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8 lugares do Brasileiro onde jogar futebol é uma fria

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

21/06/2015 06h00

Em maio de 1979, um “monstro polar” invadiu o Brasil. E quem sofreu foram os jogadores do Grêmio e do Esportivo de Bento Gonçalves, que precisaram entrar em campo pelo Gauchão debaixo de neve. Sim, neve. Apesar de pouco frequente no país, o fenômeno já aconteceu no Brasil durante uma partida de futebol oficial em pelo menos quatro oportunidades. Na mesma noite (30 de maio), os jogadores de Chapecoense e Criciúma também encararam a neve em Chapecó. O mesmo ocorreu em Lages (SC), onde o Avaí e o Inter local duelaram em um gramado coberto de gelo. Já em 17 de julho de 1975, foram Juventude e Internacional de Santa Maria que disputaram, em Caxias do Sul, uma partida com ares europeus.

“Estava tão frio que mal dava para se concentrar no jogo. Acho que foi por isso que terminou 0 a 0”, brinca Baltazar, o “artilheiro de Deus”, que esteve em campo pelo Grêmio em Bento Gonçalves. “Naquela época não tínhamos esses uniformes especiais para enfrentar o frio. Se trocar antes do jogo já foi um tormento”, lembra o atacante. Já o lateral Tarciso, o “flecha negra”, revela que os jogadores sofriam tanto com o frio que tentaram convencer o massagista do Grêmio a colocar um pouco de conhaque em seus cafés antes do jogo. “Só queríamos que a partida terminasse logo para entrarmos no ônibus com ar quente e voltarmos para Porto Alegre, que era menos frio.”

O inverno começou neste domingo e, embora a chance de voltarmos a assistir uma partida sob neve no Brasil seja remota, não dá para dizer que é totalmente descartável. Além disso, pode até faltar neve no futebol, mas não dá para dizer o mesmo do frio. Nas quatro divisões do Campeonato Brasileiro, oito times vão receber jogos que poderão chegar até a oito graus negativos.

Confira abaixo onde será uma gelada jogar no Brasileiro:

Chapecó 

Desde que a Chapecoense chegou à Série A ano passado, os times da elite do Brasileirão têm que jogar em uma cidade realmente fria. Vídeos postados no YouTube mostram neve fraca na cidade durante a grande onda de frio de julho de 2013. E, apesar da média das mínimas na cidade durante os meses do inverno ficar próxima aos 10 graus, registros do Epagri/Ciram, órgão que monitora o tempo em Santa Catarina, mostram os recordes congelantes já alcançados por Chapecó: -2,8°C em junho, -4,5°C em julho e -4,0°C em agosto. Ou seja, nos sete jogos que a Chapecoense ainda fará em casa este ano até o final de agosto, há uma boa chance de jogadores e torcedores precisarem encarar baixas temperaturas no oeste catarinense.

“A maior preocupação nesse período é a hipotermia, ou seja, a diminuição da temperatura corporal, que pode provocar desde calafrios (tremores pelo corpo) a confusão mental, euforia, irritabilidade, irritações na pele e no sistema respiratório e até o congelamento das extremidades”, explica Anderson Paixão, preparador físico da Chapecoense e integrante da comissão técnica da Seleção Brasileira. “Isso porque, com o frio, diminui a circulação de sangue para as partes mais distantes do corpo humano”, explica.

Paixão, contudo, diz que é mais comum os atletas sofrerem com o calor e a alta umidade do que com o frio. Mas não descarta que baixas temperaturas tragam problemas. “Pode acontecer de um atleta não acostumado ao frio entrar em processo de fadiga antecipada por causa da alta demanda energética para manter a temperatura corporal”.

Média das mínimas no inverno em Chapecó: 10°C

Caxias do Sul 

Casa do Juventude e do Caxias, que disputam a Série C, a gaúcha Caxias do Sul sabe bem o que é o frio. Praticamente todos os invernos registram temperaturas abaixo de zero, e neve por lá é relativamente comum (pelo menos para os padrões brasileiros) – basta procurar por “neve” e “Caxias do Sul” no YouTube. No final de agosto de 2013, a nevasca na cidade foi tão forte que o treino no CT do Juventude não ficou devendo em nada aos realizados em países europeus. Deu até para os jogadores fazerem bolas de neve “de respeito” (veja foto no álbum). A menor temperatura já registrada em Caxias do Sul, segundo a série histórica do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) foi de -3°C em 2000 e em 2012.

Média das mínimas no inverno em Caxias do Sul: 9°C

Lages 

Os adversários do Inter de Lages na Série D do Campeonato Brasileiro que se preparem: como bem sabem aqueles jogadores que atuaram na tal partida de 1979, jogar lá no inverno não é nada fácil. Apesar de menos frequente, a neve cai às vezes na cidade, as geadas são comuns e os recordes de frio locais falam por si: -6,4°C em junho, -8,0°C em julho e -6,0°C em agosto.

Média das mínimas no inverno em Lages: 7°C

Erechim 

Outro time da série D do Brasileiro que pode literalmente colocar seus adversários numa fria é o Ypiranga. O time é de Erechim, no Rio Grande do Sul, cidade que também teve neve em 2013. Antes, o fenômeno já havia acontecido por lá em 1918, 1942, 1956, 1957, 1965, 1990 e 2001, e a menor temperatura mínima oficial, de acordo com o Inmet, foi de -3,7°C em 2007.

Média das mínimas no inverno em Erechim: 8ºC

Lajeado 

A cidade gaúcha, que também terá um time na Série D deste ano, não é tão fria quanto suas “colegas” serranas. Mas não dá para dizer que as equipes que forem enfrentar a Lajeadense vão escapar de um bom frio. No meio do caminho entre Porto Alegre e a Serra Gaúcha, Lajeado tem, segundo o site da sua prefeitura, “200 a 300 horas anuais de frio, com temperatura abaixo de 7° C, no período de maio a setembro”.

Média das mínimas no inverno em Lajeado: 9°C

Pelotas 

Ali quase no extremo sul do Brasil, Pelotas é a primeira cidade a receber as frentes frias que chegam ao país. Pelo menos entre as que têm times nas Séries A, B, C ou D (no caso, o Brasil de Pelotas, que este ano disputa a C). Só isso já seria um bom motivo para a cidade gaúcha figurar nesta lista, mas suas baixas temperaturas (recorde de -3,0°C, segundo a Estação Agroclimatológica de Pelotas), aliada a baixa sensação térmica causada pelo vento constante da região, só reforçam sua presença aqui.

Média das mínimas no inverno em Pelotas: 12°C

Ponta Grossa 

Campeão paranaense deste ano, o Operário será outro a disputar a série D este ano. O time é de Ponta Grossa, cidade há cerca de 115 quilômetros de Curitiba e relativamente próxima da fronteira com São Paulo (em linha, apenas cerca de 150 quilômetros de distância). Quem for jogar lá, porém, não está livre de eventos de frio extremo. A temperatura mínima absoluta já registrada na cidade, em 1975, é de -6,0°C, segundo o IAPAR (Instituto Agrônomo do Paraná), e a cidade também teve neve fraca em 2013.

Média das mínimas no inverno em Ponta Grossa: 13°C

Curitiba e Porto Alegre

Apesar de não figurarem na nossa lista oficial, as capitais do Paraná e do Rio Grande do Sul merecem “menção honrosa”. Ou melhor, os times que desembarcarem por lá para enfrentar o Atlético-PR, o Coritiba, o Grêmio e o Inter também podem encarar um frio daqueles. Basta dizer que Curitiba já teve neve (forte) em 1975 e (fraca) em 2013 e, em 1984, nevou o suficiente para que as pessoas fizessem bonequinhos de neve em Porto Alegre.

Recife

Recife? Como assim? Não, é claro que não faz frio no Recife. Mas, só para avisar, quem for jogar na capital pernambucana durante o inverno pode enfrentar outro inconveniente: a chuva. A média pluviométrica mensal em junho e julho se aproxima dos 400 milímetros por lá. É água pra dedéu.