Topo

Nove organizadas e a PM em uma sala. Veja o que conversam pra evitar brigas

Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

26/08/2015 06h00

A organização de um clássico decisivo como o desta quarta-feira, entre Corinthians e Santos, não pode se dar ao luxo de contar com o improviso. Ou correr esse risco. Por isso, antes de jogos importantes que envolvem grandes torcidas, a Polícia Militar de São Paulo promove reuniões com representantes das organizadas dos times e de outros órgãos, estaduais e municipais, envolvidos nos preparativos para a partida. Mas o que todo esse pessoal discute durante o encontro? O UOL Esporte participou da reunião que precedeu o duelo na Copa do Brasil e contou com nove torcidas uniformizadas, e mostra como são os bastidores desse tipo de encontro e o que se conversa.

Nove organizadas em uma sala. E tudo em paz

O encontro aconteceu segunda (24) na sede do 2º Batalhão de Polícia de Choque, Em uma das salas do bonito prédio no bairro da Luz, membros de seis organizadas corintianas – Gaviões da Fiel, Pavilhão 9, Camisa 12, Coringão Chopp, Fiel Macabra e Estopim da Fiel – e de três santistas – Torcida Jovem, Sangue Jovem e Força Jovem – conversaram com representantes de divisões da Polícia Militar e também de CET, da CPTM, da Guarda Civil Metropolitana, da Federação Paulista de Futebol, do Metrô e de diretores do Corinthians e do Santos ligados à organização da partida. 

O objetivo do encontro é definir os seguintes pontos com as torcidas: quando chegam, quando saem, como chegam, como saem, de onde saem, por onde entram, em qual setor vão ficar, qual trajeto vão percorrer até o estádio. Os integrantes das nove organizadas ficam juntos em uma sala relativamente pequena de modo comportado. Mas a reunião serve para alinhar outras questões também.

“No último jogo, tivemos problema com ambulante distribuindo garrafas de água para a torcida depois que a partida acabou”, diz o capitão da PM Alexandre Vilariço, responsável por comandar a reunião. “Tem que ver isso aí, porque é perigoso, podem atirar as garrafas e tal”, explica o policial, que recebe de Ricardo Tibério, representante do Corinthians, a promessa de que algo será feito sobre o problema. Em outro momento do encontro, o capitão da PM escuta do representante da Gaviões uma reclamação sobre a revista feita pela polícia nos integrantes da torcida. Para o corintiano, o procedimento foi “pesado”, ao que Vilariço rebate: “Temos que fazer (a revista) porque tem tido muita reclamação de uso de entorpecente pelas torcidas. Pode até ser que não pela sua, mas tem tido.”

Camisa 12 rachada

As organizadas presentes ao encontro também não escapam de cobranças. A Camisa 12, por exemplo, foi questionada sobre um grande tumulto antes do jogo contra o Sport. Cerca de 50 torcedores teriam se envolvido em uma briga que terminou inclusive com policiais feridos. “O que está acontecendo?”, pergunta Vilariço ao representante da torcida sobre o ocorrido, que justifica dizendo que “a gente está com um problema, a Camisa 12 está dividida”. O capitão diz então que “é bom resolver (as questões internas da torcida), porque teve policial ferido e isso faz o sangue subir.”

O representante da Federação Paulista de Futebol, Roberto Cicivizzo, ouviu críticas sobre o modo como orientadores da FPF atuam nos estádios. O membro da Gaviões dá a entender que eles são grosseiros no tratamento com os torcedores, enquanto o da Camisa 12 reclama que, embora desnecessário de acordo com a lei, um conhecido menor de 12 anos precisou mostrar a carteira de identidade para entrar com a organizada. “Mas aí você tem que ver que tem moleque de 12 anos com cara de 15”, argumentou então Cicivizzo, que prometeu estar presente pessoalmente ao clássico.

SPTrans ausente e briga com ambulantes

A ausência do representante da SPTrans (órgão responsável pelo transporte municipal) foi lamentada por Vilariço, para quem, por conta do horário do jogo, o transporte mereceria atenção especial. “O metrô vai funcionar até às 0h30. Mas o jogo pode ir para os pênaltis, então seria importante ver com a SPTrans um esquema especial de ônibus”. Na falta de um interlocutor no momento, o capitão da PM sugeriu aos clubes que eles mesmos entrassem em contato com a empresa que cuida do transporte público por ônibus em São Paulo.

Problemas com vendedores ambulantes, que teriam até atirado latinhas contra os policiais, foi a questão levantada pela GCM (Guarda Civil Metropolitana) na reunião. A PM promete ajudar com o problema. Ao final, o capitão Vilariço deseja a todos um bom jogo. “Espero que não tenhamos nenhum caso de briga, confronto de torcida. Não temos tido isso e espero que continue assim”, diz ele em seu recado final aos torcedores.