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Corinthians emociona "durão" Jadson. Mas foi outra torcida que o fez chorar

Jadson é o jogador com mais gols marcados na Arena Corinthians - Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians - Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians
Jadson é o jogador com mais gols marcados na Arena Corinthians
Imagem: Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

07/10/2015 06h00

Há algumas maneiras de conquistar um jogador. Com Jadson, a receita de Tite foi sinceridade, respeito e cobranças.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o vice-artilheiro e líder em assistências do Brasileirão conta por que encontrou no atual treinador do Corinthians alguém capaz de transformar sua carreira de destaque já na "terceira idade" do atleta profissional. Jadson, que completou 32 anos na última segunda-feira, é um novo jogador em 2015.

De Tite, ele escutou e acreditou que precisava se dedicar mais e que teria um ano em grande nível. A forma como emagreceu e se tornou competitivo é fruto das conversas com o chefe e de um objetivo estabelecido por ele próprio para o novo ano: ser campeão e jogar bem de janeiro a dezembro. Se o título do Brasileirão vier, e ele considera que perdê-lo a essa altura seria trágico, Jadson deve deixar as emoções rolarem pela primeira vez em muitos anos.

Ao UOL, o camisa 10 explica a última vez que o futebol fez com que chorasse. Foi em 2012, quando deixou o Shakhtar Donetsk depois de mais de sete anos na Ucrânia. Agora, ele admite: a torcida corintiana provoca suas maiores emoções como jogador.

Confira a entrevista exclusiva de Jadson na íntegra:

UOL - As suas maiores qualidades, o passe perfeito e a finalização, foram um dom que você teve ou fruto de trabalho?
Jadson -
Acho que é muito treinamento. Cada um nasce com um dom, só que você tem que aperfeiçoar. Durante a infância, quando estava na base, fui aperfeiçoando isso treinando e com muita cobrança de vários treinadores que eu tinha. Trabalhos técnicos de devolver a bola, cobrança de falta, fazia muito, e isso ajudou muito para estar preparado quando cheguei aos profissionais.

Jadson comemora um dos 15 gols anotados no ano: artilheiro corintiano - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Jadson comemora um dos 15 gols anotados no ano: artilheiro corintiano
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

UOL - A rodagem ajuda muito?
Jadson -
Fui ganhando experiência, bagagem no futebol. Já são 10 anos como profissional e você vai aprendendo a tentar errar menos nos jogos, você já sabe onde vai dar o melhor passe. Hoje estou me aperfeiçoando ainda, mas já tenho um pouco de experiência.

UOL - Você cresceu muito como jogador em 2015, mesmo aos 32 anos?
Jadson -
No começo do ano coloquei algumas metas para 2015. Trabalhei forte na pré-temporada, me dediquei ao máximo com a comissão e meus companheiros. Quando tive a oportunidade de jogar como titular, tentei aproveitar minha chance. Por causa disso, das minhas metas e treinamentos, estou hoje colhendo frutos com a equipe, claro, que cresceu ao longo do ano. Hoje temos a possibilidade de sermos campeões brasileiros. É um sonho meu, do grupo todo. Vou continuar trabalhando firme para que as coisas deem certo.

UOL - Em 2004, o Atlético-PR foi favorito ao título e perdeu para o Santos na reta final do Brasileirão. É um aprendizado?
Jadson -
Quando fui para a Ucrânia, logo após o término do Brasileiro, fiquei dois ou três anos pensando na possibilidade. Fiquei muito pensativo, vi que aconteceram algumas coisas naquele ano que não deram certo, que não era para ser campeão mesmo, apesar da equipe ter feito um belo Brasileiro. Esse ano está se repetindo uma nova oportunidade de sermos campeões. É continuar trabalhando firme. Com o passar dos anos você vai aprendendo com os erros.

UOL - Em janeiro, você procurou o Tite para saber como seria o ano e se deveria sair. O que ele disse de especial para te fazer ficar?
Jadson -
Além do papo, a sinceridade que ele teve nas palavras dele. Não falou em nenhum momento que ia me colocar de titular se eu ficasse, mas apenas que gostaria de contar comigo no grupo, contar com meu futebol, mas que eu teria que brigar pela minha posição. As coisas foram acontecendo naturalmente. O Tite conversa olho no olho e isso é importante no treinador. Ele tem todo mundo na mão, por isso a equipe foi crescendo e está nessa situação.

UOL - No Rio de Janeiro, se disse muito que o Flamengo havia reservado a camisa 10 para você. Aconteceram muitas conversas?
Jadson -
Houve sim o interesse do Flamengo na época. Tive até conversa com Tite e Edu Gaspar falando dessa possibilidade e os dois passaram a ideia deles para mim, que não queriam me perder esse ano, queriam que eu ficasse. Tite deu a palavra dele que eu ficaria, que era jogador do Corinthians. Foi uma escolha que tivemos juntos e hoje, graças a Deus, estou colhendo os frutos do trabalho do começo do ano.

UOL - Houve a oportunidade de ir para a China pouco tempo depois. Ficar foi uma escolha profissional ou familiar?
Jadson -
Nossa equipe vinha bem, entrosada, eu via a possibilidade de ser campeão da Libertadores pelo Corinthians, o que seria muito importante para minha carreira. Também teve o lado familiar, porque sairia para a China, com cultura diferente, outro país, para levar meus dois filhos que estão adaptados ao Brasil, então pesou bastante. Quando fui para a Ucrânia, estava namorando com a minha mulher. Ir em casal é diferente de levar os filhos. Tenho um filho de 8 anos e outro de 3. Tivemos uma conversa em casa, colocamos tudo na balança e resolvi ficar no Corinthians. Fico feliz da minha escolha ter dado certo.

UOL - O jogador cresce muito quando o treinador demonstra confiar nele?
Jadson - A confiança que o Tite passa para mim, passa para todos os jogadores. Nos treinamentos, o pessoal que não vem jogando, ele dá a mesma atenção. Todos se sentem valorizados, é muito importante, é o diferencial do Tite. Ele deixa todo o grupo bem focado, todo mundo ligado, para quando um se machucar ou não estiver disposto, o outro vai entrar e vai dar conta.

UOL - O Mano confiava muito em você, mas 2014 não terminou bem, com você no banco de reservas e sem jogar. Ele perdeu a confiança em você em campo? Houve alguma coisa?
Jadson -
Tenho grande respeito e carinho pelo Mano. Ele me deu a oportunidade de ir na seleção, depois tive a oportunidade de trabalhar no Corinthians com ele. Ele me deu confiança, porque trazer um jogador do rival não é fácil. Ele sabia do meu potencial, só que com o passar do tempo as coisas começaram a não dar certo com o time, veio muita pressão e às vezes tem que trocar os jogadores. O elenco é muito grande, outros jogadores estão esperando oportunidade.

Com Tite, Jadson executa nova função na carreira, agora aberto pelo lado direito - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Com Tite, Jadson executa nova função na carreira, agora aberto pelo lado direito
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

UOL - No caso, o Renato Augusto estava na reserva...
Jadson -
Tinha o Renato e o Petros, só que o Mano tinha outro pensamento. Ele não gostava de jogar com dois meias de criação, então optou por um, que foi o Renato. Eu sempre respeitei, nunca bati de frente. Foi uma ideia que ele teve e respeitei. O Tite dá a oportunidade para mim e o Renato juntos, e tem dado certo.

UOL - Uma saia justa para você. Jadson ou Renato Augusto, quem é o melhor do Brasileirão?
Jadson - Tem muitos jogadores se destacando. A nossa equipe, por estar na primeira colocação, sempre vai haver destaque maior. Mas tem Lucas Lima, Renato, Dátolo que vêm fazendo um grande campeonato. Tenho que pensar em jogar futebol e vou deixar essa saia justa para vocês jornalistas verem quem merece estar entre os melhores (risos).

UOL - Por sinal, você tem contrato até agosto de 2016. Não foi procurado para renovar?
Jadson -
Não, renovei o contrato no meio da Libertadores até agosto do ano que vem. Pretendo cumprir até agosto, vou esperar o Corinthians vir conversar. Agora só penso em jogar bem, ser campeão brasileiro, Deus sabe o que está reservado para o futuro.

UOL - Você esteve na Copa das Confederações, foi campeão, e depois assistiu à Copa do Mundo pela televisão. O que explica o desastre do 7 a 1 em sua opinião?
Jadson - É difícil porque o povo brasileiro tem uma visão da seleção brasileira, que por ser pentacampeã, é a melhor do mundo. Por ser cinco vezes campeã também acho, mas tem seleções de alto nível se preparando como Alemanha e argentina. Todo mundo estava na expectativa, mas as seleções vieram preparadas. A pressão sobre os jogadores brasileiros pode ter interferido um pouco.

UOL - Hoje uma grande aposta da seleção é o Douglas Costa, que jogou com você no Shakhtar. Lá na Ucrânia já dava para prever esse sucesso ou você também acha que ele tem crescido de produção no Bayern de Munique?
Jadson -
Quando o Douglas chegou no Shakhtar, a gente já via que ele era diferenciado. Pela velocidade, pelo arranque, pela força e técnica. Com o passar do tempo, ele foi ganhando bagagem e hoje está preparado. A motivação de sair do Shakhtar e jogar no Bayern de Munique com um grande treinador que é o Guardiola tem feito ele jogar bem. As convocações para seleção também motivam. Torço por ele, um menino tranquilo e do bem.

UOL - Além do gol, que é o momento ápice, o que te emociona ainda no futebol?
Jadson -
A vibração da torcida. Meu sonho sempre foi jogar no Corinthians. Sempre joguei contra e senti a vibração da torcida do Corinthians. Tenho a oportunidade de jogar na Arena, de ver a torcida pulsando, gritando, vibrando a todo momento com o time. Isso é muito emocionante. Eu fico feliz de passar por essa experiência aqui.

UOL - Qual a última vez que o futebol te fez chorar?
Jadson -
Quando fui transferido do Shakhtar. Eu ia sair depois de sete anos e meio, então fui na sala de imprensa me despedir de uns 300 torcedores. Comecei a falar ali e não aguentei, comecei a chorar. Mesmo segurando o choro, saíram lágrimas.

UOL - Mas faz bastante tempo, isso foi em janeiro de 2012. Você é duro na queda?
Jadson - Já faz um tempinho. Não sou meio duro na queda. Sou um pouco emotivo, mas não por qualquer coisa. Tem que ser uma coisa que você viva, que sinta ali a vivência dos jogadores e do clube. Quando é uma coisa que é forte emocionalmente eu fico bastante emocionado.