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Clóvis Rossi: Seleção brasileira perdeu afeto e respeito

JUAN MABROMATA / AFP
Imagem: JUAN MABROMATA / AFP

Clóvis Rossi

Colunista da Folha

06/07/2015 06h00

O que mudou no futebol brasileiro depois do estrondoso fracasso do Mundial-2014? Dentro do campo, muito pouco, a julgar pelo que se viu na Copa América.

A mesma correria, a mesma falta de organização no vital setor do meio-campo, a mesma dependência do talento de Neymar, a mesma mediocridade quando ele não aparece.

O que mudou foi fora do campo. O brasileiro perdeu o amor pela seleção e a confiança nela.

Fiquei prestando atenção nos ruídos na vizinhança durante a transmissão dos jogos do Brasil. Ensurdecedor silêncio, nem um humilde rojãozinho na hora dos gols (foram poucos, é verdade, mas, de todo modo, foram cinco. Todos recebidos pelo silêncio da rua).

O desamor apareceu até no arquétipo do patrioteirismo que são as transmissões da Rede Globo. É verdade que vi todos os jogos da Copa América pela Sportv, que torce bem menos e informa bem mais.

Mas, nos momentos de zapping para a Globo, era patente a desconfiança até de Galvão Bueno, o torcedor-chefe, em relação ao time de Dunga.

A falta de afeto e de confiança é escandalosamente fácil de explicar: o futebol que o Brasil está jogando é meia boca, na melhor das hipóteses. E, tirando Neymar, não há um só jogador que eu mataria para ter no meu time, com todo o respeito.

Segunda mudança, paralela à anterior: se os brasileiros perderam a confiança na seleção, os adversários perderam o respeito. Uma coisa é, de resto, consequência da outra.

Perderam tanto o respeito que até uma seleção fraca como a paraguaia (última colocada nas eliminatórias para o Mundial do Brasil) deu-se ao luxo de controlar o jogo na partida em que o Brasil foi eliminado.

É verdade que não teve o controle durante todos os 90 minutos, mas minha memória (que remonta aos anos 60, mais de meio século, portanto) não registra outro jogo com superioridade paraguaia tão patente.

Quer dizer o seguinte: os adversários, mesmo os sul-americanos, que, exceção da Argentina e Uruguai, sempre foram fregueses, já entram em campo sabendo que vão jogar de igual para igual.

Ainda assim, se eu fosse de apostar (não sou), apostaria em que o Brasil se classifica para o Mundial da Rússia. Pode não ser o primeiro nem o segundo colocado nas eliminatórias, mas, como são quatro os classificados (fora a repescagem), não vejo hipótese de o Brasil perder a vaga.

A menos que os jogadores que Dunga (ou outro técnico, sabe-se lá) venha a convocar tenham perdido o respeito por eles próprios. Ainda não aconteceu, mas convém tomar cuidado.