Topo

Votação apertada de Blatter acirra disputa e muda geopolítica da Fifa

Votação foi secreta. Blatter se reelegeu com mais de 130 votos. Príncipe Ali recebeu 73 - AFP
Votação foi secreta. Blatter se reelegeu com mais de 130 votos. Príncipe Ali recebeu 73 Imagem: AFP

Do UOL, em São Paulo*

30/05/2015 06h00

Joseph Blatter recebeu 133 votos dos 209 possíveis e foi reeleito após Ali bin Hussein, seu rival, ter abdicado do segundo turno. Para os parâmetros da Fifa, porém, foi uma eleição apertada. E a maneira como o manda-chuva da entidade perdeu votos pode alterar toda a geopolítica do futebol.

Antes de qualquer coisa, é preciso avaliar o peso do escândalo no pleito. Até a última quarta, o quinto mandato de Joseph Blatter era dado como favas contadas. Só que a Justiça dos EUA e o MP suíço prenderam sete cartolas, indiciaram outros sete e liberaram documentos que deflagraram o maior caso de corrupção da história do futebol.

Comandada por Michel Platini, a Uefa se levantou contra Blatter, chegou a ameaçar um boicote e votou em bloco no príncipe da Jordânia que ameaçava o reinado vigente. Arrastou consigo, porém, mais votos do que o presidente da Fifa poderia imaginar. Para se ter ideia, 73 países apostaram na oposição, ou seja, pelo menos 20 a mais que o bloco europeu, que leva 53 representantes.

Blatter perdeu votos em seus redutos eleitorais. Conmebol e Concacaf, por exemplo, são aliados históricos do sistema vigente da Fifa, mas foram as mais afetadas pelo escândalo. Segundo apurou o UOL Esporte, as duas confederações votaram rachadas.

O Brasil manteve o voto em Blatter. Outro país de peso, a Argentina optou pelo príncipe. "Não votamos de forma unida. Houve várias reuniões de terça-feira (26) para cá, mas não houve votação em bloco. Havia um acordo da votação em bloco no segundo turno, estava tudo programado quando o príncipe abdicou do segundo turno", explicou Mauro Carmélio, o presidente da Federação cearense de futebol, responsável pelo voto brasileiro na Fifa.

O número de votantes e a origem asiática do rival de Blatter denunciam que há oposição ao presidente além das Américas. O cenário é o contrário do que pregou o cartola, que antes do pleito pediu “espírito de equipe” para enfrentar a crise.

A questão é que, uma vez desafiado, Blatter pareceu disposto a contra-atacar. Seu primeiro discurso após a reeleição acenou à Oceania, continente que se manteve fiel a ele e pede uma vaga na Copa do Mundo – hoje o melhor do continente disputa um lugar na repescagem. O manda-chuva também falou em “surpreender” os colegas cartolas e disse ter ganhado “tempo” para colocar ordem na casa.

Seu primeiro ato será já neste sábado, na reunião do Comitê Executivo. O encontro, inicialmente, ameaçava a América do Sul, que tem quatro vagas garantidas na Copa e a chance de uma quinta seleção disputar a repescagem - esse “meio lugar” estaria em risco. Blatter disse que não mexerá na formatação da Copa, mas pode anunciar alguma mudança para edições futuras. De qualquer forma, será uma amostra da disputa que a Fifa terá pela frente.

*Colaborou João Henrique Marques, de Zurique (Suíça)