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"País mais honesto do mundo", Dinamarca já teve escândalo no futebol

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

11/06/2015 12h00

Referência mundial em análise da corrupção, a organização Transparência Internacional divulga anualmente, desde 1995, o ranking da percepção de corrupção. O estudo indica o quanto a população de cada país acredita na honestidade de suas instituições públicas e colocou, em sua edição 2014, o Brasil na 69ª posição. Se não estamos nada bem, o mesmo não se pode dizer da Dinamarca: o país, quase sempre um frequentador das primeiras colocações, foi o “campeão” do ranking.

Mas estar no topo não significa, claro, que um país está livre de casos de corrupção. Tanto é que nenhum deles tirou nota 100, o índice máximo. Os dinamarqueses ficaram com 92. E, se estes tempos de escândalos no futebol nos levam, infelizmente, a relacioná-lo à corrupção, a nação escandinava é uma prova disso. 

Ano passado, um esquema de armação de resultados envolveu pelo menos seis pessoas e o time do Hvidovre IF, da capital Copenhague. Em 2010, duas partidas da equipe na segunda divisão – derrota de 4 a 2 para o FC Hjørring e de 5 a 0 para o Vejle Boldklub - foram “arrumadas” de modo a beneficiar apostadores de uma organização filipina. No primeiro jogo, teria havido um consenso de que o Hvidovre IF deveria levar ao menos quatro gols, enquanto no segundo a equipe deveria sofrer pelo menos dois.

O esquema teria rendido cerca de 900 mil coroas dinamarquesas aos envolvidos, hoje algo em torno de 136 mil dólares. Em agosto, quando o escândalo veio à tona, o goleiro do Hvidovre IF seria um dos envolvidos, mas até o momento apenas um deles foi condenado.

Evidentemente, o caso dinamarquês é pequeno e isolado, e sequer cabe compará-lo com os grandes eventos de corrupção no futebol (muito menos fazer qualquer tipo de paralelo com o Brasil). Porém, se até o país tido como “o mais honesto no mundo” já teve seus problemas no futebol, o que dizer do Brasil?

“A maneira como, por exemplo, os clubes e as federações se organizam no Brasil são um reflexo da nossa sociedade. E facilitam a corrupção e a falta de democracia”, diz Ronaldo Helal, sociólogo e professor da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). “Falar em corrupção no Brasil é algo muito mais nebuloso do que se imagina. Dependendo da região do país, uma certa atitude pode ser um favor, enquanto em outra é ´jeitinho` e em outra é considerada corrupção”, acredita o professor.

Ou seja: salvo em casos isolados, o futebol na Dinamarca está muito menos sujeito à corrupção porque, lá, a sociedade é menos propensa a ser corrompida. Na visão do professor, isso se dá tanto por razões estruturais quanto culturais. “O futebol espelha todas as esferas da nossa vida social”, completa Helal.

Em reportagem publicada na época em que o último ranking foi divulgado, a Agência Brasil mostrou o que alguns dinamarqueses pensam sobre o assunto. E suas opiniões vão ao encontro da elaborada pelo professor. “O país (a Dinamarca) começou a lutar contra a corrupção muito cedo, ainda durante o processo de construção do Estado dinamarquês”, disse o professor Gert Tingaard Svendsen. Para ele, “o reforço dessas práticas ao longo dos séculos, além de um amplo sentimento de confiança existente entre os cidadãos, é a base do Estado dinamarquês”.

Outro entrevistado pela Agência Brasil à época foi o cientista político dinamarquês Jorgen Dige Pedersen. Sua visão é a de que o Brasil precisa “trabalhar para melhorar a eficiência e a transparência das instituições públicas”, mas que tal demanda “precisa partir dos próprios cidadãos, já que os líderes políticos são os que mais se beneficiam com o modelo atual”.

O Brasil divide a 69º posição do ranking de percepção de corrupção com Bulgária, Grécia, Itália, Romênia, Senegal e Suazilândia. Entre os vizinhos sul-americanos, Chile e Uruguai são os mais “honestos” e estão empatados na 21ª colocação.

Confira abaixo o mapa feito pela Transparência Internacional. Quanto mais vermelho, maior a percepção de corrupção. Quanto mais amarelo, menor.