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Próximo presidente da Fifa vai ter de convencer eleitores de Blatter

Sepp Blatter durante o Congresso da Fifa, que o reelegeu há menos de uma semana - FABRICE COFFRINI / AFP
Sepp Blatter durante o Congresso da Fifa, que o reelegeu há menos de uma semana Imagem: FABRICE COFFRINI / AFP

Do UOL, em São Paulo

03/06/2015 00h01

Há menos de uma semana, Joseph Blatter foi reeleito com 133 dos 209 votos de federações da Fifa. Foi menos do que ele se acostumou a ter em pleitos anteriores, mas o suficiente para que a força do “sistema” prevalecesse. Para alegria de seus vários opositores, o homem que dominou o futebol nos últimos 17 anos renunciou. Mas e quem o apoiou?

A resposta a essa pergunta é uma das chaves para a eleição do sucessor de Joseph Blatter, que deve ocorrer entre dezembro deste ano e março de 2016. De todos os possíveis candidatos que surgiram na esteira do manda-chuva suíço, quase todos tinham como plataforma a mudança que Ali bin Hussein já estampava na sua campanha encerrada na semana passada.

O colégio eleitoral da Fifa, formado por 209 países votantes, escolheu a continuidade de Blatter dois dias depois de o FBI e a polícia suíça terem prendido sete dos 14 indiciados cartolas pela procuradoria do Estado de Nova York em um mega caso de corrupção. E, ao que tudo indica, o colégio eleitoral e as regras do jogo não mudarão, ao menos não significativamente.

“Sob as regras que regem a Fifa, a eleição do presidente e qualquer reforma fundamental nos estatutos da Fifa tem de ser votada pelos membros em um congresso da Fifa”, disse Domenico Scala, presidente do comitê independente de auditoria da Fifa, que terá papel fundamental na transição entre Blatter e o próximo presidente, que deve ser eleito em um congresso extraordinário.

Por isso, todos os que querem o cargo de Blatter precisam entender as regras do jogo e não acreditar cegamente no vácuo de poder. As declarações animadas de opositores do suíço, que comemoram a queda histórica e anseiam por uma revolução, dão a impressão de uma revolução em andamento. Só que aqueles que apoiaram Blatter há uma semana não foram tão eloquentes.

A CBF, única entidade sul-americana que votou pela reeleição, registrou a renúncia em um comunicado de duas linhas, manifestando respeito pela decisão de Blatter. O mesmo fizeram as confederações de África (56) e Ásia (46), que juntas têm quase 50% dos 209 votos e são currais eleitorais de Blatter. Para completar, quem falou abertamente adotou um discurso bem diferente da oposição.

“A mídia do Ocidente viu isso e Platini [presidente da Uefa e rival político de Blatter] foi antidesportivo ao pedir que ele saísse três vezes. Aquele homem [Blatter] fez muito pela Fifa. O legado dele estará em todo o mundo, inclusive na Inglaterra e na Alemanha, onde todos se beneficiarem do sistema que ele criou. Pela África ele estava sempre aqui, ele estava sempre cuidando”, disse Kalusha Bwalya, presidente da federação da Zâmbia, segundo o Guardian.

Issa Hayatou, presidente da Confederação Africana de Futebol e vice da Fifa, vai mais longe. “Blatter fez muito pela África, assim como pelo resto do mundo. Tudo que ele deu foi justo. Ele apoiou as federações menores. Ele sempre distribuiu o mesmo para as 209 federações do mundo inteiro. Seja quem for o sucessor, ele terá de lidar com a África. Não pode ser de outro jeito. Eu espero que seja alguém preparado, que saiba lidar com a família inteira”, disse ele, ao site France24.

Não por acaso, o camaronês é um dos poucos “herdeiros” de Blatter apontados como possíveis sucessores do suíço. Por enquanto, ele nega a possibilidade. Se der um passo adiante, porém, caberá a ele defender o “sistema” contra a revolução pregada por nomes como Ali bin Hussein, Figo, Ginola, Zico e outros.