Topo

Por que os clubes brasileiros não fazem vídeos como os de Hulk?

Marinho Saldanha

Do UOL, em São Paulo

30/07/2015 06h00

Seis vídeos produzidos por um dos patrocinadores do Zenit St. Petesburgo com o brasileiro Hulk como protagonistas ‘bombaram’ na internet desde 25 de junho. Sob o título ‘extrema força’, as produções curtas e com cunho humorístico somadas totalizam 26,7 milhões de visualização no Youtube. Um exemplo de sucesso como vídeos ‘virais’. Algo que não acontece no Brasil.

Mesmo com personagens suficientes, um país apaixonado pelo futebol, com patrocinadores fortes em todos os clubes grandes, o fenômeno criado pelo clube russo é raro no Brasil. E uma explicação simples aponta o desinteresse como vilão.

Exemplos de tentativas de virais são raras. O vídeo “O Zizao tá lendo”, do Corinthians, feito em 2013 bateu em 3,7 milhões de visualizações. Menos do que a média dos vídeos de Hulk, 4,45 milhões, (que tiveram muito menos tempo na internet). O Harlem Shake do Internacional, também tentativa de gerar o mesmo efeito ‘viral’, mas sem qualquer interesse de patrocinador, teve 1,2 milhão de visualizações. O do Corinthians, 1,4 milhão.

E por que os times brasileiros não investem neste tipo de material? Por falta de interesse. “Não é prioridade. Quando assumimos, tinha mais de 60 projetos no marketing do Corinthians. Tivemos que abandonar alguns e focar nos essenciais. Ter prioridades. O objetivo principal é a busca de receitas a curto prazo e formação de marca a longo prazo. Por algum motivo, este tipo de ação não entrou em nenhum dos casos. É o tipo de ferramenta que a gente não utiliza, mas reconhece que tem sua força e seu valor. Não virou prioridade. Com tempo, com tudo organizado, vamos chegar neste momento, mas estamos em uma situação de consolidação, de fundamentos. É bacana, divertido, mas não é o momento”, explicou o diretor de marketing do Corinthians, Marcelo Passos, ao UOL Esporte.

O mesmo vale para a justificativa do Flamengo ao rejeitar este tipo de ação. “É uma iniciativa. Vemos outros clubes que estão fazendo e com sucesso. Está no nosso radar. Só que a gente tem algumas prioridades em relação a clubes do exterior, de desenvolvimento de outros projetos. Não é nossa prioridade hoje. No Flamengo, a meta é desenvolver ações e projetos que alavanquem o sócio-torcedor, dar benefícios, experiências, descontos em estádio... Algo que consiga dar mais fundos para o futebol se qualificar, investir na equipe, no Centro de Treinamentos... Trabalhamos no desenvolvimento de parcerias comerciais e patrocínios. Temos mais de 40 parceiros, nos espelhamos no Manchester United, que tem mais de 400 pelo mundo. Estamos tentando nos adaptar da melhor forma. É interessante para o atleta, para o clube, é um conteúdo interessante. É possível que façamos um dia”, afirmou.

Especialista vê desconhecimento

A reportagem do UOL Esporte entrou em contato com um especialista de marketing esportivo para tentar explicar a falta de adesão dos clubes brasileiros a ideias como esta. Eduardo Esteves, especialista em marketing esportivo e criador do site mktesportivo.com, afirmou que há um desconhecimento dos clubes sobre o potencial disso. Confira a opinião dele:

Há um desconhecimento dos clubes sobre a eficácia deste tipo de ação, por isso muitos a preterem para focar em outras frentes, que tragam retorno imediato e, acima de tudo, imediato. As próprias páginas de Facebook das equipes pouco mudam o discurso, focam em informações do dia a dia, promover o sócio-torcedor, produtos, partidas, enfim. Como hoje as empresas buscam mera exposição ao patrocinador um clube, sem ativação e relacionamento, é impensável que esta iniciativa parta de uma empresa (como Red Bull/Zenit).

Por aqui, daria certo sim,  mas parece que há uma barreira na utilização da imagem de jogadores do Brasil em campanhas que fujam do comum. Um caso emblemático é a maneira que a Juventus utilizava o Pirlo em campanhas para web. Sempre um sucesso e falamos de um jogador frio, não conhecido pelo seu carisma.

Neste caso, deve-se desenvolver da maneira correta, sem puxar tanto para o lado da equipe, mas com um approach focado em características de jogadores tidos carismáticos, como Valdivia (Inter), Ronaldinho (Fluminense) e Walter (Atlético-PR), por exemplo. A viralização ocorreria de maneira muito mais natural.

Do contrário, envolvendo o clube, a paixão dos seus torcedores, pode ser muito bem efeito e com alto teor viral, mas estará limitada apenas ao torcedor de determinada equipe.