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CBF aumentou comissões de patrocínios na gestão Marin, mas esconde valores

Guilherme Costa e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

02/06/2015 00h10

Prática recorrente no mercado publicitário, o pagamento de comissões a intermediários de acordos comerciais é tema nevrálgico em investigação liderada pelo FBI (polícia federal dos Estados Unidos) – na última quarta-feira (27), como parte da operação, sete dirigentes ligados à Fifa foram presos em Zurique (Suíça). No Brasil, contudo, o assunto ainda recebe grande blindagem. As bonificações da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) a responsáveis por contratos tiveram incremento substancial no período em que a entidade foi comandada por José Maria Marin, um dos detidos na operação, mas os valores gastos com isso são protegidos.

Na época em que a CBF era comandada por Ricardo Teixeira, segundo contratos obtidos pelo UOL Esporte, as comissões a intermediários oscilavam entre 4% e 5% do valor do negócio. O mandatário deixou o cargo em 2012 e foi sucedido por Marin, que elevou o gasto com bonificação para algo entre 15% e 20%.

Marin deu lugar a Del Nero em abril de 2015. Depois de assumir, em entrevista à “ESPN”, o atual mandatário da CBF disse que as comissões de contratos comerciais da entidade giravam entre 5% e 8%. Entretanto, esses gastos não são detalhados.

O balanço da CBF em 2014, por exemplo, tem R$ 80,671 milhões em “serviços de terceiros” – acréscimo de R$ 38,630 milhões em relação ao ano anterior. A entidade não diz sequer se esse montante abarca a soma das comissões a intermediários – foram R$ 359,416 milhões amealhados em patrocínios, R$ 81,310 milhões a mais do que a instituição havia obtido em 2013.

Apenas um pequeno contingente de empresas tem autonomia para prospectar parceiros comerciais para a CBF. Nem essa lista é pública, ainda que alguns nomes sejam conhecidos, como a Sem Parar Comunicações e a DCSet.

Sem Parar Comunicações e DCSet intermediaram o contrato entre CBF e Nestlé, anunciado em maio de 2010. Na época, a empresa foi a 11ª marca a se associar à entidade. A primeira é da empresária Bia Aydar, amiga de Ricardo Teixeira e de Ana Teixeira, ex-mulher do presidente; Dody Sirena, um dos sócios da segunda agência, foi um dos investigados na CPI (comissão parlamentar de inquérito) do futebol em Brasília.

“Eu não vou entrar no mérito da parte administrativa. Trabalho no marketing, e no marketing os contratos foram relidos assim que eu assumi. Não tem problema nenhum. Todos estão citados em contrato – inclusive a pessoa [que recebe]. Se o cara ou a empresa traz [um patrocínio], tem de ganhar”, disse Gilberto Ratto, diretor de marketing da CBF desde 2014. “Pelo menos quatro ou cinco trazem. Quem traz um bom negócio é quem está no mercado”, completou.

A explicação da entidade para o sigilo sobre as comissões é que detalhes de contratos são protegidos por cláusulas de confidencialidade. No entanto, a CBF alega ter tomado iniciativa de enviar cópias de acordos ao Ministério Público a fim de dirimir dúvidas. “Hoje em dia, todo mundo que faz essa parte de trazer patrocinador tem comissão. A comissão varia. Não sei dizer exatamente. Isso existe e é citado em contrato. Não tem erro”, completou Ratto.

Em depoimento à Justiça dos Estados Unidos, o empresário brasileiro José Hawilla, dono da Traffic, falou sobre o contrato entre CBF e Nike, que foi intermediado pela agência dele. Segundo o executivo, Ricardo Teixeira, que presidia a CBF na época da assinatura do acordo, recebeu pelo menos R$ 47 milhões em propina para isso.

A avaliação da CBF, porém, é que esse tipo de denúncia abrange ações que estão à margem dos contratos. Portanto, não há na entidade a ideia de tornar públicas as comissões pagas a intermediários.

Adicionar transparência à gestão da CBF foi a primeira grande promessa feita por Marco Polo del Nero quando assumiu a presidência da entidade. Foi esse o tema central do discurso de posse do mandatário – e também uma espécie de “mantra” nas primeiras entrevistas que ele concedeu após chegar ao cargo.