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Lateral chegou a largar Santos por apanhar em casa. Hoje é titular do time

Com Dorival, Zeca assumiu a lateral-esquerda e não perdeu mais a vaga de titular - Ricardo Saibun/Santos FC
Com Dorival, Zeca assumiu a lateral-esquerda e não perdeu mais a vaga de titular Imagem: Ricardo Saibun/Santos FC

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

07/10/2015 06h00

O corte na seleção brasileira olímpica por causa de uma lesão não desanima o lateral Zé Carlos, do Santos. Titular absoluto com o técnico Dorival Júnior, a revelação santista já está acostumada às adversidades em sua carreira. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Zeca, como é chamado, revelou que enfrentou violência no lar enquanto atuava nas categorias de base do Santos e teve que deixar o clube por imposição dos avôs, preocupados com a integridade do neto, que tinha apenas 12 anos na época.

Zeca deixou o Paraná para fazer testes no Santos. Aprovado, o lateral foi morar com a família de um dos garotos que conheceu na base santista. Foi lá que o lateral viveu os piores momentos de sua carreira e até de sua vida.

“Chegou a acontecer de eu apanhar, sendo que nem eram meus pais, pessoas conhecidas. Mas não me arrependo de nada, não podia ter passado, mas valeu a pena e, hoje, bola para frente. Eu não gosto nem de lembrar”, afirmou Zeca.

O lateral santista prefere não revelar a família que o humilhava e até o agredia durante a sua primeira passagem pelo Santos. O sofrimento acabou quando seus avôs fizeram uma visita de surpresa ao lar e flagraram o maltrato. 

Confira a entrevista com Zeca na íntegra:

UOL Esporte: Zeca, qual o pior momento de sua carreira?

Zeca: Quando eu tinha 12 anos eu fui jogar no Santos. Eu era muito novo, aconteceram muitas coisas em Santos, onde eu morava, que dificultaram para eu permanecer no Santos. Meus avós me levaram embora. Muita coisa aconteceu, pressão psicológica, família que eu morava, que não vou citar nomes, que me maltratou. 

UOL Esporte: Como você conheceu essa família?

Zeca: Eu vim fazer testes, passei, e um amigo que jogava no Santos, ele cedeu a casa, meu avô ajudava financeiramente, e eu morava com a família dele. Esse momento foi o mais difícil, muita coisa que aconteceu dentro e fora de casa.

UOL Esporte: Como você se livrou desta situação? Você deixou o Santos?

Zeca: Meus avôs vieram me buscar, sentiram que eu estava mal e chegaram na hora que eles estavam brigando comigo. Eles chegaram na hora, na casa, de surpresa. Eles viram que eu tinha emagrecido, estava debilitado. Eles me tiraram da casa e do Santos.

UOL Esporte: Você foi prejudicado no Santos por causa desta família?

Zeca: O pai do atleta era brigado com o treinador e acabou me prejudicando em muitos fatores. Hoje só agradeço a Deus por estar aqui.

UOL Esporte: Você citou seus avôs, e seus pais?

Zeca: Meus pais são separados e moravam fora do país, meu pai na Austrália e minha mãe na Inglaterra. Eu fui criado com os meus avôs, eles sempre apoiaram o futebol.

UOL Esporte: Você deixou de morar com os seus pais por causa do futebol?

Zeca: Sim. Na verdade, minha mãe nunca gostou que eu jogasse futebol, ela sempre foi contra. Por isso nunca fui pra lá. Ela não ia me deixar jogar lá. E meus avôs me apoiavam sempre. Converso muito com meu pai, mas ele morou dez anos fora. Tenho um bom relacionamento, hoje, com o meu pai.

UOL Esporte: O que você gosta de fazer fora do futebol?

Zeca: Fora do futebol, eu gosto de fazer academia, faço bastante, até preciso também.

UOL Esporte: Por que você não confessou que cometeu o pênalti contra o Corinthians?

Zeca: A gente estava conversando (atletas), se o árbitro expulsou o David Braz por reclamação. Se eu falasse ele expulsaria os dois. Eu até falei com ele (juiz).

UOL Esporte: Você é destro, mas hoje você prefere jogar na lateral esquerda?

Zeca: Adaptei-me nessa posição, gosto de cortar para o meio, confunde o marcador, ele não sabe se vou para esquerda ou direita. É a posição que eu gosto de jogar.

UOL Esporte: Dorival te conhecia ao evitar sua saída para os Estados Unidos?

Zeca: Ele não me conhecia, o Marcelo teve uma parcela, passou para ele os treinos. Eu só não estava atuando por causa dos Estados Unidos. Eu tinha pegado o passaporte de manhã, estava tudo certo para ir embora e, à tarde, o professor Dorival me colocou no time titular. Ele chegou como um pai, não estava jogando.

UOL Esporte: Para voltar ao Santos, você teve que ser gandula?

Zeca: Com 12 anos eu joguei no Santos, depois eu fui embora, joguei no Atlético-PR, depois fui para o América-SP, e trabalhei com o preparador físico bolinha [Luiz Fernando], que hoje está no Santos (sub 15). Nesse jogo entre Santos e America-SP, eu estava de gandula. Ele me viu lá, me reconheceu, e depois ele conversou com os dirigentes e eu tive a oportunidade de voltar ao Santos.

UOL Esporte: Santos chegará na Libertadores pelo Brasileiro ou Copa do Brasil?

Zeca: A conversa que temos com o professor (Dorival) e o capitão, Ricardo Oliveira, é de jogo a jogo. Enfrentamos cada jogo como uma final. Queremos as duas competições. O Dorival não está poupando ninguém, a maioria é moleque, quer jogar toda hora. Queremos chegar nas duas competições

UOL Esporte: Por que o Dorival deu tão certo?

Zeca: O Dorival tem o DNA do Santos, que é para frente. Ele foi para fora estudar, e a metodologia deles é impor o trabalho igual lá fora. Marcar e atacar com intensidade.

UOL Esporte: Você fazia muitos gols de falta na base. Por que não cobra no profissional?

Zeca: Eu estou treinando bastante, junto com o Ricardo e o Lucas Lima. Bato bastante as faltas laterais, mas quero pegar as faltas do meio também. Vou pedir para o Ricardo me deixar bater (risos).