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Sem Del Nero, Brasil cai enfraquecido nos bastidores e nos vestiários

Guilherme Palenzuela e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, em Concepción e Santiago (Chile)

28/06/2015 12h00

A seleção brasileira se despediu da Copa América neste sábado (27) após ser derrotada nos pênaltis pelo Paraguai, nas quartas de final. Sem o capitão e principal jogador Neymar, o time de Dunga praticou futebol abaixo do esperado e acabou eliminado de forma precoce, da mesma forma que aconteceu na edição do torneio em 2011, mas ainda assim surpreendente. Do torneio, a seleção tira a experiência de ter vivido um momento de até então desconhecido enfraquecimento nos bastidores da Conmebol e nos vestiários, com os jogadores.

No dia 16 de abril Marco Polo Del Nero assumiu a presidência da CBF. No dia 27 de maio, há um mês, seu antecessor e padrinho no cargo José Maria Marin foi preso com outros seis dirigentes do futebol na Suíça, envolvidos com pagamentos de propina relacionados a acordos de marketing e transmissão de jogos em competições da Conmebol e da Concacaf. O escândalo a partir de uma investigação do FBI chegou à Fifa e causou a renúncia do presidente Joseph Blatter dias depois de sua reeleição. Os abalos afetaram, também, Marco Polo Del Nero.

Del Nero não foi ao Chile para acompanhar a Copa América e deixou a seleção brasileira sob o comando do recém nomeado secretário-geral da CBF, Walter Feldman. O presidente da entidade encontrou a seleção apenas uma vez, durante alguns minutos, em visita à Granja Comary durante o período de treinos antes do torneio. Foi ao Allianz Parque para o amistoso contra o México e não foi ao Beira-Rio contra a Honduras. Antes, também desistiu de ir a Berlim para ver Neymar, seu capitão, na final da Liga dos Campeões. Deixou a Suíça na véspera da eleição presidencial da Fifa após a repercussão da prisão de José Maria Marin.

Durante toda a estadia no Chile, a seleção brasileira não teve contato pessoal com a cúpula da CBF a não ser pela figura de Feldman. Quem jogou sob a gestão de Ricardo Teixeira, antecessor de José Maria Marin e presidente da entidade entre 1989 e 2012, conta que apesar de todos os escândalos e denúncias o ex-presidente era figura presente e importante durante grandes competições, como a Copa América. "Ele entrava no vestiário e nos perguntava: 'O que vocês querem? Do que vocês estão precisando?' Ele era um cara bom para os jogadores durante as competições. Hoje a gente não tem isso", afirma um ex-jogador campeão da Copa do Mundo pela seleção brasileira, sobre a presença de Teixeira. Nesta Copa América, os jogadores não tiveram contatos com seus chefes.

Além da ausência nos vestiários, houve uma grande ausência de bastidor político da CBF no Chile. Sem diretoria, as conversas da seleção brasileira com a Conmebol imediatamente depois da expulsão de Neymar que desde o princíprio prometia suspensão severa para quem viu o que aconteceu dentro do túnel dos vestiários do estádio Monumental, em Santiago, foram tratadas pelos personagens que cuidam do futebol da CBF, e não do institucional.

Depois de ver Neymar ser suspenso por quatro partidas, a CBF não quis nem recorrer da decisão na Câmara de Apelações da Conmebol, hipótese que poderia reduzir o gancho para três jogos e possibilitar a participação do camisa 10 numa hipotética final. Ainda foi descartada a possibilidade de levar o jogador para prestar um depoimento, situação que segundo quem advoga na Conmebol teria chances reais de reduzir a pena.

Membros da CBF disseram informalmente que receberam a informação da Conmebol que teriam o recurso negado, mas pesou, além da falta de contato da cúpula, a decisão de Del Nero de ter votado em Blatter para a reeleição à presidência da Fifa. Após a explosão do escândalo que prendeu Marin e outros seis dirigentes a Conmebol decidiu mudar a escolha e votar em bloco no adversário, o príncipe da Jordânia Ali bin Al-Hussein. A CBF, no entanto, não seguiu a mudança e manteve o voto em Blatter, fato que causou a ira das federações sul-americanas - principalmente de Chile e Uruguai, que lideraram a troca de voto. Sem Del Nero em Zurique, coube ao presidente da Federação Cearense de Futebol, Mauro Carmélio, votar em Blatter na Suíça.

Dois meses após assumir, Marco Polo Del Nero não apareceu na primeira competição oficial de sua gestão como presidente da CBF. Com a cúpula longe, a seleção brasileira perdeu dentro e fora de campo e não conseguiu desbotar a mancha causada pelo 7 a 1, há um ano.