jogos, fica difícil ele não chamar. Então não depende dele. Depende de mim. Eu estou pronto para voltar à seleção.
 
UOL Esporte: Você espera ser, de repente, a surpresa na lista para a Copa América?
Hernanes: Conhecendo como é o futebol e como é a minha vida, eu tenho esperança de estar lá. Eu tenho essa esperança.
 
UOL Esporte: Você foi convocado pelo Dunga para disputar a Olimpíada de Pequim, em 2008, e foi titular da equipe. Acha que o fato de o treinador te conhecer pode ser um diferencial para você voltar à Seleção Brasileira? Porque o Dunga não te chamou, na sua opinião?
Hernanes: Eu tenho trabalhado duro e com certeza está nos meus planos voltar a vestir a amarelinha. Eu entendo que depois de como acabou a Copa do Mundo, precisava de um treinador que chegasse para mexer em alguma coisa. Eu fui um dos jogadores que não atuaram muito na Copa e não tive um destaque maior. Mas o Dunga já me conhece e eu trabalho para chegar em um nível maior. Acredito que esse momento vai chegar na minha carreira. Hoje estou bem experiente e maduro para chegar nesse nível. Meu foco são os próximos três anos (até a Copa da Rússia) .
 
UOL Esporte: Você chuta bem com as duas pernas e faz muitos gols de fora da área? É um diferencial seu em relação aos jogadores do futebol brasileiro?
Hernanes: Não. Eu sempre vejo jogadores arriscando e chutando de fora da área. Tem jogadores assim aí no Brasil. Essa é uma das minhas características e talvez por isso fica um pouco mais marcante. Treino bastante para isso.
 
UOL Esporte: Sempre se fala que a parte da torcida da Lazio é racista, preconceituosa. É assim mesmo?
Hernanes: Não só na Itália, mas aqui na Europa, em vários estádios eu já vi essas manifestações. Mas eu vejo que é a minoria, a menor parte das pessoas que vão aos estádios. 
 
UOL Esporte: Tem um vídeo em que você caiu no choro ao ser reverenciado pela torcida da Lazio ao sair do clube. Como foi?
Hernanes: Eu gosto de fazer as pessoas felizes em geral. Quando eu jogo futebol, tenho esse objetivo dentro de mim e carrego isso, fazendo com que as pessoas se alegrem e se divirtam com o meu jogo. Eu quero que as pessoas sejam felizes. Na Lazio, as pessoas tem um carinho muito grande por mim. Isso fez com que eu conseguisse conquistar o meu objetivo. O choro foi isso, além do sentimento natural por eu estar me despedindo.
 
UOL Esporte: A Inter melhorou depois que você passou a ser usado com mais frequência. Você acha que agora o técnico Roberto Mancini entendeu sua importância para o time?
Hernanes: Quando ele chegou eu estava vindo de lesão. Passei dois meses fora, sem jogar, porque eu estava com lesão. Então, quando ele chegou, com certeza não me encontrou na minha melhor condição. Eu estava lesionado. Mas como eu consegui me recuperar completamente, entrar em forma, ele me colocou para jogar. A equipe estava em um momento muito bom. Temos feito bons jogos.
 
UOL Esporte: Como é sua relação com o Roberto Mancini?
Hernanes: Ele não é de conversar muito, mas fala o necessário. A gente conversou poucas vezes, mas ele sempre me tratou com respeito. Sempre me deu moral. Mesmo eu não jogando, ele me respeitou, o que é muito importante. 
 
UOL Esporte: Você tem atuado com um meia-ofensivo, jogando atrás de dois atacantes. Você prefere atuar assim? Considera essa a sua posição ideal?
Hernanes: Hoje eu prefiro jogar nessa posição. Coincidiu e comecei nos treinos a me sentir bem jogando ali. O Mancini pediu para eu jogar naquela posição. Acabei jogando bem e pude ter uma sequência.