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Substituto de Romário em 98 ouviu piada de Zagallo e se queixa de Felipão

Emerson participa de treino para a Copa de 2002, antes do corte - Juca Varella/Folha Imagem
Emerson participa de treino para a Copa de 2002, antes do corte Imagem: Juca Varella/Folha Imagem

Vagner Magalhães e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

01/08/2015 06h00

O volante Emerson foi presença constante na seleção brasileira durante dez anos. Em 1998, Zagallo surpreendeu o Brasil ao convocá-lo para o lugar do atacante Romário, cortado por conta de uma lesão muscular. Quatro anos depois, chegou à Copa de 2002 como capitão do time de Felipão, mas em um treino, lesionou o ombro, quando atuava como goleiro em um rachão. Foi cortado. Ainda esteve na Copa de 2006 sob o comando de Parreira.

Hoje, aos 39 anos, ele comanda um clube de formação de jogadores, o Fragata, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Admite a possibilidade de ser técnico e lembra de Zagallo fazendo piada com ele a caminho da França. Mas até hoje se queixa do corte em 2002, que ficou sabendo pela imprensa, antes do anúncio oficial.
 
"A Copa de 1998 foi muito marcante para mim porque fui muito questionado, até por ir no lugar do Romário. No avião, indo para lá, peguei uma charge falando da minha convocação, cheguei para o Zagallo e disse: 'professor, quando é que eu vou jogar?'. O Zagallo respondeu: 'senta aqui comigo para jogar cartas porque é só aqui que você vai jogar (risos)'".
 
Emerson lembra que guardou o jornal e que a charge foi uma motivação para que ele disputasse aquele mundial. Ele foi chamado por Zagallo pela primeira vez em 1996. Lembra de cabeça que foi convocado 100 vezes e atuou em 71 jogos com a camisa da seleção. "Eu gosto muito do Zagallo, é uma pessoa por quem eu sempre tive um respeito muito grande. Ele confiou em mim e eu dei conta do recado quando ele precisou".
 
Em 2002, ele viveu uma situação oposta, por conta de uma lesão no ombro. Mas insiste que Felipão poderia ter decidido de outra maneira. "Passamos momentos muito complicados nas eliminatórias. Lembro que nós descíamos no aeroporto e éramos escoltados. O brasileiro odiava aquela seleção. Ajudei muito o grupo, eu era o capitão. O Felipão gostava muito de mim. Ele me ligava muitas vezes, até chateado, porque ele tinha uma pressão muito grande para convocar o Romário", lembra.
 
Emerson diz que muitas vezes pediu calma ao técnico, dizendo que o time se classificaria. "E acabei sabendo do meu corte por um jornalista. Isso é que me deixou muito chateado. Eu até xinguei, fui grosso com o cara, afinal eu nem tinha ido para a reunião técnica. Quando ele ligou, achou que eu já sabia. Era véspera da estreia. Foram 23 jogadores. Se ficassem 22, não mudaria nada", diz ele.
 
Na sua opinião, se estivesse no lugar do técnico, faria diferente. "Este é o meu capitão. Ele esteve com a gente até aqui e por tudo o que nós passamos juntos, ele vai ficar com o grupo, independente de conseguir jogar ou não. Mas não foi feito e a vida continuou. Isso serviu de lição de vida para mim. Amadureci muito com isso. Mas torci muito para aquele time", disse ele. Para o seu lugar, Felipão levou Ricardinho.
 
Emerson diz que no momento do corte, foi para uma reunião com o médico da seleção, José Luiz Runco. "Ele disse que eu tinha uma lesão no ombro e que essa lesão me impediria de jogar. Até o Dida, que é um cara que não fala muito, disse que teve uma lesão parecida e pediu para que eu ficasse. Que eu poderia melhorar. O Cafu também se manifestou. Mas a decisão já tinha sido tomada antes da reunião", recorda.
 
Emerson encerrou a carreira em 2009, no Santos. Antes teve passagem de destaque pela Europa, em clubes como Bayer Leverkusen, Roma, Juventus, Real Madrid e Milan. Jogou de 1994 a 1997 no Grêmio.
 
"No Santos, eu rescindi meu contrato depois de uma lesão na tíbia. Eu ainda tinha contrato em vigor, mas pedi a rescisão porque eu não achava justo ficar recebendo quatro, cinco meses de salário, sem poder jogar. Ainda tinha seis meses de contrato. Aí comecei fazer o meu projeto aqui no Fragata. Quando o Luxemburgo foi para o Grêmio em 2011, ele convidou para eu ficar como auxiliar no Grêmio. Fiquei um ano e pouco, mas pedi para sair porque não estava conseguindo dar conta das duas coisas".