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Vuaden defende auxiliar afastado e sugere que torcedor experimente apitar

Vuaden durante partida entre Palmeiras e Vasco no Pacaembu, em 2011 - Ricardo Nogueira/Folhapress
Vuaden durante partida entre Palmeiras e Vasco no Pacaembu, em 2011 Imagem: Ricardo Nogueira/Folhapress

Daniel Lisboa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

05/09/2015 06h00

Árbitro da partida entre Goiás e Palmeiras disputada na quarta-feira (02) no estádio Serra Dourada, Leandro Vuaden conta com a experiência de quem apita desde 1997 para encarar as polêmicas envolvendo o jogo. Seu auxiliar, Marcelo Barison, foi afastado pela CBF por “desempenho abaixo do padrão estabelecido”.

Vuaden diz que “passou por isso diversas vezes”, e “a receita é continuar trabalhando. As opiniões ficam para vocês da imprensa e para os ex-árbitros que hoje são comentaristas”. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele lembra que os árbitros não recebem enquanto estão na “geladeira” e sugere aos torcedores apitarem uma partida.

Você assistiu Goiás X Palmeiras pela TV e reconheceu alguns erros?

“Não tem como eu falar que não, até porque seria uma falta de profissionalismo muito grande. Eu respeito a opinião dos outros, mas eu tenho a minha. Trabalho com uma visão dentro do jogo, as câmeras de TV são opções que eu não tenho. Mas, mesmo quando há um acerto ou um equívoco, procuro avaliar todas as situações para que não venha a acontecer mais. A arbitragem é um exercício de repetição. Eu faço isso sempre de uma forma muito natural e tranquila, para justificar o amor que eu tenho por apitar futebol e o respeito que eu tenho com todos que estão no futebol. Todos os jogos trazem alguma lição.”

Quando você é xingado, como já foi pelo Alexandre Kalil, que o chamou de vagabundo e ladrão, o que você faz? Já processou algum dirigente?

“Não. Quando há declaração de A, B ou C, eu nem entro nesse mérito. De repente, se eu fosse dirigente eu teria o mesmo pensamento. Hoje é ele (Kalil), amanhã é outro. Já encontrei muitas vezes vários dirigentes e eu sou um cara muito tranquilo, estou focado com o meu trabalho. Evidente que eu vivo num contexto em que existe um bombardeio, tiroteio para tudo o que é lado, mas eu tenho que ter cabeça fria. Atuar em alto nível, essa é a primeira preocupação que o árbitro de futebol tem que ter. É preciso estabelecer uma relação de confiança, de credibilidade. Lógico que alguns equívocos acontecem, mas eu jamais vou ter mágoa, jamais levei coisas de um jogo para o outro ou de um ano para o outro. Não vou bater boca ou discutir com torcedores, agora, se eu tiver oportunidade, a primeira pergunta que eu faço é a seguinte: você já apitou futebol? De repente ele (o torcedor) responde ´nunca`, aí eu falo, ´faço um convite: na tua turma de trabalho tem aquela famosa pelada do final de semana. Na próxima, não jogue, pegue o apito e os cartões. Já vão te olhar diferente com cinco minutos de jogo. Se você reverter um lateral, a metade vai virar teu inimigo`. Essa é a visão que se tem do árbitro de futebol. Então o torcedor responde ´pô Vuaden, você tem razão.”

Você assume erros de Goiás X Palmeiras?

“No gol do Palmeiras, foi o assistente que levantou a bandeira, vamos deixar bem claro. Mas eu não faço avaliação pública. A minha avaliação é interna. Mas eu não sou o dono da verdade, se a imagem está me mostrando alguma coisa, eu preciso considerar. Eu apito futebol única e exclusivamente por aquilo que eu vejo com o auxílio dos meus dois assistentes. É desta forma que a gente trabalha na arbitragem. Não é com declaração que a gente consegue mudar isso.”

Você defende a tecnologia para todos os lances polêmicos do futebol?

“Eu defendo a tecnologia utilizada na Copa do Mundo, do gol e do não gol, e vou justificar: muitas vezes, você não ocupa um espaço físico para tomar uma decisão, e é desagradável porque a bola entrou e tudo o que o futebol quer, e todos os apaixonados por futebol querem, é gol, né. Do restante, a gente pode discutir amplamente outras coisas da arbitragem, como a profissionalização. O jogador sofre muitas coisas durante a carreira, e assim é o árbitro. Quando ele comete um equívoco, ele sofre muito, muitas vezes publicamente ele é condenado, julgado, sofre punição. Nenhum árbitro de futebol vai a campo de jogo para favorecer ou para prejudicar alguém, tenha certeza absoluta disso.”

Afastar o árbitro adianta? Adiantou para você ser afastado em outros momentos?

“Eu já fui afastado e entendo perfeitamente. Eu sou funcionário de uma empresa, a empresa me contratou para eu dar retorno, certo? Para que eu possa desempenhar a minha função, mas, a partir do momento que eu não dou retorno para esta empresa, alguma coisa está acontecendo, e alguém vai me chamar para conversar. Então é nesse sentido que eu falo. Se o árbitro tiver que descansar, ou o termo que se usa, passar por uma reciclagem, não há problema nenhum. O jogador, quando não joga bem, para onde vai? O treinador, quando não dá resultado, para onde ele vai? Se é justo ou injusto, bom, tenho um amigo que fala que o jogador continua recebendo o salário dele, mas, se o árbitro não trabalha....Mas não é essa a comparação que tem que ser feita. Eu respeito, eu sou empregado, por enquanto eu não sou patrão, vamos continuar trabalhando.”

Você trabalha com o quê?

“Eu tenho uma empresa que presta serviços de arbitragem para futebol amador, mas está diminuindo porque a concorrência é grande. O futebol amador está sofrendo um pouco com a crise. A arbitragem no futebol amador é incrível, as pessoas querem bons árbitros, mas querem pagar pouco e isso não funciona, não tem como. Prefiro escolher qualidade. ”

Você conversou com o Marcelo Barison depois do afastamento? 

“A solidariedade entre companheiros de profissão é reciproca, isso é óbvio. A gente conversa, a gente procura, temos um canal de comunicação muito saudável. O Marcelo conversou comigo, a relação de confiança com os companheiros é muito grande. A gente precisa entender a dificuldade da jogada para procurar entendê-la, e isso não é fácil. O Marcelo está lá como profissional, procurando fazer o melhor dele e infelizmente foi traído, e olha que esse tira-teima, eu vou te dizer, é cruel. Um canal mostrou que não estava e o outro mostrou que estava, isso na transmissão ao vivo. O Marcelo está bem, é um cara que tem experiência e são os últimos três meses de arbitragem dele. Você acha que ele ia querer errar faltando três meses para ele encerrar a carreira? Claro que não, acontece. Tem coisas que fogem da gente. Isso não é justificativa, agora, quem vive no meio, sabe. Por isso, para o torcedor eu faço este convite, para que ele procure entender. ”