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Mário Sérgio: Corinthians topou pagar para ser ajudado, mas voltou atrás

Divulgação/Fox Sports
Imagem: Divulgação/Fox Sports

Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

09/09/2015 17h18

Um clássico pouco lembrado do Campeonato Brasileiro de 1993 pode representar mais um indício de corrupção no futebol brasileiro do fim do século 20. Quem acusa é Mário Sérgio Pontes de Paiva, técnico que comandou o Corinthians no torneio em questão. Durante participação no programa Boa Noite Fox, o ex-treinador contou que foi a um jantar com Sidney Dualib e ficou acertado que o juiz ia ajudar o Corinthians. A declaração foi explicada pelo ex-treinador e comentarista ao UOL Esporte, nesta terça-feira.

O clássico foi um Corinthians 3 x 2 Santos, pela primeira rodada da segunda fase da competição. Os dois times se enfrentaram em 20 de novembro daquele ano pelo Grupo E, composto também por Vitória e Flamengo. Jogando no Morumbi, o Corinthians venceu por 3 a 2, graças a gols de Rivaldo, Válber (de pênalti) e Zé Elias; Gallo e Guga marcaram para os santistas.

No entanto, segundo Mário Sérgio, o Corinthians recebeu uma oferta tentadora de um intermediário: se pagasse, seria favorecido pela arbitragem na partida, chefiada por Oscar Roberto Godoy. O ex-treinador afirmou que o Corinthians topou fazer o negócio por meio do ex-diretor, porém a transação nunca foi concretizada:

"O que eu falei foi o seguinte, que suspeitas de compra de jogo, muitas vezes tinham um intermediário que entrava no negócio e propunham a venda do jogo, e o juiz nem estava sabendo do negócio. Como foi neste jogo do Corinthians contra o Santos o que realmente aconteceu, porque o juiz daquela época apitou (Oscar Roberto Godoy) e foi uma arbitragem normal. Se alguém se sentiu prejudicado foi o Corinthians, e a intenção era justamente ajudar o Corinthians, inclusive eu falei para o Sidney Dualib, diretor de futebol naquela época e parente do Dualib (ex-presidente): 'Você não dá nenhum dinheiro pra esse cara, ele não ajudou a gente em nada, muito pelo contrário ele prejudicou a gente. Esse cara quer o dinheiro pra ele'. Eu estava suspenso e por isso assisti ao jogo nas cabines do Morumbi e eu falei, 'não dá dinheiro algum pra ele não porque esse é vagabundo', se a gente ganhasse ele iria cobrar dinheiro era uma prática comum naquela época, que hoje não existe mais. Eu disse que hoje em dia eu não acreditava de forma alguma que existisse qualquer coisa de resultado dirigido para alguém."

Mário Sérgio afirma que o emissário responsável por levar a oferta aos clubes era um ex-árbitro, não identificado. O Corinthians se recusou a pagar - inclusive depois da vitória, já que a arbitragem de Godoy foi prejudicial para o clube no clássico de 1993. Naquela partida, após abrir 2 a 0, o Corinthians reclamou um pênalti que Godoy não marcou, de Ricardo Rocha sobre Viola.

"O Sidney não pagou nada, não. Foi o jogo que ganhamos de 3 a 2. Nós fizemos 3 a 0, aí o Santos começou a reagir, reagir, reagir. Aí teve um gol em completo impedimento do Santos (marcado por Guga), que o bandeirinha não deu. Eu dei um soco na janela, quebrei o vidro da janela e falei: 'Sidney, você não vai pagar esse filho da p…, que ele está roubando a gente'", completou.

Atualmente comentarista da Fox Sports, Mário Sérgio disse que nunca caiu nesse tipo de propostas. Segundo ele, como nunca presenciou o próprio árbitro se oferecendo para ajudar um time em troca de dinheiro, não tinha como saber se não era um truque do intermediário.

"Era um ex-juiz, que se dizia intermediário do negócio, que estava defendendo os interesses do árbitro e que favoreceria o Corinthians no jogo contra o Santos. Aí, na hora do jogo, eu falei: 'não vai entrar nessa, porque o que eu estou vendo aqui, não está beneficiando em nada. Muito pelo contrário'. Eu disse justamente isso, naquela época, como pode ser que aconteça hoje também: alguém falava em nome do juiz, que não estava nem sabendo de nada", contou Mário Sérgio à reportagem.

Procurado pelo UOL Esporte para responder às declarações de Mário Sérgio, Oscar Roberto Godoy não quis se pronunciar.