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Del Nero exalta gestão Marin, mas 'lava as mãos' sobre contrato suspeito

Do UOL, no Rio de Janeiro

09/06/2015 20h06

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, defendeu medidas da gestão de seu antecessor José Maria Marin em audiência pública realizada nesta terça-feira (9) na Câmara dos Deputados. Exaltou, inclusive, sua relação de “irmão” a qual ele mantém com o cartola preso na Suíça desde o final de maio. Questionado por parlamentares sobre sua participação na assinatura de contratos sob suspeita de corrupção, entretanto, Del Nero isentou-se: “não assinei nada.”

O presidente da confederação, aliás, já havia “lavado suas mãos” sobre as suspeitas de corrupção na CBF em entrevista coletiva concedida logo após a revelação do escândalo de corrupção na Fifa e CBF investigado pelo FBI (polícia federal americana). Del Nero ratificou nesta terça que, apesar de ser vice-presidente e conselheiro de Marin, não é o responsável por possíveis negócios ilegais fechados pelo ex-presidente da CBF.

Segundo o FBI, Mari recebeu propinas em negociações fechadas para venda de direitos sobre a Copa do Brasil. Ele também foi implicado na investigação da promotoria de Nova York, que apontou desvios de US$ 150 milhões em propinas e subornos em negócios do futebol. 

Perguntado sobre essas negociações, Del Nero disse que chegou dar conselhos a Marin, mas que nunca soube de ilegalidades: "nenhuma notícia eu tinha, nem sabia que qualquer fato desabonador do presidente Marin", disse ele. "Eu acompanhava os contratos quando era chamado. Poderia opinar? Poderia. Mas palavra final é sempre do presidente."

Del Nero, contudo, não separou-se de Marin quando falou sobre medidas consideradas positivas tomadas na gestão do ex-presidente. Por mais de uma vez, Del Nero falou sobre o trabalho da CBF para o fortalecimento das Séries C e D do Campeonato Brasileiro. Sobre esse assunto, em específico, o atual presidente da confederação foi só elogios ao seu “grande companheiro”.

“Ninguém queria jogar as Séries C e D. O Marin resolveu pagar tudo: bolas, viagem, passagem. Só não pagou salário”, disse Del Nero a deputados. “Agora tem briga de foice para disputar essas competições. ”

A gestão de Marin também foi lembrada por Del Nero quando ele citou o “sucesso da organização da Copa do Mundo” e até quando ele foi questionado sobre a derrota de 7 a 1 da seleção brasileira no Mundial de 2014. O presidente da CBF chamou a derrota de “tragédia”, mas disse que Marin escolheu o melhor técnico disponível para comandar a equipe nacional na Copa realizada no Brasil. “Quando o Felipe [Luis Felipe Scolari] foi contratado, foi uma unanimidade nacional. ”

Apesar disso tudo, Del Nero reforçou no Congresso que pretende modernizar a CBF em seu mandato. Vai reformar o estatuto da entidade e implantar políticas de governança. Essas medidas foram os grandes argumentos do presidente da CBF para tentar convencer deputados de que a atual gestão da confederação não teme problemas de corrupção.

Veja, abaixo, os principais trechos do depoimento de Del Nero:

Por que só agora o senhor passou a defender limitação de mandatos e reeleição?
A nossa proposta é de um mandato mais uma reeleição. Eu entendo que o mundo tem mudado, o planeta muda, os homens mudam, não podemos viver do passado quando tinham dirigentes com 40 anos no futebol. Esta é a sensibilidade que eu tenho, o que passa pelo mundo afora. Eu entendi que tinha que haver uma mudança e que eu tinha que ser exemplo. Um mandato e uma reeleição é completamente plausível. Pode ser exemplo para os clubes, para federações. Eu digo: gente, o futebol mudou, o planeta mudou, temos que fazer reformas dentro da nossa casa. Essa é nossa proposta, esse é nosso trabalho.

Qual é a sua participação, como vice de Marin, nos contratos da CBF?
Eu acompanhava os contratos quando era chamado. Em alguns fui chamado, outros não. E aqueles que fui chamado participava como ouvinte. Poderia opinar? Poderia. Mais na base do tempo de contrato, porque já estava determinado valores. É por aí que participava. A palavra final é sempre do presidente. Eu participei, sim, mas no regime presidencialista quem manda é o presidente.

Como é a sua relação com o vice mais velho, que assumiria a CBF caso você renunciasse?
Sempre ótima. O presidente Delfim [Peixoto, presidente da Federação Catarinense de Futebol} no processo eleitoral veio conosco. Aí RS e PR não estiveram conosco. Durante todo tempo eles estiveram contra minha administração, votaram em branco. O Delfim foi um grande companheiro. É um grande companheiro. Eu tenho só elogios ao apoio que ele tem nos dado. É interessante que no processo eleitoral falaram para eu tirar o Delfim, mas a gente tem um compromisso com quem veio primeiro e se tem um compromisso tem que assumir o compromisso. Eu perderia a eleição, mas ficaria com ele.

Quais os critérios para contratação de empresas de marketing pela CBF?
Nós não contratamos empresa de marketing. As que forem lá a gente contrata na hora. A gente não tem nenhuma empresa de marketing fazendo propaganda da CBF. Não existe isso.

Tinha conhecimento do que aconteceu nos Estados Unidos? Qual o envolvimento da CBF nas denúncias até agora?
Nenhuma notícia eu tinha, nem sabia de qualquer fato desabonador do presidente Marin. Em hipótese alguma, até porque não compartilho destas coisas. Depois de julgado, vou ter que aceitar ou não. Não compartilho disso. Eu estava no hotel, me telefonaram falando que o presidente foi detido. Fui de encontro para saber o que estava passando. Marin eu tinha como uma pessoa que considerava como um irmão, mas não posso responder pelos seus atos, posso responder pelos meus atos.

Os escândalos são piores do que o 7 a 1?
Quando o Felipe foi contratado, foi uma unanimidade nacional, campeão do mundo. Era o melhor naquela oportunidade. Ele é uma pessoa excepcional, merece todo nosso respeito. Mas como torcedor a gente começa a analisar. Ele gosta daquela coisa de família, ele foi campeão na Copa das Confederações em 2013, foi lindo, bater a Espanha, 3x0. Daí, passado um ano, a convocação foi praticamente a mesma. E esse é um dos problemas que podemos ter tido. Estariam estes jogadores na mesma condição que estavam em 2013? Porque de um dia pro outro o jogador cai de produção. Foi feita a melhor escolha? Falo como torcedor. Acho que não. O time não estava bem, não jogou bem, ao contrário da Copa das Confederações. Se não tivesse a história da família, os mesmos que ganharam em 2013, acho que teríamos um outro momento. Mas futebol é tragédia.

Vai renunciar?
Renuncia quem tem alguma coisa errada na vida. Eu não renuncio não. Eu vou cumprir meu mandato, fui eleito democraticamente, com 25 dos 27 votos. Tenho obrigação. Às vezes dá vontade de ir embora. Presidente de clube tem vontade de ir embora todo dia, mas ele tem obrigação com o eleitorado dele, ele não pode deixar quem os deixaram um dia. Vou ficar lá até o último dia.

Retirada do nome de Marin da fachada da sede da CBF
Foi para preservar a entidade. Houve uma determinação da Fifa do banimento provisório do Marin por 90 dias. Digamos que ele seja absolvido, que não seja banido. O nome dele vai figurar novamente [na fachada]. No estatuto não mudou

Relação com o Bom Senso
Eu entendo que o Bom Senso tem um papel como atleta de futebol. Mas recebi outro dia na CBF o sindicato dos atletas, que representa a classe, e eu dizia: Venha com uma bancada de atletas também. Porque a gente ouve atletas que se denominam Bom Senso... Veja como eu busco a verdade dos fatos, eu peço para que o sindicato traga cinco ou seis atletas e eles levaram nove atletas. E felizmente aquele dia estava o deputado Pastor Franklin. Eu convidei. Porque quando vamos fazer uma reunião não tem porta fechada, detesto porta fechada. Entra quem quer. Recebo qualquer um, qualquer pessoa. E quando a gente recebe uma pessoa ilustre, como o Pastor Franklin, ele participou, com nove jogadores de futebol que fizeram críticas ao Bom Senso. Temos que aperfeiçoar para aquilo que a gente acha de melhor.