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Renascido, Kardec promete sete gols em 11 jogos: "Voltarei 130%"

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

11/08/2015 06h00

Até o final do ano, Alan Kardec marcará no mínimo mais sete gols pelo São Paulo. Atingiria, então, a marca de 14, seu número preferido, uma homenagem a Thierry Henry, o artilheiro francês, ídolo do atacante são-paulino.

Os sete gols serão marcados a partir de 27 de setembro, no clássico contra o Palmeiras.

Alan Kardec cita os números e datas com voz pausada e olhar fixo. Apesar de seu nome, não há nada de cabalístico ou espiritual em suas certezas. É matemática simples. Ele explica. “Desde que cheguei ao São Paulo, fiz 17 gols em 52 jogos. Um em cada três. Mas esse ano, eu fiz 7 gols em 17 jogos, é uma média melhor.  Como eu farei ainda 11 jogos, talvez mais por causa da Copa do Brasil, dá para pensar em sete gols”.

Os números fazem parte do dia-a-dia do artilheiro. Números e datas, desfiados sem vacilo. “No dia 9 de agosto, faz quatro meses que estou na fisioterapia. A previsão da volta é de seis meses. E eu vou voltar melhor que estava, mais forte e mais concentrado. Voltarei 130%”.

E como esquecer a data da contusão, se ela foi a tempestade após a bonança, contrariando o ditado popular? O rompimento no ligamento cruzado do joelho direito foi em 1º de abril, na Argentina, contra o San Lorenzo. Um dia após a chegada de Maria.

“Minha filha nasceu no dia 30, acompanhei a Celeste, minha mulher na maternidade, vi o bebê e viajei para Buenos Aires. No dia seguinte, uma quarta, a gente ia enfrentar o San Lorenzo. Aí, em um lance sozinho, sem contato com ninguém, puxei a bola na lateral e senti um movimento diferente no joelho. Chorei muito no vestiário. Doía muito. Sabia que não era coisa boa, torci para ser o menisco, mas foi ligamento no joelho mesmo”, lembra Kardec.

Maria foi vista, revista e paparicada no dia seguinte e no outro e no outro. O contato só foi interrompido para exames de ressonância magnética, que trouxeram uma pequena notícia boa. “Fui atendido pelo dr. Abdalla e não se viu um rompimento do ligamento cruzado. Havia uma diferença entre eles, mas não estava rompido. Marcamos então a cirurgia para o dia 8 de abril”.

Então, Maria passou a ser “dividida” com Sasaki e os outros fisioterapeutas do clube. Uma rotina dura, cumprida à risca por Kardec.

“Começo às 9h e vou até o meio dia. É muita musculação. Volto às 14, faço mais fisioterapia, às vezes piscina, e agora estou me exercitando no campo. No começo é muito estressante. Não se pode colocar o pé no chão. Precisa buscar o melhor ângulo para pisar, além de cuidar da cicatrização e vascularização. É um método novo, mexendo com o tendão patelar”.

Parecem palavras de um fisioterapeuta. Mas são de alguém que nunca se interessou pelo assunto. “Não tinha nenhum interesse. Achava que ficar perguntando de rompimento de ligamentos iria chamar contusão para mim. Agora, quando precisei, me interessei, afinal meu corpo é meu instrumento de trabalho. Sei, por exemplo, que a próxima fase é correr e fazer movimentos bruscos, com mudança de intensidade e direção”.

Kardec pediu que a rotina de fisioterapia se estendesse também aos sábados à tarde e aos domingos. Foi negado. Descanso também é importante, foi a resposta.

O domingo, então, é de Maria e de muito futebol no sofá de casa.  “Cheguei a ver seis jogos seguidos, da manhã até a noite”.

O São Paulo sempre faz parte do cardápio quando o jogo é na capital. “Aí eu vou para o estádio. Vou a todos, fico com os amigos e vou me integrando. Quando estava no Benfica, os jogadores eram obrigados a comparecer. Eu faço por gosto”.

Ele vê o jogo um pouco afastado dos outros. Gosta de ficar quieto e prestar atenção. E se impressiona como é diferente. “Olhando da cabine, há muito espaço no campo. Lá dentro, o bicho pega. É muito mais difícil. Se fosse fácil, haveria 30 mil em campo e 22 torcendo. Mas é o contrário, não?"

A contusão não levou Kardec a nenhum tipo de arrependimento. “Sei que sou criticado, mas o torcedor é movido a paixão. No processo de renovação com o Palmeiras, também deixei a paixão me levar um pouco, tinha paixão por aquele lugar, mas sou profissional. Jogador não é como advogado ou médico, que trabalha a vida toda. Eu tenho mais dez, quinze anos. Tinha de pensar em mim e saí”, diz. “Respeito as pessoas de lá, respeito a torcida, não fecho portas, mas meu foco hoje é totalmente tricolor."

Os atrasos salariais não o afetam muito. “Sei que é uma situação ruim no São Paulo, sei que nunca aconteceu antes e que estão lutando para acabar com isso. Eu faço todo meu planejamento financeiro pelo que recebo via CLT. O direito de imagem é uma poupança. Isso que atrasou, mas já está tudo bem”.

E como Kardec acha que pode ajudar Osorio, um treinador que gosta muito de jogadores que exerçam múltiplas funções?

“Primeiramente, com muita vontade. Isto é o mais importante. Depois, fazendo gols, que é minha função. Também posso ajudar a fechar o lado, impedir um contra-ataque, recompor uma posição”.

Tem velocidade para tanto? “Duas maneiras de ser rápido. Velocidade física e velocidade mental. Eu não sou veloz, mas penso rápido. Não sou Ribéry e Robben, mas posso ajudar muito”.

A certeza do retorno feliz é recitada uma vez mais, sem titubeios. “Vou entrar na fase decisiva, vou ser o gás novo no time, vou surpreender”.

E há um motivo a mais para isso. “Quero fazer um gol para a minha filha. Quero gravar e mostrar para ela. Sou pai babão”.