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Seleção sem identidade sul-americana estreia abraçada em discursos efusivos

Douglas Costa é a esperança de substituição de Neymar - Stephan Savoia/AP Photo
Douglas Costa é a esperança de substituição de Neymar Imagem: Stephan Savoia/AP Photo

Danilo Lavieri

Do UOL, em Santiago (Chile)

08/10/2015 06h00Atualizada em 08/10/2015 11h22

“A pegada é diferente”, “a pressão aqui é para ganhar sempre”, “as Eliminatórias começam no aeroporto”. Dunga sabe que sua seleção pode sofrer um pouco com a falta de experiência em competições sul-americanas e tem feito questão de repetir frases como essas em todas as suas últimas entrevistas na preparação para a estreia desta quinta-feira (8), contra o Chile, às 20h30, em Santiago.

Do provável time titular, apenas Daniel Alves, Miranda e o lateral esquerdo, seja ele Filipe Luís ou Marcelo, já disputaram uma Eliminatória. Mais do que isso, a maior parte dos jogadores saiu cedo para a Europa, teve a sua formação bem distante do Brasil e não disputou nem mesmo uma Libertadores, por exemplo. Do provável time titular, apenas Jefferson, Oscar e Elias (que pode ser reserva) jogaram o mais tradicional torneio de clubes sul-americanos. Nomes como David Luiz, Filie Luis, Luiz Gustavo e Hulk se formaram na Europa. Daniel Alves, Fernandinho Douglas Costa e até Oscar saíram muito cedo.

A mal sucedida Copa América foi o auge de uma experiência sul-americana para nomes importantes do grupo como David Luiz. Para agravar essa situação, Oscar e Luiz Gustavo, nem puderam disputar a competição por causa de lesões. O fiasco na eliminação contra o Paraguai ligou o sinal de alerta em Dunga, que passou, então, a direcionar o foco mais superar os desafios da América mais do que estar bem conceituada mundialmente.

Para compensar isso, Dunga tem intensificado o seu discurso e resolveu contar com nomes experientes no grupo, como Ricardo Oliveira e Kaká, que têm poucas chances de jogar, mas esbanjam rodagem nessas situações. O meio-campista, por exemplo, está a dois gols de se tornar o maior artilheiro do país em Eliminatória.

O comandante admite publicamente que seu time foi formado longe da pressão brasileira, mas usa o contraponto que a seleção é muito mais respeitada na Europa do que no seu próprio país. Também não é novidade que o treinador sinta-se prejudicado com as constantes críticas que sofre de torcida e imprensa no Brasil.

“Temos muitos integrantes que foram jogar fora do país cedo. Mas pode ter certeza de que eles conhecem muito mais da história do Brasil, têm muito mais respeito do que a gente mesmo que mora no Brasil. Na Europa, eles têm respeito pela nossa história e não é só durante a Copa. É durante o ano todo. Cada evento, eles lembram da nossa história, de algum jogador nosso”, disse Dunga, para depois criticar.

“Nós lembramos só de histórias recentes e sempre perto da Copa. Nós, que estamos no futebol, lemos coisas e ficamos admirados com a história que nós mesmos temos. Os jogadores sabem dessa importância e da dificuldade que vai ser. É muito bom estar aqui”, completou.

O discurso de Dunga tem feito eco nos bastidores da seleção. Os jogadores repetem constantemente o que já virou mantra. David Luiz, por exemplo, desembarcou no Chile afirmando que seria importante “ter inteligência para não perder a cabeça”. Fernandinho disse que “é preciso estar preparado para as dificuldades de jogar na casa do adversário”. Hulk reconheceu que “será preciso ganhar também na trombada”. O experiente Ricardo Oliveira disse que “a pegada de uma competição sul-americana” é completamente diferente de uma Liga dos Campeões.

Ao mesmo tempo, os jogadores tentam se encher de confiança repetindo frases como “o Brasil é Brasil”, usando a história e o peso da camisa como argumentos que podem fazer a diferença. "Claro que eles vivem um bom momento, são os atuais campeões da Copa América, mas nenhuma seleção pode ser favorita quando se joga contra a seleção brasileira. No máximo, fica empatado. Então não acho que o Chile possa ser favorito", falou Daniel Alves. "O Brasil é Brasil e estamos fortes pra partida", endossou Miranda.

E é justamente essa tese que os chilenos usam na véspera da partida. Ao mesmo tempo que a “La Roja” tem muito mais rodagem sul-americana, com mais da metade do time tendo disputado uma versão de Eliminatória, os donos da casa apregoam que é preciso respeitar o que chamam de “hierarquia do futebol”, lembrando sempre as conquistas da seleção e também de Dunga. No ciclo de preparação para a Copa de 2010, sob o comando dele, o time foi campeão da Copa América, da Copa das Confederações e 1º lugar das Eliminatórias.

Sampaoli não poderá contar com Aránguiz, considerado por muitos como o melhor atleta do título na Copa América. Tem dúvidas se poderá escalar Vidal e Alexis Sanchez e confirma que Valdivia será titular. 


FICHA TÉCNICA

CHILE X BRASIL

Data: 08 de outubro de 2015, quinta-feira
Local: Estádio Nacional, em Santiago (Chile)
Horário: 20h30 (de Brasília)
Árbitro: Roddy Zambrano (Equador)

CHILE: Bravo; Silva, Medel e Jara; Isla, Diaz, Vidal (Valdes), Valdivia e González; Vargas e Sanchez
Técnico: Jorge Sampaoli

BRASIL: Jefferson; Daniel Alves, David Luiz, Miranda e Filipe Luis (Marcelo); Luiz Gustavo, Elias (Fernandinho) e Oscar; Willian, Douglas Costa e Hulk
Técnico: Dunga