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Autor de hit do CPM 22, corintiano faz música pedindo justiça a Kevin Spada

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

03/09/2015 06h01

O dia 19 de fevereiro de 2013 marcou negativamente tudo o que envolveu o Corinthians. A morte do garoto Kevin Espada, atingido por um sinalizador enquanto torcia para o San José, em jogo da Libertadores contra o clube paulista na Bolívia, é uma das tragédias mais marcantes do esporte, e afetou até a torcida alvinegra. Um corintiano fanático resolveu transformar sofrimento em música, e fez da história de Kevin um hardcore clamando por justiça.

Ricardo Galano não tem um nome famoso para o grande público, mas compôs canções que qualquer um pode ser pego cantarolando por aí. Parceiro da banda CPM 22, ele escreveu, por exemplo, “Dias Atrás”, um clássico da banda, de 2002. Atualmente, ele é guitarrista do grupo Não Há Mais Volta, e uma das canções do primeiro disco, lançado neste ano e autointitulado, é chamada “Kevin”.

O compositor e guitarrista é torcedor roxo. “Sou corintiano de frequentar estádio. Sempre que tem jogo em São Paulo, eu vou assistir. Tanto que, quando conheci minha mulher, há cinco anos, falei: ‘seguinte, quarta e domingo é só Corinthians’”, brinca Galano.

Kevin Espada - Reprodução/Facebook/Kevin Douglas Beltran Espada - Reprodução/Facebook/Kevin Douglas Beltran Espada
Kevin Espada morreu em fevereiro de 2013
Imagem: Reprodução/Facebook/Kevin Douglas Beltran Espada

Ele se recorda que, antes de Kevin morrer, a torcida corintiana vivia quase uma “lua de mel” com o clube, que vinha de títulos e vitórias. “Mas, tudo o que aconteceu ali foi muito trágico. Todo mundo ficou abalado. O Kevin era só um menino, indo ver seu time, e não voltou mais pra casa. Quando rolou, me coloquei no lugar da família, fiquei de luto. É o que diz a letra”, explica ele.

Galano conta que já tinha as melodias e a harmonia para esta canção, mas ainda faltava uma letra. Sua banda tem três corintianos e um palmeirense, e eles não imaginavam falar sobre futebol. Como já abordavam temas como violência e justiça, decidiram abrir uma exceção e homenagear o garoto, com apoio do “rival” palmeirense, o baterista do grupo.

“Uns dois dias depois da morte dele, fui colocando as letras, falando de violência em estádios, e saiu em uns cinco minutos”, conta ele, que fala do caso de Kevin em todos os shows do Não Há Mais Volta, antes de executar a música. “A violência nos estádios é algo que questionamos até hoje. Mesmo com a morte dele, as coisas não melhoraram. O futebol é uma extensão da sociedade. E, como a sociedade não reprime a violência fora, imagina dentro do estádio... O Kevin não pode virar só mais um dado para contar. Cantar sobre ele é uma forma de homenagear e relembrar o que aconteceu.”

Galano, que não participa de torcidas organizadas, conta que tem cerca de 80 camisetas do Corinthians e deu nome aos seus gatos em homenagem a ex-jogadores: Baltazar e Biro-Biro. Já chegou a viajar para a Argentina para ver Corinthians x River Plate em 2006 - recebido a pilhas e rojões pela torcida rival, ao lado do vocalista do CPM 22, Badauí. Mas diz que foi "incrível".

Como a experiência com a letra sobre Kevin vem fazendo sucesso, Galano já estuda falar mais sobre paixão por futebol em outras letras.

O disco autointitulado do Não Há Mais Volta foi lançado em maio, pela gravadora Hearts Bleed Blue e o selo Semper Adversus. Ouça, na íntegra, no UOL Música Deezer.

Confira a letra da música:

Não Há Mais Volta - Kevin
(Música e Letra: Ricardo Galano)

Se ponha no lugar e tente compreender
Mais uma vida que se foi!
E a segurança onde está?
Quantos vão morrer?
Até tudo ter um fim???
Mais um dado pra constar num campo de futebol
Vamos todos refletir
E celebrar em paz mais uma vitória e brindar
O luto é real, não vou me silenciar

Se ponha no lugar do familiar
Mais uma vida que se foi!
E a segurança onde está?
Quantos vão morrer?
Até tudo ter um fim?
??Mais um dia pra lembrar num campo de futebol
Vamos todos refletir
E celebrar em paz mais uma vitória e brindar
O luto é real, não vou me silenciar

Mais um dia pra lembrar num campo de futebol,
Vamos todos refletir
E celebrar em paz mais uma vitória e brindar
O luto é real, não vou me silenciar