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Zé Love na China: brigas no trânsito assustam mais que beques adversários

Ex-Santos, Zé Love comemora gol pelo Shanghai Shenxin - Reprodução/Twitter
Ex-Santos, Zé Love comemora gol pelo Shanghai Shenxin Imagem: Reprodução/Twitter

Luiza Oliveira e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

15/05/2015 06h01

Zé Love é mais um brasileiro que priorizou a estabilidade financeira e se transferiu para o futebol chinês recentemente. Mas, há menos de três meses no Shanghai Shenxin, ainda sofre para se adaptar às diferenças culturais. Hoje, o terror do atacante não são os adversários, mas sim o trânsito da populosa Xangai.

O atacante ainda não se habituou ao trânsito caótico e à relação pouco cordial entre os motoristas. As brigas e as buzinas são tão frequentes que deixariam até um legítimo paulistano assustado.

Pelas ruas e avenidas onde os mais de 23 milhões de pessoas que vivem em Xangai circulam diariamente, Zé Love nem pensou duas vezes e adotou a solução mais segura. Contratou um motorista particular que fica à disposição o dia todo.

“É muito louco, eu não dirijo aqui, o cara para dirigir aqui tem que estar acostumado à cultura deles. Eles param na rua e brigam entre eles, param o carro no meio da rua e brigam. E eu não tenho essa paciência não, então eu prefiro ir com o motorista que eu vou tranquilo. É muita buzina, eu falo que se eles dirigissem em São Paulo alguém ia matar um deles aí. Eu não comprei carro e nem pretendo comprar, porque aqui é muito difícil. O GPS aqui é em inglês ou chinês, então é muito difícil. Eu prefiro ir com o motorista mesmo”.

Mas a relação entre Zé Love e o seu funcionário também não está fácil, e o problema é o idioma. O brasileiro nem conversa com seu guia, e o diálogo no carro se resume às únicas duas palavras que ele aprendeu em mandarim: "Ni Hao" e "Xie Xie", que querem dizer ‘oi’ e ‘obrigado’.

“Na hora que ele chega eu falo “Ni Hao” e depois quando volto eu digo “Xie Xie” que quer dizer ‘obrigado’. Aqui eu já andei de trem, os times viajam muito de trem, mas é um trem super confortável, é executivo, eu até prefiro viajar de trem do que de avião”.

Com exceção da locomoção, Zé Love não teve muitos problemas de adaptação na maior cidade da China e que é considerada uma das maiores áreas metropolitanas do mundo.

Até a comida chinesa, tão exótica para os padrões culturais brasileiros, ele não tem precisado encarar, já que está com a sua mulher que cozinha o bom e velho arroz com feijão.

Em um país tão diferente culturalmente e com pouca tradição no futebol, Zé Love admite que foi a questão financeira o fator decisivo para ele se transferir para o futebol chinês depois de atuar no Coritiba na última temporada. Mas ainda pensa em voltar ao Brasil.

“Eu não fiquei no Brasil por questão econômica. O Genoa me emprestou ao Coritiba e depois eu tive essa oportunidade de vir para a China, agora sou do Shanghai em definitivo. Eu pensei bastante na minha vida profissional, pensei na minha estabilidade, mas claro que todo o jogador brasileiro tem vontade de jogar no Brasil. Eu não vou falar, mas uns quatro clubes da primeira divisão do Brasil ficaram atrás de mim e o que pesou foi essa questão financeira mesmo.É uma experiência nova, eu fiz dois anos de contrato e espero cumprir”.

Pelo menos em campo Zé Love tenta se sentir mais em casa. Apesar da má fase do seu time que é lanterna do campeonato nacional, ele chamou atenção no fim do mês passado ao chapelar o goleiro e marcar um golaço, no empate por 1 a 1 com o Liaoning Whowin.

“Eu já fiz outros golaços na época do Santos, mas este aqui na China foi o gol da rodada, passou bastante aqui na TV. Eu falo sempre com os amigos da bola pelo WhatsApp, tudo vai para as redes sociais. E todo mundo que viu falou que foi um belo gol. O futebol aqui chegou há pouco tempo, então só agora eles estão se estruturando. Aqui eles são justos e tudo o que eles acordam com você, eles fazem. Pagam em dia, te tratam bem, mas ainda falta um pouco de profissionalismo”.

Zé Love guarda boas recordações do futebol brasileiro, onde conquistou cinco títulos estaduais, mas seu auge mesmo foi no Santos ao conquistar a Copa do Brasil de 2010 e a Libertadores de 2011 ao lado de Neymar.

“Com certeza é o mais importante. Eu ganhei uma Libertadores e eu sou muito conhecido, a torcida do Santos tem um carinho especial por mim e eu também tenho um carinho especial até por desde criança ser santista”, disse.“Mas por onde eu passo eu sou muito conhecido. Em todos os times em que eu passei eu sou conhecido pela minha luta dentro de campo, pela minha dedicação, não sou um cara que gosta de perder, eu não consigo me acostumar com isso. Então eu sou aquele cara que briga mesmo dentro de campo, vou até o final pela camisa que eu visto. Graças a Deus por onde eu tenho passado, eu tenho as portas abertas.”

Amigo de Neymar na época do Santos, Zé Love ainda mantém a amizade com o craque do Barcelona por WhatsApp e chegou a virar a noite na China para poder assistir ao duelo entre Barcelona e Bayern de Munique pela semifinal da Liga dos Campeões.

“Eu falo com ele às vezes via WhatsApp. Eu sempre falo com ele, ele está fazendo uma temporada excepcional no Barcelona, fiquei acordado até as 5 horas da manhã daqui pra assistir ao jogo Barcelona e Bayern na Champions. Ele fala para mim se está tudo bem, ele me chama mais de Vermelhão eu sou ruivo e branco”, brinca.