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Órfão foi do sonho ao pesadelo no Real Madrid e hoje está na Série B

Alipio, que passou pelo Real Madrid e hoje atua pelo Luverdense - Divulgação/Luverdense
Alipio, que passou pelo Real Madrid e hoje atua pelo Luverdense Imagem: Divulgação/Luverdense

Daniel Lisboa e Vanderlei Lima

Colaboração para o UOL e do UOL, em São Paulo

04/09/2015 06h00

Ser descoberto por um empresário aos 14 anos e fechar um contrato com um clube europeu. Aos 16, estar no Real Madrid. Isso parece o roteiro dos sonhos de muitos jovens que querem ganhar a vida jogando futebol. Mas não foi bem assim para o atacante Alípio, hoje com 23. De jovem promessa com uma carreira promissora pela frente, ele enfrentou contusões, problemas com técnicos, transações frustradas e entende que a passagem pelo clube espanhol ao invés de alavancar, mais prejudicou sua carreira. Hoje, tenta recomeçar no Luverdense de Mato Grosso, da Série B Nacional. E, todos os altos e baixos na carreira foram vivenciado sem ter a presença dos pais para auxiliá-lo. Ele é órfão desde os 10 anos.

Europa aos 14 anos

“Eu estava em uma escolinha em Brasília. Fui jogar um campeonato em São Paulo e aí um intermediário de um empresário português me viu jogando, entrou em contato com este empresário e eu fui para Portugal”, lembra Alípio. Ele embarcou para o Rio Ave e teve o privilégio de iniciar sua carreira ainda muito jovem no Velho Continente. Uma vez em campo como profissional pela primeira vez, logo foi negociado pelo seu empresário Jorge Mendes com ninguém menos que o Real Madrid. Alípio, porém, foi para o time B do clube e, logo no primeiro jogo, sofreu uma lesão no tornozelo.

O pesadelo Real Madrid

Daí em diante, os problemas se avolumaram para a então jovem promessa. O tornozelo machucado rendeu um mês fora. Na temporada seguinte, ressurgiu uma tendinite no joelho que, segundo Alípio, já vinha desde a época do Rio Ave e não foi devidamente tratada pelo Real Madrid. Pior: o atacante diz que entrou em campo forçado. “Não é que eles não queriam tratar, na verdade eles não trataram mesmo. Agora não me pergunte o porquê, está aí uma coisa que eu nunca consegui compreender”, lamenta o atacante. “Comprar um jogador jovem e não querer cuidar”. Alípio explica que os médicos do Real limitaram seu tratamento a aplicações de gelo e fortalecimento muscular. E seu empresário dizia que ele tinha que “passar por cima” da situação e “jogar de qualquer maneira”. A “forçada de barra” não deu certo, e o jogador acabou retornando à Portugal, desta vez para atuar por um grande. “O Benfica sim foi o clube que cuidou de mim”, conta Alípio.

Cirurgia e nova lesão

No clube português, porém, o atacante só atuou pelos juniores. E isso só por causa das infiltrações no joelho que, segundo ele, eram aplicadas semanalmente. Como o tratamento convencional definitivamente não estava dando resultado, e consequentemente Alípio não era aproveitado pelo time principal, o Benfica finalmente resolveu submeter o jogador a uma cirurgia que resolveu sua tendinite. Seria uma esperança para a carreira de Alípio deslanchar se, pouco depois de voltar a treinar, ele não rompesse o ligamento cruzado do outro joelho, o esquerdo. Ao todo, as lesões custaram cerca de 1 ano e três meses de afastamento dos gramados entre 2011 e 2013. A sequência de jogos e a confiança só voltaram quando ele deixou o Benfica, em agosto de 2013, e, depois de uma rápida e malsucedida passagem pelos Emirados Árabes, acabou no Chipre. “Lá eu joguei na segunda metade da temporada, fui bem e recuperei a minha confiança no início da temporada seguinte”, recorda o jogador, que, no entanto, logo encarou novas provações.

Recomeço em Mato Grosso

A temporada de dissabores na Europa finalmente terminou com a contratação de Alípio pelo Luverdense em fevereiro deste ano. O time da cidade de Lucas do Rio Verde disputa a Série B do Brasileirão, e recentemente Alípio saiu do banco de reservas para marcar dois gols na goleada de 5 a 2 contra o Náutico. “Eu joguei dez partidas como titular, aí entro no segundo tempo e faço dois gols, vai entender. Estava na hora, a bastante tempo que eu vinha buscando esses gols”, comemora o atacante. Órfão de mãe, que morreu de câncer quando ele tinha dez anos, Alípio também nunca conheceu seu pai. E diz que não faz questão de conhecer. Sua tutora legal foi sua tia. O jogador não esconde a mágoa do Real Madrid, que para ele prejudicou muito sua carreira, e hoje prioriza a felicidade fora de campo. “Com a experiência que eu adquiri estes anos, agora estou com os pés no chão, há dois meses eu me casei. Então eu acredito que estou no caminho certo. Agora, se eu vou alcançar este patamar (jogar na Espanha) de novo, só Deus sabe.”