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Começo arrasador rendeu 3 motoradios a recordista de jogos pelo Corinthians

Arquivo/Folha de São Paulo
Imagem: Arquivo/Folha de São Paulo

Daniel Lisboa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

29/08/2015 06h00

Há 61 anos, nascia um homem que entraria para a história do Corinthians. Não basta ser o jogador que mais vezes vestiu o uniforme alvinegro, Wladimir ainda estava na equipe que acabou com o jejum de 23 anos sem títulos do clube. Escolher os momentos mais marcantes da carreira não é algo simples para alguém que entrou em campo 805 vezes com a camisa do Timão, mas o ex-lateral esquerdo fez um esforço, e o UOL Esporte aproveita seu aniversário para compartilhá-los.

Excursão para a Europa

"Em 1972, o Corinthians fez uma excursão pela Europa e incluiu no grupo eu e o Laércio, que era um zagueiro também da categoria de base, na equipe profissional para irmos nos acostumando, nos aperfeiçoando", lembra Wladimir. "Eu entrei praticamente em todos os jogos. Entrava 20, 25 minutos, joguei na Turquia, na Grécia, Espanha, Itália, Iugoslávia. Com 17 anos de idade, foi uma novidade tremenda ser relacionado. Naquela época, as equipes brasileiras excursionavam muito para a Europa", explica o ex-lateral, para quem a experiência rendeu autoconfiança. "Eu falei opa, agora já estou no caminho. Esse foi o primeiro momento importante de que eu me lembro. Essa possibilidade de conhecer um pouco do ambiente do futebol profissional me ajudou muito."

Motorádio três vezes seguidas

Apesar de ainda muito jovem - tinha 17 anos de idade - Wladimir já havia sido campeão paulista de juniores quando estreou nos profissionais do Corinthians em 1973. E ele já começou mostrando a que veio. "Lembro que nos três primeiros jogos eu ganhei um motorádio porque tive uma atuação destacada", conta o ex-jogador. As partidas foram contra o São Bento de Sorocaba, o Botafogo de Ribeirão Preto e a Ferroviária de Araraquara. "Foi um momento agradável, todo mundo me parabenizando, a imprensa me dando um certo valor e a torcida sempre reverenciando as minhas atuações."

Churrascão ao invés de concentração

Nada de concentração, churrasco antes dos jogos e exemplo para a redemocratização do país. O ano de 1982, para Wladimir, foi inesquecível. Ao lado de colegas de time como Sócrates, Casagrande, Juninho e Solito, ele protagonizou a chamada "Democracia Corintiana". "A gente (os jogadores) se envolveu diretamente neste movimento, de maior participação popular nos rumos decisivos do país, e passou a ter uma convivência mais próxima. Pelo fato de a gente não se concentrar, a gente vinha aqui para a minha casa, fazia churrasco no sábado antes do jogo. Os casados não concentravam e no domingo a gente ia para o jogo e era só alegria", recorda Wladimir, para quem a abolição da concentração, uma grande novidade na época, ajudava os jogadores a relaxar.

Wladimir, ex-lateral do Corinthians, posa ao lado de Mário Gobbi, presidente do clube, Katia Bagnarelli, viúva de Sócrates, e dois dirigentes alvinegros no Parque São Jorge. - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Wladimir posa ao lado de Mário Gobbi, Katia Bagnarelli (viúva de Sócrates) e dois dirigentes alvinegros no Parque São Jorge em 2014
Imagem: Reprodução/Facebook

O ex-lateral, entretanto, deixa claro que os jogadores não eram moleques irresponsáveis. "A gente sabia o que era leve, o que podia comer na véspera do jogo e isso nos levou inclusive a ter mais responsabilidade. Nossa conduta foi muito rigorosa porque a gente sabia que qualquer fracasso seria atribuido à falta de concentração", avalia o ex-jogador. "Na verdade, o futebol é um universo de autoritarismo muito grande. Ficar pageando marmanjo, os caras são tudo pai de família, são adultos, profissionais e portanto têm que saber da sua conduta."

Rachas na democracia

O ano de 1983, em que o Corinthians conquistou o bicampeonato paulista, também está na lista dos mais marcantes de Wladimir. O ex-lateral, porém, lembra que, apesar da "Democracia Corintiana" ainda estar em vigor, as coisas já não andavam tão bem. "A gente tinha democracia, mas não com a tranquilidade de 82. Vieram alguns jogadores que não assimilaram o que a gente queria e isso acabou provocando algumas desavenças no grupo", recorda Wladimir. "A gente ganhou na raça mesmo. O Leão (goleiro) era esclarecido, exercia uma liderança sobre alguns atletas e acabou manipulando uma parte contra a Democracia Corintiana", diz o ex-lateral, que, no entanto, reconhece as qualidades de Leão e seu direito de opinião.

"Leão era um grande goleiro, no jogo final ele teve uma participação determinante no resultado. E a gente tem que respeitar, a gente não tem que querer que todo mundo pense como a gente, ele tinha as convicções dele", pondera Wladimir. "Só que, naquele momento, o número de atletas que se engajaram no projeto era maior do que o número de atletas que não eram simpáticos ao movimento. A gente decidia tudo através do voto."