Topo

Sem novos Barbosas. Culpa dividida deixa 7 a 1 sem um "único vilão"

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

06/07/2015 06h00

O primeiro grande trauma da história da seleção produziu um vilão histórico: Barbosa, goleiro do Brasil na Copa do Mundo de 1950, pagou por um suposto erro até o fim da vida. Em 2014, 64 anos depois, o Maracanazo foi superado pelo 7 a 1 em termos de vexame. Desta vez, porém, não há um único bode expiatório.

Todos que estiveram presentes no Mineirão há um ano pagam, cada um à sua maneira, pela derrota inapelável para a Alemanha na semifinal de uma Copa em casa. Não há, porém, alguém que sofra pelo que aconteceu como Barbosa, que pagou por não ter alcançado a bola de Ghiggia que deu a Copa do Mundo para o Uruguai.

“A pena máxima para um crime no Brasil é de 30 anos. Eu pago por aquele gol há 50”, dizia Barbosa, que morreu em 2000 sem se sentir perdoado.

A criação de “novos Barbosas” foi combatida diretamente pela CBF. Dunga, execrado em 1990, buscou a redenção (dele e de sua geração) quatro anos depois com o tetra. Não por acaso, tem repetido desde que assumiu que “nem tudo está tão ruim assim”. Antes de qualquer coisa, o técnico preserva quem segue sendo a base da seleção brasileira.

Boa parte dos jogadores que estavam envolvidos com o vexame segue sendo nas listas de Dunga. Muitos dos que não estão levam a vida profissional com algum sucesso, casos de Fred e Júlio César, por exemplo. Quem ainda não teve êxito, ao menos segue na ativa e ganhando algum dinheiro, como Felipão e Paulinho, hoje juntos no Guangzhou Evergrande, da China.

Ninguém sai ileso, é claro. Nos bastidores, quem trabalha com os jogadores relata que quase todos guardam certa mágoa do que consideram críticas injustas. Há quem prefira, inclusive, se manter fora da mídia para não piorar a situação. Não há, no entanto, alguém que sofra mais que os demais. E não por um bom motivo.

“Não haverá no 7 a 1 uma vítima, porque todos tiveram parte de culpa naquele resultado altamente negativo, que ficará nos anais do esporte brasileiro como um açoite. Não se pode assim analisar separadamente”, disse Teixeira Heizer é jornalista e escreveu “Maracanazo – Tragédias e epopeias de um estádio com alma”, sobre a Copa de 1950.

“Vejo uma diferença bem grande entre o Barbosa e o que acontece com a seleção do ano passado. No caso do Barbosa personalizou-se. Ali no 7 a 1 é um grupo inteiro tendo de responder pelo resultado. Não dá para dizer que a atitude daquele time representasse um espírito de luta que fosse apenas a derrota. É a estampa de todo um processo falido e que foi altamente denunciador”, diz Katia Rubio, psicóloga esportiva, lembrando a responsabilidade dos dirigentes no ocorrido.

E como se trabalha, individualmente, para reverter essa situação? Com títulos, responde Fábio Kadow, especialista em gestão de imagem que trabalhou na agência 9ine e hoje cuida da carreira de esportistas como a surfista Maya Gabeira. Para ele, nada melhor do que o bom desempenho esportivo para fugir da quase inevitável pecha do 7 a 1.

“Não existe melhor marketing que o da vitória. Trabalho extracampo ajuda muito, mas ele potencializa quando o atleta está tendo melhores resultados dentro. Ali é um caso de crise extrema. O melhor caminho é você recuperar espaço dentro de campo, demonstrando que não foi uma questão individual o que aconteceu”, dá a receita.

Quem consegue aliar isso a um bom posicionamento consegue até seguir lucrando. O complemento recomendado é uma mistura entre eloquência em entrevistas e atuação positiva nas redes sociais. Assessores de imprensa recomendam, por exemplo, evitar reclamações ou bater de frente com críticos. Em Instagram, Facebook ou Twitter, vale uma atitude positiva, mas não exagerada.

“O David Luiz, mesmo sendo questionado naquela partida, continuou com a imagem dele muito forte. É o segundo jogador da seleção com mais patrocinadores”, explica Fábio Kadow, citando um dos potenciais candidatos a Barbosa que, um ano depois, segue sendo um favorito da torcida.