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Chef brasileiro caiu nas graças de Maxwell e Dani Alves e se deu bem

Juliana Alencar

Do UOL, em São Paulo

05/08/2015 06h00

Um encontro ao acaso num bar em Barcelona colocou João Alcântara na cozinha do lateral Maxwell, então jogador do clube catalão. Apaixonado estudante de gastronomia, decidiu investir seu pé de meia indo para a Catalunha, um dos mais conceituados centros culinários do planeta. Do encontro que começou como um papo entre brasileiros, veio a tradicional conversa sobre o que fazia na cidade. Dali, em segundos, a grande chance: foi convidado pelo conterrâneo - os dois são capixabas -  a trabalhar como cozinheiro em sua casa depois que comentou que estava buscando um emprego para se manter na Espanha.

Foram quatro meses trabalhando para Maxwell, organizando o cardápio do jogador a partir das necessidades nutricionais dele. "Cozinhar para atleta é diferente. Foi uma experiência interessante para colocar em prática meus conhecimentos nessa área", observa João, que havia seguido para o país para se especializar em cozinha molecular, na terra de um dos mestres do estilo, Ferran Adrià, em 2012.

O amor pela gastronomia local acabou falando mais alto quando Maxwell se transferiu para o futebol francês, em seu atual clube, o PSG. João recebeu o convite do patrão para o que muitos achavam uma proposta "irrecusável": ir morar na capital francesa já com emprego garantido. Mas não topou. Decidiu ficar em Barcelona para dar continuidade ao seus estudos - ele se formou em alta gastronomia catalã na renomada Jesuites Sarria Sant Ignasi.

Foi aí que Daniel Alves, então colega de elenco de Maxwell no Barça, resolveu chamar o chef para trabalhar com ele. Os dois haviam se conhecido por meio do lateral esquerdo, que costumava promover jantares na sua casa para os amigos. 

"A maneira como eu o conheci foi muito curiosa. Dani chegou à casa do Maxwell de última hora, já não tinha mais nada especial para servir. Nâo se importou, disse que comeria até pedra", diverte-se o chef, que logo se tornaria amigo do lateral: "É um cara fora de série. Não à toa é tão querido e respeitado no Barcelona". 

A carreira começava a deslanchar. João não ficou muito tempo como personal chef de Dani Alves. Ele se "promoveu". Hoje, os dois são sócios no FoGo, uma cozinha experimental que se propõe a apresentar a cozinha brasileira na Europa. E trata a gastronomia como uma forma de cultura.  A equipe promove eventos pelo continente. "Dani se apaixonou pelo projeto e quis investir. Está dando muito certo. Felizmente, houve uma aceitação muito boa aqui", comemora ele, que hoje treina os cozinheiros que passam pela cozinha do lateral. Já foram quatro: "Dani é exigente", admite. 

Aos 31 anos, o cozinheiro conta que já não se vê fora de Barcelona. Fala que a cidade é, de um modo especial, inspiradora para ele. Ex-surfista, acredita não conseguir ficar longe do mar - ele cresceu em Vitória, na capital capixaba, onde tentou seguir carreira no esporte. Desistiu ao se dar conta que não era um bom competidor. 

Na Catalunha, ele também surfa, mas acabou adotando outro esporte: o futebol. Uma clara influência dos amigos boleiros. "Vez por outra disputamos uma partida no domingo. Mas não sou bom nisso, não", reconhece. Pudera. A julgar pelo colegas nas peladas, dá até para entender o nível alto de cobrança.

Débito com Messi

Maior ídolo do Barcelona, Lionel Messi é uma das amizades feitas na temporada. João lembra especialmente de uma conversa que teve com o atacante quando o lateral negociava a renovação do seu contrato com o Barça - segundo o chef, ele fez questão de apoiar a permanência do brasileiro na equipe. "De repente você está lá na frente do maior do mundo. E percebe por que ele é o maior", observa, citando o comportamento do craque. Acaba lembrando que está em débito com o argentino: "Nunca cozinhei para ele. Estou devendo essa".  

João conta com o "mecenato" de Dani para tocar outros projetos pessoais. O chef revela já ter sido procurado por programas de TV para comandar atrações sobre gastronomia na Espanha. "Tenho vontade de ir para essa área. Já recebemos algumas propostas", conta ele, que, descontraído, faz piada quando é questionado se aproveitou a época de solteirice do colega para conhecer mulheres - hoje, ele namora a modelo Joana Sanz.

"Não curto sobra nem na minha cozinha, quanto mais de jogador", brinca ele, que diz já não estar mais na fase de azaração: "Fora que temos gostos distintos: ele gosta de morena, alta e magra. Prefiro loira, baixinha e gordinha".