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Abertura de CPI do Futebol é aprovada no Senado

Do UOL, em São Paulo

28/05/2015 14h51

Os senadores aprovaram nesta quinta-feira a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo que resultou na detenção de sete dirigentes da Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, suspeitos de corrupção, lavagem de dinheiro e extorsão, em esquemas comerciais envolvendo competições como a Copa América, Libertadores e Copa do Brasil. 

A CPI será publicada nesta sexta-feira no Diário do Senado e só não será instalada se 26 senadores retirarem suas assinaturas do requerimento até o fim da noite desta quinta, pouco provável no cenário atual.

A proposta de abertura da comissão investigatória é de autoria do senador Romário (PSB-RJ). Ele fez a proposta logo após ganhar repercussão a prisão dos dirigentes em Zurique na manhã da última quarta-feira (27).

A investigação que culminou na detenção dos dirigentes em Zurique está sendo feita pela Justiça nos Estados Unidos. Já a CPI no Senado pretende avançar em valores referentes à Copa do Mundo de 2014, assunto que não está sendo apreciado pelas autoridades norte-americanas. 

Em nota oficial do Senado, foi informado que a comissão contará com sete membros titulares e igual número de suplentes e terá 180 dias para investigar possíveis irregularidades em contratos feitos para a realização de partidas da seleção brasileira de futebol, de campeonatos organizados pela CBF, assim como para a realização da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo de futebol de 2014.

A instalação dependerá da indicação dos integrantes pelos partidos, o que leva em conta o cálculo de proporcionalidade das bancadas na composição do Senado. O limite de despesas da comissão será de R$ 100 mil.

Durante sessão no plenário do Senado nesta quinta-feira (28), Romário falou sobre a CPI e disse esperar que os responsáveis sejam presos.

“Particularmente espero que Blatter seja preso antes de assumir um novo mandato. O Marin está preso e este é o momento de fazermos uma verdadeira devassa na CBF, a Casa Bandida do Futebol”, afirmou.

“Recentemente, fomos surpreendidos com notícias da venda da Seleção Brasileira de Futebol masculino. Jogador que entra em campo por valor de marketing. Escalação feita por empresários. Tudo registrado em contrato. Por tudo isso, tenho tentado emplacar uma CPI para investigar esses criminosos.  É uma quadrilha camuflada pelas cores da nossa bandeira e festejada ao som do hino nacional”, completou Romário, fazendo referência ao contrato da CBF com as empresas International Sports Events (ISE) e Pitch International, que prevê redução do valor pago caso a seleção brasileira não entre em campo com seus principais jogadores.

Marin dividiu propina de R$ 346 milhões

A investigação realizada pela Procuradoria de Nova York descobriu que o ex-presidente da CBF José Maria Marin seria um dos cinco beneficiários de uma propina de US$ 110 milhões (R$ 346 milhões, na cotação desta quarta-feira, 27) pagos pela empresa uruguaia Datisa, criada pela Traffic e por outras duas agências de marketing para negociações de direitos de transmissão da Copa América.

Marin e os outros acusados receberiam o dinheiro por terem feito com que a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e a Concacaf (Confederação de Américas do Norte e Central) cedessem à Datisa os direitos mundiais de transmissão das edições da Copa América dos anos de 2015, 2019 e 2023, além da edição especial do campeonato em 2016, evento que será realizado nos Estados Unidos e reunirá seleções de todo o continente americano.

De acordo com os procuradores norte-americanos, o esquema foi fechado em janeiro de 2014, quando Marin era o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e membro do comitê executivo da Fifa. Já o representante da CBF na Conmebol, à época, era Marco Polo del Nero, atual presidente da CBF, que não é citado nas investigações. 

Leia, abaixo, a íntegra do discurso de Romário no plenário do Senado, nesta quinta-feira, 28:

Lutar contra a corrupção no futebol é muito difícil. Às vezes chega a ser desestimulador, tamanha a dificuldade de conseguir provas para provar crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas, propinas e extorsão.

Mas ontem, logo cedo, recebemos uma notícia que foi um alento para todos que amam o esporte, principalmente o futebol. O vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) José Maria Marin foi preso na suíça em uma operação da polícia local em conjunto com o FBI dos Estados Unidos.

Várias outras autoridades do futebol mundial, senhor presidente,  foram presas acusadas de participar de um esquema de corrupção que já duram 20 anos e movimentou US$ 150 milhões de dólares. Todos eles serão detidos e serão extraditados para o país americano. Podemos dizer que a polícia deu uma batida num ninho de ratos.

Todas as sete pessoas presas estavam no congresso anual da FIFA, que culminará amanhã na reeleição do presidente da entidade. Como sabemos todos, por este ser um jogo de cartas marcadas, o atual presidente da FIFA, Joseph Blatter, deve ser reconduzido ao cargo. Ele completará 20 anos no poder. Serão cinco mandatos seguidos. Particularmente, eu espero que ele seja preso antes de assumir um novo mandato.

Os concorrentes de Blatter foram desistindo aos poucos. Alegaram não ter condições de lutar contra as táticas do cartola. Um dos candidatos, o ex-jogador Figo desistiu. Figo afirmava que a FIFA não deve ser apenas uma de ganhar dinheiro. Concordo com este argumento. O objetivo da FIFA, senhora presidenta, assim como da CBF, não deve ser o lucro a qualquer custo. O futebol tem uma missão muito maior, de incluir socialmente, gerar renda, derrubar preconceitos, unir nações, etc, etc.

O nome do Brasil está hoje ligado a tudo que há de pior em termos de corrupção esportiva. Graças a um dos ratos que venho denunciando há muito tempo. A mesma pessoa que, ao lado da presidente Dilma Rousseff recebeu chefes de Estado em plena Copa do Mundo do futebol, José Maria Marin.

No caso da CBF, especificamente, as investigações do FBI citam acordos de direitos da Copa do Brasil com uma empresa de material esportivo americana assim como suborno pago por executivos de marketing esportivo relacionados à comercialização de direitos de mídia e marketing de diversas partidas da seleção brasileira e torneios organizados pela entidade. Há ainda suspeitas de que o suborno envolva contratos assinados para a realização Copa das Confederações da FIFA de 2013 e da Copa do Mundo de 2014.

Essa operação poderia ter sido realizada aqui, já no ano passado, porque assim emendaríamos a vergonha dos campos com a vergonha da corrupção. Mas certamente o aparato de segurança aqui deve ter sido muito grande. Na Suíça, um país de primeiro mundo, em um hotel com vista para os Alpes Suíços, eles deveriam estar confortáveis e despreocupados quando foram surpreendidos pelas autoridades.
Infelizmente não foi a nossa polícia que prendeu, mas alguém tinha que fazer um dia. Então, parabéns ao FBI e a polícia Suíça.

Mas vamos focar no Brasil, senhor presidente.

O Marin está preso e este é o momento oportuno para fazermos uma verdadeira devassa na CBF, a Casa Bandida do Futebol. Assim como o Marin, comprovadamente um ladrão, ainda temos que tirar outro câncer do futebol, o atual presidente da CBF Marco Polo Del Nero. De ontem pra hoje mais e mais informações não deixam de chegar. Já sabemos por exemplo que Marim, Marco Polo e Ricardo Teixeira recebiam propinas da Copa do Brasil. Segundo a investigação americana, recebiam 2 milhões de dólares. As empresas de marketing Traffic e Kleffer, ambas de marcas esportivas rateavam o pagamento do suborno.

Sra. presidenta, este tipo de negociata criminosa é o modus operandi dos dirigentes da CPF e eles já foram os responsáveis pela Copa das Confederações e Copa do Mundo. Os escândalos são sucessivos, não podemos esquecer que fomos surpreendidos com a notícia da venda da Seleção Brasileira de Futebol masculino. Jogador que entra em campo por valor de marketing. Escalação feita por empresários.

Tudo isso registrado em contrato. É o que comprova os contratos obtidos e divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo, a que tive acesso. Essas matérias também deixavam claro que a CBF praticava crimes de evasão de divisas e sonegação, ou seja, pratica.

Em 2012, como deputado, tentei instalar uma CPI através da Câmara para descobrir contratos suspeitos da CBF com a empresa aérea Tam.

Por tudo isso, tenho tentado emplacar uma CPI para investigar esses criminosos. Sim, criminosos. Transações milionárias, com empresas de fachada em paraísos fiscais, como mostra a imprensa, longe dos olhos da Receita Federal, são crimes de evasão de divisas. Evasão de divisas e sonegação fiscal. Uma quadrilha camuflada pelas cores da nossa bandeira, pelo nosso patrimônio cultural e solenemente festejada ao som do hino nacional.

Não há alternativa, ou todos esses caras são presos, ou eles continuarão sugando o futebol brasileiro como sanguessugas até sua morte definitiva. O que já não está muito longe. Talvez com este novo fato, tenhamos uma sobrevida.

Para finalizar, Senhor presidente, conto com o apoio dos nobres senadores para que esta Casa faça uma apuração concreta sobre todas essas possíveis irregularidades na entidade máxima do futebol brasileiro. Ontem coletei assinaturas para instalação de uma CPI do futebol. Foram exatamente 54, o dobro do necessário. O requerimento de instalação  já foi lido e agora aguardamos a instalação. Muito obrigado.