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"Bala explodiu dentro do meu olho", diz torcedor ferido por PM em Joinville

O torcedor Jonathan Willian, que perdeu o olho direito após ser atingido por uma bala de borracha - Arquivo pessoal
O torcedor Jonathan Willian, que perdeu o olho direito após ser atingido por uma bala de borracha Imagem: Arquivo pessoal

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

08/06/2015 06h00

O jovem de 15 anos Jonathan Willian, que perdeu a visão do olho direito após ter sido atingido por uma bala de borracha disparada pela Polícia Militar de Santa Catarina no último sábado (6), disse ao UOL Esporte que o projétil disparado explodiu dentro de seu globo ocular direito, e por causa disso os médicos não foram capazes de salvar o órgão.

"A bala estourou dentro do meu olho, não tenho mais o olho direito, ele foi destruído, colocarei prótese", contou Jonathan, que se recupera em casa e deverá colocar a prótese daqui a 60 dias.

O adolescente estava em frente à Arena Joinville para assistir à partida entre o time da casa e o Corinthians, válida pelo Campeonato Brasileiro. Segundo o jovem e seus amigos, o disparo foi efetuado a cerca de 15 metros de Jonathan. Após voltar do hospital, ele postou mensagens nas redes sociais mostrando bastante indignação e raiva pela ação que lhe tirou a visão direita.     

De acordo com Leandro Rocha, amigo de Jonathan que estava junto com a vítima no momento do disparo, os dois não estavam envolvidos em qualquer briga, mas os disparos estavam sendo efetuados indiscriminadamente:

"Eu estava perto do Jonathan quando o policial atirou na nossa direção. Eu estava com minha namorada e mandei ela correr para um lugar seguro. Ela pediu que ele fosse junto, afinal somos todos amigos, mas não deu tempo de nada. O policial apontava a arma em nossa direção, daí eu olhei para frente, escutei os disparos e somente após o tumulto encontrei o Jonathan me procurando, com a mão no olho, pedindo ajuda", contou a testemunha.

Conflito de versões

A reportagem do UOL Esporte ouviu quatro torcedores que estavam no local onde ocorreram os confrontos entre policiais, corintianos e torcedores do Joinville no último sábado. Segundo eles, a confusão começou quando veículos com torcedores do Corinthians começaram a chegar ao estádio pela mesma rua onde estavam concentrados torcedores do catarinenses. Em um dado momento, teve início uma briga entre torcedores das duas equipes.

A Polícia Militar, então, chegou para encerrar o conflito utilizando bombas de gás e efeito moral, tropas da cavalaria e disparos de balas de borracha. Depois disso, um ônibus com torcedores corintianos chegou no mesmo local, para "vingar" aqueles que tinham brigado anteriormente. Um novo confronto, então, teria tido início, quando novamente a PM fez intervenção usando armas não letais.

Já a torcida organizada União Tricolor, do Joinville, enviou ao UOL Esporte uma nota oficial com a sua versão dos fatos:

"Na reunião feita com a PM dias antes do jogo foi avisado que esta era uma partida com alto risco de confronto entre as torcidas, já que a União é "amiga" da Independente (do São Paulo Futebol Clube) e Gaviões da Fiel é aliada a uma torcida organizada do Figueirense.

Os erros começaram porque o trânsito não foi totalmente desviado, e boa parte da torcida adversária veio e ficou a dez metros da torcida local. Por volta das 20h, começaram a chegar carros e vans de corintianos, e os confrontos começaram em frente a uma padaria onde nossa torcida se concentra. Nossa torcida não foi lá no local destinado aos visitantes brigar. A polícia não escoltou as torcidas organizadas adversárias como o combinado.

Por volta das 20h40, passou nessa mesma rua um veículo Idea branco, onde estavam membros da diretoria de uma torcida organizada do Corinthians. Ali começou outra briga. Nesse momento começou uma guerra, porque a PM começou a atirar bala de borracha para todo lado, uma delas acertou o garoto (Jonathan). Este conflito demorou cerca de 30 minutos.

Por volta das 21h35, vários torcedores do Joinville que não eram de organizada notaram que a Gaviões da Fiel estava fora da área visitante e que estava indo em direção ao ponto de concentração da torcida do Joinville. Muitos foram avisar os policiais, mas ouviram respostas como "deixa eles virem! A torcida do Joinville não é valente? E riam e deboxavam.

Então, a torcida do Joinville foi em direção aos corintianos que estavam com paus e pedras e começou a briga. Depois de cerca de cinco minutos, a polícia interveio novamente indo pra cima da torcida do Joinville e atirando muitas bombas."

Já a Polícia Militar de Santa Catarina, por meio comandante do 8º Batalhão, tenente-coronel Nelson Coelho, contou versão bastante distinta acerca dos mesmos fatos: 

"Todas as torcidas organizadas que fizeram contato com a Polícia Militar foram orientadas e escoltadas. O que tivemos foi um grupo de torcedores do Corinthians, que são moradores da cidade de Joinville, que vieram ao estádio sem informar a PM, e entraram pela rua Inácio Bastos (onde se encontravam os torcedores do time da casa).

Ao entrarem na rua, desceram do ônibus e houve o primeiro confronto entre torcedores da União Tricolor e os do Corinthians. A PM conseguiu evitar um mal maior e, logo depois, a torcida organizada União Tricolor veio com paus, pedras e cadeiras contra guarnições da Polícia Militar 

Houve um cavalo da Polícia Militar ferido e alguns policiais militares também. Ainda há um jovem que foi internado no Hospital São José que relata ter sido atingido por uma bala de borracha. Assim que tivemos a informação, uma guarnição foi ao hospital para tentar identificar que tipo de lesão ocorreu. A informação não nos foi dada. Abriremos inquérito para apurar os fatos que a geraram e que tipo de lesão ocorreu. Vamos apurar se as ações da Polícia Militar e os procedimentos foram dentro de norma."