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Drone invade arena do Corinthians. É ilegal em estádios e tem riscos; veja

Jogadores da Albânia correm para tentar se proteger da confusão causada por um drone em um jogo das Eliminatórias da Euro - ALEXA STANKOVIC / AFP - ALEXA STANKOVIC / AFP
Drone em Sérvia X Albânia causou grande confusão e fim do jogo
Imagem: ALEXA STANKOVIC / AFP

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

20/05/2015 12h00

Apesar de mencionado pela imprensa, algo ficou em segundo plano na confusão durante o jogo entre Boca Juniors e River Plate, pela Copa Libertadores da América, na semana passada. Se o gás atirado contra os jogadores do River foi a "estrela" da noite, o drone que sobrevoou o campo quando a partida já estava paralisada também integrou o pacote da baderna. E, diferentemente do que muitos podem imaginar, a máquina voadora está longe de ser inofensiva.

Sim, ver o fantasminha com a letra "B" (uma alusão ao recente rebaixamento do River Plate) teve lá a sua graça. Acontece que não a primeira vez que um drone invade uma partida de futebol oficial. Em outubro do ano passado, Sérvia e Albânia jogavam em Belgrado (capital sérvia) pelas Eliminatórias da Euro-2016 quando um drone carregando uma bandeira albanesa entrou no estádio do Partizan Belgrado. O problema foi que os países têm um longo histórico de guerras e relações políticas conturbadas, e a brincadeirinha terminou em confusão generalizada e partida encerrada pelo árbitro. Junte isso ao que acaba de ocorrer em La Bombonera, e fica a pergunta: a relativa popularização dos drones, uma fiscalização falha e o mau uso do aparelho estão colocando os estádios em risco?

Drones são perigosos

Os drones mais básicos podem pesar até três quilos. Ele possuem hélices e podem chegar a até um quilômetro de altura (embora, como se verá a seguir, a legislação proíba). Ou seja, na mão de amadores e operadores pouco hábeis, têm um belo potencial para estragos. Isso sem contar as eventuais falhas técnicas a que toda máquina está sujeita. Que o diga Raija Ogden, por exemplo, atleta hospitalizada após ser atingida por um drone durante uma prova de triatlo na Austrália em abril do ano passado.

Drone "invade" La Bombonera durante a paralisação de Boca x River - AFP PHOTO / JUAN MABROMATA - AFP PHOTO / JUAN MABROMATA
Drone engraçadinho da torcida do Boca
Imagem: AFP PHOTO / JUAN MABROMATA

Quase tudo ilegal

Os drones não são nem aeronaves, nem aeromodelos. São multirrotores. Quem diz isso é Flávio Lampert, presidente da Associação Brasileira de Multirrotores (ABM). Forte defensor do voo seguro e dentro das regras, ele explica que, do ponto de vista da legislação, e do seu cumprimento, a situação no Brasil hoje é, para dizer o mínimo, uma bagunça.

"Quase tudo o que se vê hoje é ilegal. De drones filmando casamentos até outros usos super bem intencionados, quase sempre tem algo que viola as regras", explica Lampert. Mas quer dizer então que existem regras? Sim, existem, mas nem sempre são respeitadas e bem fiscalizadas.

Hoje não há uma legislação específica para drones no Brasil. Ela está em estudo e deve entrar em consulta pública, mas não existe data oficial para tal.

Por isso, a maioria das pessoas que opera drones por aqui hoje deve seguir a regulamentação que trata de aeromodelismo, de 1999, ou de operações experimentais.

Segundo a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), os equipamentos devem respeitar a restrição de não operar nas zonas de aproximação e decolagem de aeródromos e aeroportos, nunca ultrapassar altura superior a 120 metros (400 pés), ficar ao alcance da visão do piloto, e não ser operado para fins lucrativos, sobre áreas densamente povoadas ou urbanas.

Itaquerão invadido

Além de ilegal, os drones muitas vezes são comandados por muita gente sem preparo.

"Não existem cursos regulares para pilotar esses equipamentos no Brasil. Qualquer um pode sair pilotando", diz Lampert. E o especialista não tem dúvidas sobre os estragos que um drone poderia fazer sobre uma multidão em um estádio.

"Pode machucar feio. Vamos lembrar que é um aparelho com quatro hélices, e tem gente que ainda troca as de plástico pelas de fibra de carbono, que são extremamente cortantes", diz Lampert.

Mas o quão viável seria para um engraçadinho mandar um drone para dentro de campo? Para começar, Lampert acredita que seria complicado comandar um aparelho de fora para dentro do estádio. Ou seja, uma revista séria já resolveria grande parte da questão. "Um drone básico, do tipo Phantom, voa com segurança no máximo uns 400 metros", explica.

Há, entretanto, um porém. Com algumas modificações, explica ele, um drone desta linha pode ganhar autonomia de até cinco quilômetros de distância. E, dependendo da arquitetura e localização do estádio, ele fica bem mais sujeito a invasões. É o caso da Arena Corinthians, em São Paulo.

Com vários espaços vazados em sua estrutura, e com poucos edifícios ao seu redor, a casa do Corinthians seria um prato cheio. Aliás, ela já recebeu a visita de um drone, e as autoridades sabem disso. Em vídeo publicado no YouTube em abril deste ano, um aparelho entra no estádio e sobrevoa o campo sem problemas. E, apesar dos comentários pedindo cuidado ("você é maluco....kkkk....show....cara cuidado com a ANAC, os caras estão querendo acabar com nossa brincadeira...."), o responsável pelo vídeo parece não se preocupar nem um pouco, mesmo que esteja violando a legislação: não voar sobre áreas densamente povoadas e urbanas (ele sobrevoa também uma avenida próxima do estádio corintiano).

Vídeo é conhecido

Questionado sobre o vídeo, Ricardo Razuk, comandante da 1ª Companhia do 2º Batalhão de Choque da PM de São Paulo, uma das responsáveis pela segurança nos estádios, diz que sabe sobre o vídeo. "O voo foi feito em um dia em que não havia jogo, então não vejo problema", diz o comandante, que revela ele mesmo ser proprietário de um modelo Phantom. Sobre a possibilidade de alguém entrar em um estádio paulista com um drone, Razuk é cético.

"Com a nossa revista, acho muito difícil. Mesmo desmontado, porque ocupa um grande volume." O uso dos aparelhos, por alguém de fora do estádio, também é visto como pouco provável. "Usar um drone, por exemplo, para levar uma arma para dentro do estádio, não faria muito sentido porque teria uma logística muito complicada", explica o comandante. Mas e drones tiradores de sarro, como o de La Bombonera? "Sim, pode acontecer", diz o comandante.

Atual gestor da Arena Corinthians, Lucio Blanco admite que drones envolvem riscos como quedas, lesões graves e até fatalidades. Mas, sobre o vídeo feito no estádio, ele diz que "as ocasiões em que ocorreram esses eventos aconteceram com o conhecimento do Corinthians, sendo assim, tudo foi feito de maneira bem natural."

Blanco aposta principalmente no sistema de monitoramento por câmeras para "identificar com antecedência" ocorrências que possam envolver drones.