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Gêmeas do Santos confundem até o técnico e viram 'Bia e Branca' do futebol

Maurício Dehò e Samir Carvalho

Do UOL, em São Paulo e Santos

26/06/2015 06h01

Ver um jogo do time feminino do Santos pode ser um tanto confuso. Há quem olhe para o campo, veja uma loirinha e pense: “Nossa essa menina corre demais, está em todos os lances. Quer cruzar e cabecear!”. Calma. Não é uma só. São duas: as gêmeas canhotas Natane e Chaiene Locatelli, gaúchas de 20 anos da cidade de Garibaldi, contratadas este ano pelo time do Santos e tão parecidas que confundem até o técnico do time.

Natane, a mais velha por três minutos, joga na lateral esquerda. Chaiene é meia. Sempre juntas, elas têm uma trajetória ao estilo Bia e Branca, as irmãs do nado sincronizado. Começaram em sua cidade natal e passaram por Porto Alegre, Kindermann, Foz, Vitória e as bases da seleção brasileira, até chegarem ao time da Vila Belmiro, para “desespero” do técnico Caio Couto.

O treinador até já descobriu como reconhecer cada uma, mas nem sempre as coisas são tão simples como reparar em uma marca na pele. Assim conta Chaiene: “Eu tenho uma pinta no pescoço, a Natane não tem. Uma vez, do nada, apareceu um negócio preto no pescoço dela. O técnico disse: ‘Chaiane, vai pra lateral’, e ela com a ‘pinta’ no pescoço. Ele achou que era eu, por causa do negocinho do gramado sintético (risos).”

E assim é com muitos. As rivais de times adversários às vezes levam tempo para se dar conta de que são duas loirinhas bagunçando pelo campo todo. Os árbitros, então, precisam ter cuidado...

“A gente já tentou enganar o árbitro, pois eu já tinha tomado um (cartão) amarelo. Ela estava perto do lance e eu tentei falar que foi ela, não deu certo e fui expulsa. Já aconteceu bastante de eles se enganarem”, diz Natane. A irmã se lembra de outro momento. “Eu estava com amarelo, fiz uma falta e sabia que seria expulsa, ela estava perto, então eu sai e fui para o outro lado. O juiz deu amarelo para ela, pois ele estava longe do lance e não viu.”

Apesar destes “migues”, elas garantem que foram situações que já passaram. “Cumprir suspensão pela outra, nunca fizemos, não aceitaríamos”, decreta Natane.

O futebol sempre esteve presente na vida da dupla, que cresceu em um bairro cheio de meninos. Mesmo quando ganharam duas bolas de vôlei, botaram-nas nos pés imediatamente, fruto também do gosto do pai pelas “peladas”. Desde os 9 anos elas já faziam futsal e aos 14 entraram no Porto Alegre.

“Sempre fomos muito unidas, gostamos de fazer a mesma coisa. Nunca jogamos em times diferentes, demos sorte dos clubes terem interesse em nós duas. A Natane é minha melhor amiga. Faço tudo com ela, é a pessoa que mais confio”, comenta Chaiene.

Falando sobre a comparação com Bia e Branca, Natane vê como algo de bom valor, apesar de ouvir críticas de quem acha que elas não têm talento e só ganham espaço por marketing. “Eu acho a união delas muito interessante, igual à nossa. E, pelo fato de sermos gêmeas, chama atenção da mídia. Vejo isso como muito positivo”.

A dupla já jogou na seleção brasileira sub-17 e disputou o Mundial da categoria. Agora, deixaram de lado uma chance de estudar nos Estados Unidos e veem no Santos a maior chance da carreira decolar. Natane admite que “a responsabilidade aumenta, pois é um clube de camisa”. Chaiene completa: “Não existe clube no Brasil que tem essa estrutura. Muita gente queria estar no nosso lugar. É um sonho para a gente. Eu assistia na TV, via a Marta jogando, sempre quis estar aqui”.

A única nota ruim para elas é que Chaiene se lesionou recentemente, no ligamento cruzado do joelho esquerdo, e está afastada por até seis meses, deixando a irmã sozinha em campo. “Está sendo muito difícil, fazíamos tudo juntas e agora a gente só se vê à noite, pois passo a tarde fazendo fisioterapia”, lamenta ela. “Fiquei triste, mas logo ela vai estar jogando”, completa a irmã.