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Jovem sírio paga traficantes de pessoas em fuga e vai para o futebol alemão

Mohammed Jaddou (centro) treina em time da quinta divisão da Alemanha - Reprodução/Twitter
Mohammed Jaddou (centro) treina em time da quinta divisão da Alemanha Imagem: Reprodução/Twitter

Do UOL, em São Paulo

11/08/2015 06h00

O sonho de ser jogador de futebol profissional e o medo de morrer transformaram a vida de Mohammed Jaddou numa aventura. Uma aventura perigosa. Vítima de ataques de rebeldes, o jovem sírio de 17 anos fugiu de seu país, quase morreu afogado e pagou traficantes de pessoas para chegar à Europa em diferentes travessias ilegais. Atualmente na Alemanha, ainda não sabe se poderá continuar no país. Mesmo assim, já se considera um sobrevivente.

“Nunca poderei esquecer o que aconteceu, não importa o quanto eu tente. Vimos a morte de perto, com nossos próprios olhos”, resume Jaddou, destaque das seleções de base de futebol, ao contar sobre a viagem de dois meses da Síria até a Alemanha.

Ao lado do pai, ele deixou a Síria por terra rumo à Turquia. De lá, ficaram cinco dias num barco até o sul da Itália. Foi nesse trecho que Jaddou quase morreu afogado. “Tivemos que jogar tudo fora: alimentos, roupas, pertences. Homens e garotos ficavam o tempo todo atentos para tirar água do barco com as mãos. Foi a terceira vez que fiquei muito perto da morte, mas escapei”, contou ele ao The New York Times.

As outras duas vezes de perigo real foram resultado de ataques rebeldes na Síria. Em um deles, Jaddou estava em um ônibus com outros garotos da seleção sub-17. No outro, o campo em que treinavam foi atingido por bombas.

Seu pai, então, decidiu apostar na carreira do filho. Vendeu a casa, juntou US$ 13 mil e pagou traficantes de pessoas para levar Jaddou até a Alemanha. O pai estava junto quando o barco quase afundou no Mar Mediterrâneo depois de seis horas de viagem. Desembarcaram no sul da Itália, encararam novo percurso por terra até o norte e, mais uma vez por meios de traficantes, chegaram à Alemanha, gastando o fim de suas economias.

A história de Jaddou ficou conhecida em Oberstaufen, uma pequena cidade alemã.  Foi lá que a filha do prefeito ouviu seus relatos e o ajudou a entrar no time de Ravensburgo, da quinta divisão da Alemanha. O garoto sírio terá uma audiência com as autoridades locais para saber se poderá continuar no país.

O sonho de Jaddou agora se divide em dois: tornar-se um profissional do futebol e ter sua família inteira por perto. Mãe e irmãos continuaram na Síria. “Sei que a qualquer momento posso receber a notícia da morte deles”. Segundo o The New York Times, clubes da segunda e até da primeira divisão da Alemanha estão de olho no garoto. Ao menos um sonho parece estar perto de se realizar.