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Fazendo história em Curaçao, Kluivert quer mesmo é treinar o Barcelona

Patrick Kluivert, ex-jogador e técnico da seleção de Curaçau - Getty Images
Patrick Kluivert, ex-jogador e técnico da seleção de Curaçau Imagem: Getty Images

Alex Sabino

Do UOL, em Londres (ING)

09/07/2015 06h00

Após a Copa do Mundo, em julho do ano passado, Patrick Kluivert estava de malas prontas para a Inglaterra. Continuaria no rastro de Louis Van Gaal, contratado para ser técnico do Manchester United. O ex-atacante havia sido auxiliar do seu mentor na seleção holandesa e esperava continuar assim.

“Louis me chamou um dia e disse que eu não deveria ir com ele para Manchester. Era hora de eu caminhar com as próprias pernas. Era um bom conselho. Aceitei”, disse Kluivert, em entrevista para o UOL Esporte.

Aos 38 anos, o ex-atacante de Ajax, Barcelona e Milan chegou a ser entrevistado para a vaga de técnico da seleção de Gana. Desistiu para um objetivo bem mais ousado. Tentar fazer a pequena ilha de Curaçao, de 173 mil habitantes, chegar pelo menos perto da Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

“Eu penso grande. Acho que posso classificar Curaçao. Tenho grandes lembranças dos Mundiais que participei. Quero que todos os meus jogadores sintam o mesmo”, disse.

Oficialmente, o cargo de Kluivert não é de técnico. É “conselheiro”, mas com “jurisdição sobre escalação e treinos e com autoridade para permanecer no banco de reservas durante as partidas.”

Traduzindo: é o treinador.

“Minha mãe é de Curaçao e tenho muitos familiares que são da ilha. Achei que era um desafio interessante porque há muitos atletas de origem holandesa. Nós temos talento para fazer um bom papel”, garante.

O desempenho tem sido melhor do que o esperado. Nas eliminatórias, a equipe já está na terceira fase eliminatória, com adversário ainda a ser definido. Nas etapas anteriores, passou por Montserrat e Cuba. No ranking da Fifa, ocupa a posição 144.

Apesar de ter sido um dos principais atacantes da Europa entre 1995 e 2006, Kluivert só participou de uma Copa como jogador, a de 1998. Contra o Brasil, guarda a maior lembrança da carreira: o gol de empate na semifinal, a cinco minutos do fim.

“Foi indescritível. O Brasil tinha um time com Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos... Naquele momento, achei que poderíamos ir para a final, mesmo sem ter feito o nosso melhor jogo. É uma das grandes lembranças que guardo na vida. Se passássemos, acho que seríamos campeões”, avalia, lamentando apenas a derrota nos pênaltis, quando Taffarel defendeu as cobranças de Cocu e Ronald de Boer.

Perder para o Brasil foi uma decepção maior para Kluivert porque ele considerava que aquela Holanda estava no auge. Nas quartas de final, havia eliminado a Argentina e o centroavante anotara o primeiro na vitória por 2 a 1.

“Eu ainda tenho orgulho por ter feito parte desses jogos. Foram grandes momentos para mim e acho que para o futebol. Estava em grande fase e superado muitas coisas para chegar perto do topo”, se recorda.

Nas últimas décadas, a seleção holandesa teve problemas de conflitos entre jogadores brancos e negros. Antes da Eurocopa de 1996, Edgar Davids abandonou a seleção por problemas com outros atletas. Nada que tenha afetado Kluivert, ele assegura.

“Eu já ouvi muitas histórias. Conflitos existem dentro de um grupo, mas não eram por motivos raciais e nunca presenciei nada, com certeza. A verdade é que quando o seu time está ganhando, tudo está bem. Quando começa a perder, os problemas aparecem.”

Três anos antes do torneio na França, aos 18, ele havia feito o gol do título da Liga dos Campeões para o Ajax, contra o Milan, sob o comando de Van Gaal. Um time de garotos formados no clube de Amsterdã que revolucionou o futebol europeu pelo futebol ofensivo. Kluivert era a joia da coroa. Com a taça europeia nas mãos, chorou.

Quatro meses mais tarde, se envolveu em acidente de carro em que uma pessoa, torcedor do Ajax, morreu. Foi condenado a 240 horas de serviço comunitário. Entrou em depressão.

“Não queria mais sair de casa. Eu era um garoto e todo garoto é um pouco descuidado. Nunca na minha vida pensei que aquilo pudesse acontecer. Foi como se uma parte de mim também tivesse morrido. Eu entrava em campo e as outras torcidas me chamavam de 'assassino'”, se recorda.

Quando a pressão se tornou insuportável, foi comprado pelo Milan, onde ficou apenas uma temporada. Não deu certo. Van Gaal o resgatou para levá-lo ao Barcelona, em 1998.

“É um clube muito importante para mim. O que eu quero – e sei que vou conseguir – é um dia ser técnico do Barcelona. Tudo o que fizer na minha carreira como treinador será com esse objetivo na cabeça”, confessa.

Se isso não demorar a acontecer, pode comandar o melhor ataque do planeta: Messi, Neymar e Suárez. Um trio que o faz lembrar o começo de tudo, no Ajax, pelo talento para criar jogadas ofensivas. Para ele, Neymar tem capacidade de chegar ao que sonha: ser o melhor do mundo. Mas por enquanto, o argentino está na frente.

“É um time sensacional. Suárez faz gols de todas as formas e Neymar tem muito espaço para crescer e chegar a ser o melhor jogador do mundo, não tenho dúvidas. Mas não enquanto Messi estiver por lá. Ele é o maior de todos. É de outro planeta. A disputa que tem com Cristiano Ronaldo é boa para o futebol e um precisa do outro para crescer constantemente. Um não deixa o outro se acomodar”, completa, achando incrível que Messi e Ronaldo ainda sejam questionados por causa de desempenhos por suas seleções.

Algo que ele mesmo chegou a ouvir algumas vezes.

O primeiro passo para chegar ao Camp Nou é na distante Curaçao com um objetivo que ele mesmo considera muito difícil: levar a seleção à Rússia em 2018.