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Relação com cartolas e agentes foi "bala de prata" para demissão de Gallo

Demissão de Gallo foi um dos primeiros atos de Marco Polo Del Nero na CBF - PABLO PORCIUNCULA / AFP
Demissão de Gallo foi um dos primeiros atos de Marco Polo Del Nero na CBF Imagem: PABLO PORCIUNCULA / AFP

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

15/05/2015 06h00

Demitir Alexandre Gallo já era uma decisão tomada para Gilmar Rinaldi há aproximadamente seis meses. Mas só na última semana, depois de ser anunciada a lista de convocados para o Mundial sub-20, é que o diretor de seleções conseguiu o aval para consumar a mudança nas equipes de base da CBF. Era José Maria Marin, há meses, quem barrava a demissão. 

A distância entre Gallo e clubes foi o ponto decisivo para que o novo presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, autorizasse Gilmar a demitir o treinador dos times sub-20 e sub-23. Na mesma medida, foi citado a Del Nero como Gallo era mais próximo de agentes do que das equipes. Dois casos na convocação para o Mundial ilustraram isso. 

O volante gremista Matheus Biteco foi chamado por Gallo mesmo sem treinar com bola há cinco meses por problema no púbis. O treinador se comunicou com o empresário gaúcho Jorge Machado para coletar informações. 

"Eu não sou médico, mas disse a ele que o Matheus fez ressonâncias na Alemanha (Biteco pertence ao Hoffenheim-ALE e fazia reabilitação física na Europa) e estava apto para voltar a treinar", diz o agente. Foi Machado quem intermediou uma conversa entre o técnico e Rui Costa, dirigente gremista, para que confirmasse as informações. Gallo resolveu apostar que, com 35 dias de preparação, deixaria o jogador pronto. Depois de se apresentar à seleção sub-20 nesta semana, porém, Matheus Biteco foi cortado pelo novo treinador Rogério Micale, ex-Atlético-MG.

O empresário Jorge Machado sugere que houve outras razões para a decisão. "O jogador me disse que o corte dele não foi autorizado pelo departamento médico. A demissão do Gallo foi somente por razões políticas da CBF. (...) Ele é um cara super acessível", elogia Machado. 

A exclusão do meia Gerson, com quem Gallo teve desentendimentos, também vai na mesma direção. O Fluminense se queixa de não ter sido procurado pelo treinador para tratar das questões disciplinares. Para a CBF, dirigentes do Flu também reclamaram que não receberam contatos pelo jogador. 

Nesse caso, Gallo sustenta que gostaria de ouvir do próprio Gérson que ainda tinha interesse em defender a seleção sub-20 no Mundial. Por isso, realizou contatos diretos com o jovem. Ao não ser ouvido, também ligou para o empresário do atleta, o mesmo Jorge Machado. A prática do treinador, porém, foi reprovada pela cúpula da CBF. 

Durante a última sexta-feira, o coordenador de base da entidade, Erasmo Damiani, telefonou para uma série de clubes para coletar depoimentos sobre como Gallo havia trabalhado na convocação do Mundial sub-20. Ao ouvir histórias como a de Matheus Biteco e Gérson, Marco Polo Del Nero autorizou a demissão, anunciada no fim da noite de sexta-feira. 

Problemas com jogadores e defesa de cartolas

Embora gerasse rusgas com jovens atletas, o estilo disciplinador de Gallo agradava ao então presidente da CBF, José Maria Marin. Mesmo que ele, nos últimos dois anos, tenha tido problemas de relacionamento com os meias Gérson (Flu) e Lincoln (Grêmio) e com o atacante Gabriel Barbosa (Santos), por exemplo. Carlos, do Atlético-MG, pediu dispensa da seleção sub-20 por meio do empresário Jorge Machado. 

O relacionamento com presidentes de federações próximos de Marin também ajudou Gallo a prolongar sua permanência no cargo. Como treinador e coordenador, ele levou as seleções de base para uma série de estados e fortaleceu relação com cartolas que se tornaram admiradores de seu trabalho. Em especial com Delfim de Pádua Peixoto Filho, presidente da Federação Catarinense de Futebol. 

Gallo resistiu ao processo de "fritura" na CBF

Para tentar diminuir a força de Gallo dentro da entidade, Gilmar Rinaldi comandou a demissão de aproximadamente 20 funcionários contratados pelo treinador que antes acumulava a tarefa de coordenador - as trocas foram desde a área técnica até a administrativa.

Assim foi com o ex-zagueiro Cláudio Caçapa, da seleção sub-15, e mais recentemente com Caio Zanardi, campeão do Sul-Americano sub-17. Até mesmo Maurício Copertino, auxiliar de Gallo há anos, foi demitido há meses. Mesmo assim, o treinador se manteve firme diante da "fritura" e não entregou o cargo. 

À cúpula da CBF, Gallo demonstrou seu descontentamento por ser retirado do comando da seleção sub-23 sem ter perdido uma só partida. Citou, por exemplo, que foi graças a ele que o time olímpico passou a ter um calendário próprio nas datas Fifa. Também foi por iniciativa dele que a entidade ampliou a observação de jogadores jovens brasileiros pouco conhecidos que atuavam na Europa. Foi pouco para um ambiente interno tão hostil e com tantas reclamações de clubes. 

Além disso, pesaram contra Alexandre Gallo uma série de outros resultados ruins em dois anos de gestão. Na categoria sub-15, o Brasil teve seu pior resultado da história no Sul-Americano. Já no sub-17, terminou atrás da Venezuela no mesmo torneio e foi eliminado nas quartas de final do Mundial. Pelo sub-20, teve a segunda pior campanha da história no Sul-Americano com a quarta posição. 

Outro lado

A reportagem tentou contato com Alexandre Gallo, que não concede entrevistas no momento e realizou apenas alguns esclarecimentos por meio de assessoria de imprensa. Gilmar Rinaldi foi contatado, mas não se pronunciou.