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Leco pede estilo Telê com SP bom e barato, e não garante Doriva em 2016

Guilherme Palenzuela e Paulo Vinicius Coelho

Do UOL, em São Paulo

31/10/2015 06h00

Carlos Augusto de Barros e Silva ocupou os cargos mais importantes dentro e fora do futebol do São Paulo durante os oito anos da gestão Juvenal Juvêncio. Leco, como é conhecido o advogado de 77 anos, viu em 2013 o aliado Juvenal traí-lo ao escolher Aidar para a sucessão. Hoje, 18 meses após a eleição de abril de 2014, ele completou o sonho que já julgava impossível: assumiu a presidência do clube. Agora, Leco conta em sua primeira entrevista exclusiva, ao UOL Esporte, concedida no Morumbi, o que esperar do São Paulo em suas mãos.

Assim como já admitiu que analisa a contratação de Diego Lugano para 2016, o novo presidente já tem outras ideias para o futebol do clube. Diz que o São Paulo, que perderá Rogério Ceni, Alexandre Pato e Luis Fabiano, vai se reforçar de forma mais barata, mas com tanta ou mais competitividade. Afirma que Doriva vai precisar de resultados para ficar para o ano que vem, apesar de o técnico tem contrato até o fim de 2016. Fala, também, que quer o estilo de futebol de Telê Santana em seu São Paulo.

Leco ainda fala sobre Rogério Ceni como técnico no futuro, cita o terceiro mandato de Juvenal Juvêncio como o ponto de virada negativa na história do clube, conta qual será o papel do empresário Abilio Diniz na nova gestão, avalia como as denúncias de corrupção contra Aidar afetaram o São Paulo e diz como levará sua vida pessoal e profissional nos próximos 18 meses. Confira, abaixo, a entrevista.

UOL Esporte: Em 2016 não haverá Rogério Ceni, não haverá Pato e teoricamente não haverá Luis Fabiano. Isso desonera o São Paulo em quanto? Esse valor será usado para contratar outros jogadores ou sairá do orçamento?
Leco: Claro que desonera. São jogadores de remuneração alta, que se justificam pelas suas histórias, pelo valor que sempre tiveram. De uma certa forma teremos que fazer a reposição. A reposição, dentro de uma nova dinâmica, de um novo conceito, não será do mesmo nível. Do mesmo nível, que eu digo, de investimento. Mas nós buscaremos outros jogadores, jovens jogadores, um ou outro experiente, em uma reposição à altura. Então perda de qualidade não haverá. A economia é significativa, mas não será o motivo para que a gente reduza nossa capacidade.

Qual vai ser a filosofia de futebol do São Paulo na gestão Leco? O mandato curto exige que pense em resultados no futebol a curto prazo?
Eu vou trabalhar para o São Paulo. Se meu mandato for bom, eu sou capaz de ser impedido de ir para casa em abril de 2017. Eu vou tratar de dotar o São Paulo de uma equipe de futebol que nos dê alegria, que nos traga sobressaltos e que não nos envergonhe.

Mas se tiver que escolher um estilo de futebol para o São Paulo, qual é o estilo?
Telê Santana.

O Doriva é o técnico certo para seguir esse estilo?
Nesse momento, indiscutivelmente.

Doriva será o treinador do São Paulo em 2016?
Não sei. Não tenho condições de afirmar isso. Não significa que não será. Hoje ele é o nosso treinador e eu espero que ele alcance uma condição de resultados que justifiquem, assim, até a permanência dele. Mas se isso vai acontecer ou não, não sei. Vejam bem, eu tenho uma noção muito clara de que todas as instâncias devem ser muito respeitadas e observadas. Eu jamais desautorizarei um diretor meu em qualquer circunstância. Eu discutirei com ele a situação específica, e esse assunto é do futebol. E o futebol vai ter uma força extraordinária em como as coisas serão resolvidas: como o elenco será montado, quem vai sair, quem vai chegar, o treinador, a comissão técnica... É uma coisa que vou sempre conversar com eles. Eu nunca vou determinar o que vai acontecer.

A volta de Diego Lugano passou a ser comentada no clube como possibilidade real nos últimos três dias. Hoje, parece provável. O senhor defende a contratação?
Da mesma forma que aconteceu com você nesses últimos três dias, aconteceu com todos nós e comigo, eu não sou diferente. Aliás, comigo aconteceu até com um pouco mais de antecedência e intensidade, porque eu tenho ouvido muito isso. Tem exigido de mim, da sensatez que eu tenha, a obrigação de analisar, de considerar este aspecto. Não está resolvido, mas não está descartado. É uma coisa que a gente precisa amadurecer um pouco mais

O senhor diz que vai dividir tudo com o departamento de futebol. Mas qual sua opinião pessoal sobre a contratação do Lugano?
É evidente que ela tem prós e contras, tem bônus e ônus. Lugano é uma figura maiúscula na nossa história. Lugano é um símbolo extraordinário na história do São Paulo. E é esse símbolo que a nossa torcida está reclamando, de liderança, de interesse, de raça, de alegria. E claro que isso tem que ser analisado dentro de um contexto maior, inclusive para saber se o Lugano está disponível, se está interessado em jogar no São Paulo, quanto custa, como são as coisas. É uma análise que precisa ser feita de forma um pouco mais aprofundada. Eu ouvi um dia do Lugano, há muitos anos, há muitos anos, quando acho que ele jogava na Turquia e fez uma visita... Conversando, ele virou para mim e falou: "Doutor, eu não sei se para mim é bom voltar ao São Paulo, porque eu não conseguirei repetir o que já fiz e a minha imagem pode se comprometer". Ele para mim, textual. Mas que ele é um são-paulino, ele é completamente são-paulino. É um homem interessado. E não significa que ele não possa ter outros atributos que justifiquem, que nos aconselhem a fazer isso. Que a nossa torcida quer eu tenho certeza, já deu para perceber

Rogério Ceni vai se aposentar na gestão Leco. Ele falou com o senhor sobre seguir como ex-jogador dentro do São Paulo?
Não conversei com ele exatamente sobre isso, mas extraio de algumas coisas, manifestações, contatos, que ele ao parar vai se afastar durante algum tempo. Vai fazer o ano sabático. Vai procurar se preparar para a missão próxima dele, que não é ser dirigente do São Paulo. Ele provavelmente quer ser um técnico, mas um técnico de primeiro nível. E para isso ele talvez precise fazer um trabalho só voltado para isso. É o que eu acho que vai acontecer.

Inclusive para ser técnico do São Paulo...
Ô! Mas aí seria uma honra enorme para nós. Isso é o melhor. O melhor quadro é esse. Ele vir a ser o técnico do São Paulo. Capacidade a gente já sabe que ele tem.

Em 2009, o senhor era a favor da saída do Muricy? Por que?
Não, eu não era a favor da saída do Muricy. As coisas precisam ser bem colocadas. Em determinado momento, específico, fiz uma observação técnica, como qualquer outro apaixonado por futebol faz. Talvez como diretor eu não devesse fazer. Mas num momento de emoção teci uma crítica que não tem nada a ver à pessoa dele, não causou nenhum desmerecimento à figura dele. Foi um detalhe técnico, como eu poderia fazer por exemplo em relação ao fato de que nós fomos jogar muito abertos e expostos contra o Santos e que com 30 minutos estávamos perdendo por 3 a 0. Sempre tive com Muricy um relacionamento muito correto, fluente.

É consenso que era um sonho seu ser presidente do São Paulo...
Certamente.

Desde quando e por que?
Amor pelo São Paulo desde a vida, desde sempre. Quando vim para o São Paulo, vim sem imaginar que eu sequer fosse conseguir ser conselheiro ou diretor. E em pouco tempo era diretor, em dois anos era conselheiros, e aí o São Paulo me envolveu tão fortemente, tão profundamente, que começou a nascer essa perspectiva. E quando nasce a perspectiva, nasce o desejo.

O senhor cumprirá mandato até abril de 2017, depois pode se eleger por três anos e se reeleger por mais três. Tem interesse em ficar até 2023?
Provavelmente não. É até possível que eu me satisfaça com os 18 meses. Não vou fazer nenhum prognóstico nesse sentido. A perspectiva de uma eleição posterior aos 18 meses existe, sim, e claro que ela passa por uma boa performance, passa por uma relação de satisfação do São Paulo, da comunidade e minha, também, o que é fundamental.

O senhor imaginava concretizar o sonho de ser presidente em abril de 2014, mas Juvenal Juvêncio escolheu Carlos Miguel Aidar para sucedê-lo e não o senhor, como era esperado. O senhor esperava ser presidente depois disso?
Não exatamente, por uma razão: aquilo foi um momento muito impactante, eu sofri uma verdadeira frustração porque, sem pretender ser pretensioso, me considerava habilitado. Para vir a ser o presidente do São Paulo e porque tinha ao longo da minha história com o Juvenal uma relação de muita proximidade, de um trabalho feito permanentemente com ele. E o Juvenal, apesar de seu estilo autoritário e despótico, sempre teve uma atitude de muito respeito por mim. Fui diretor de futebol, vice-presidente de futebol, fui diretor de orçamento e controle nos oito anos da gestão, e fui vice-presidente nos últimos anos da gestão, que foram cinco. Então eu realmente me desiludi, me decepcionei, me senti desconsiderado. Disse isso a ele, e tive ímpetos de largar tudo, ir embora para casa, enfim, dar azo àquele impulso da emoção negativa. E aí me dei conta que faria mal a mim mesmo, que iria abandonar uma coisa que estava muito forte na minha vida. E fiquei. Me colocando, sempre me colocando, e algumas pessoas dizendo: “Você precisa ser o presidente do conselho”. Várias pessoas articularam, quiseram apadrinhar a ideia, até que um dia Juvenal me ligou e disse assim: “Você quer ser presidente do conselho?”. Eu disse: “Sim”. Ele falou: “Tchau”. Foi assim, curto e grosso. E eu me elegi presidente do conselho. Na presidência do conselho, a minha vida, minha posição, meu conceito e meu sentimento se consolidaram de uma vez. Nesse um ano e meio eu senti o quando eu pude ser e fazer pelo São Paulo.

Muita gente diz que o momento da virada negativa do São Paulo foi o terceiro mandato do Juvenal...
Eu não tenho dúvida.

Foi isso?
Certamente.

Por que?
Porque esse terceiro mandato ele se fez, se construiu, com uma energia que já não era boa. Só serviu para atender a um anseio, a um desejo do Juvenal, e ele ainda me disse: “Eu preciso fazer algumas coisas que quero completar”. E eu disse a ele: “Eu acho ruim, acho perigoso, não estou de acordo, mas não vou brigar com você por causa disso”. Eu fui muito contestado por algumas pessoas que afirmavam e afirmam até hoje que eu deveria ter peitado e saído candidato. E eu não fui, porque tinha com ele laços de relacionamento, e porque também não me faltam razões de inteligência para perceber que seria uma tarefa inglória, porque ninguém ganharia do Juvenal no período em que ele foi presidente do São Paulo. Nunca um presidente foi tão dono do São Paulo quanto Juvenal Juvêncio. E o que lastreou, o que justificou, mais do que tudo o interesse dele pelo terceiro mandato foi o fato de que Laudo Natel e Manuel Raimundo Pais de Almeida atestaram a ele que ele merecia continuar porque ele era o maior presidente da história do São Paulo. Laudo acha que o Juvenal foi o maior presidente da história do São Paulo...

E o senhor, também acha?
Foi um dos maiores. O Laudo foi um deles, o Henri [Aidar] também foi. Outros foram. Mas bem, esse terceiro mandato foi inspirado por essas figuras maiúsculas, pelo desejo do Juvenal se manter no poder, é muito difícil uma figura autoritária como ele se despedir, sair do poder. E porque o Carlos Miguel [Aidar] deu a ele as formas de conquistar, isso através de expedientes judiciais, ações, e deu ao Juvenal as condições do terceiro mandato. Foi difícil, ele teve de vencer resistências, várias, mas terminou com um “vamos aceitar”. Contra, só um ou dois foram. Todo mundo acabou apoiando meio que tendo que engolir, a contragosto. E esse terceiro mandato foi ruim para ele porque o iludiu, o impediu de cuidar melhor de si mesmo, e ele precisava tanto cuidar bem de si. E esse terceiro mandato gerou nele, e aí estou fazendo uma dedução, gerou nele uma dívida que ele pagou com a indicação do Carlos Miguel. Se num primeiro momento a indicação do Carlos Miguel pudesse sugerir um acerto de interesses entre eles, os fatos imediatos mostraram que não. Então é coisa do íntimo, de lá de dentro, que ele não precisava falar, e eu conheço ele o suficiente. Ele foi trazido pelo Carlos Miguel, ele existe na vida do São Paulo por causa do Carlos Miguel, e ele teve o terceiro mandato pelo que ele foi, até então magnífico presidente, e o Carlos Miguel viabilizou. Foi o suporte prático daquilo. Isso é dedução, hein?

O senhor falou que “nunca um presidente foi tão dono do São Paulo”. Qual a gravidade disso?
Não vejo nenhuma gravidade. Eu vejo virtudes. Gravidade no sentido de que era o estilo dele. Ele é autoritário, ele é déspota. Mas, não obstante, ele fez bem ao São Paulo. Ele fez algumas coisas erradas e ruins, mas ele fez muito para o São Paulo. O São Paulo institucionalmente, patrimonialmente, na mão dele foi muito beneficiado. Vide Cotia, vide esse estádio aqui que fizemos há 55 anos, e que está moderno. Não é padrão Fifa, mas não envergonha a gente. Não precisa ser coberto, porque o povo vem com chuva mesmo desde que o espetáculo seja bom.

Muita gente diz que o São Paulo é vítima da própria soberba. Isso pode ser verdade?
Pode, mas eu acho que não é isso. Eu acho que não é isso. Criou-se um conceito, uma fama, tudo isso e tal, mas não sei.

O plano de reforma de gestão que foi vetado por Aidar previa que presidente e vices perdessem poder executivo e a criação de um conselho de administração. O senhor defende a implementação dessa reforma?
Sou presidente faz três dias. Tem muita coisa nova que preciso analisar, que preciso aprofundar e refletir a respeito. Não tenho uma ideia precisa e aprofundada, mas te digo que não é uma coisa fácil de implementar. Não é simples. Você não transforma uma instituição historicamente gerida e cuidada por seus disponíveis dirigentes, e chegam executivos, que de repente nem são são-paulinos. Vocês não imaginam o quanto isso mexe com a comunidade. Até o CEO que voltou nesses dias comigo [Alexandre Bourgeois], que foi introduzido há três meses e teria vinculação com a figura do Abilio Diniz, eu o fiz com a ideia fundamental de procurar manter uma estabilidade estrutural, para poder me apropriar, para que me capacite do conhecimento de como a coisa deve ser feita. Afirmo já e posso adiantar que vários executivos e conselho de administração não é uma coisa fácil de implantar.  

Abilio Diniz esteve muito próximo do São Paulo nos últimos meses e, segundo relatam, estará próximo do senhor nessa gestão. Qual será o papel dele?
Eu conheço o Abilio de há muito. Nunca tive intimidade ou relacionamento mais próximo, mas nos últimos tempos se intensificou nosso contato em função de ele ter voltado toda a sua libido, todo seu interesse para o São Paulo, como se ele não tivesse outras coisas para fazer. O São Paulo virou a coisa mais importante para ele. Ele não vai ser nada aqui no São Paulo porque não pode ser, pelas suas atividades. Está no Brasil metade do mês, na outra metade ele viaja pelo mundo. Eu pedi a ele que, pelas suas referências, pela sua expertise, pelos seus relacionamentos e pelo interesse e amor profundo que ele tem pelo São Paulo, uma assessoria financeira até colocando gente dele para ajudar a olhar as coisas e nos dar os caminhos. É essa a presença dele aqui.

O que o São Paulo precisa fazer para se proteger da corrupção? Presidente e vices remunerados pode ser solução?
A corrupção não está intimamente ou obrigatoriamente relacionada com a remuneração, porque ele pode ser remunerado e não ser corrupto e pode ser corrupto sendo remunerado. Uma coisa não elimina a outra. Mas pode ser um avanço, e eu não falo em meu prol, mas como conceito pode ser um avanço que o presidente seja remunerado assim como alguns altos executivos do clube sejam remunerados. Acho até legítimo, ele pode ter uma dedicação maior e mais tranquila, sem dúvida alguma.

Quanto tempo o São Paulo vai demorar para tirar a gestão Aidar do clube?
Não sei dizer. Gostaria que demorasse pouco, mas vai demorar muito, porque precisamos de tempo.

E qual o maior prejuízo da gestão: financeiro ou de imagem?
Os dois. A imagem abalou muito. A credibilidade do São Paulo seguramente foi afetada e isso redunda em efeitos concretos, práticos, perdas de anunciantes, patrocinadores, que nós vamos agora reestabelecer, resgatar. Quanto tempo, eu não sei, até porque não sei exatamente o tamanho do problema financeiro, estou agora apurando. Duas vezes nessa semana a comissão de auditoria que eu estabeleci no conselho se reuniu, e se reuniu agora com a PricewaterhouseCoopers, que o Abilio ofereceu e ele patrocinará para o São Paulo, para que seja feito esse levantamento. Só depois disso eu vou poder dizer alguma coisa para vocês.

O que precisa mudar no Morumbi?
O Morumbi, e isso foi muito marcante e extraordinário, foi cotidianamente, dia a dia, cuidado pelo Juvenal de forma impressionante. De olhar se tinha sujeira aqui, se o tapete estava em ordem, se a torneira estava funcionando... O Juvenal fez isso o tempo inteiro. O tempo inteiro. Ele cuidou do Morumbi. Uma das últimas coisas que ele fez, e para ele foi fantástico, foi colocar todas as cadeiras vermelhas aqui. E o Morumbi é nosso orgulho, nós fizemos esse estádio há 55 anos. Nós fizemos esse estádio. É um enorme orgulho isso aqui. Ele precisa ser modernizado? Ele veio sendo modernizado, nós fomos colocando lojas, serviços. Hoje tem tanta coisa boa aqui, restaurantes, academia, fisioterapia. E a gente pode explorar mais. Cobertura? Tudo bem, seria ótimo fazer a cobertura, não está descartado, pode ser que a gente venha a fazer. Agora, transformar o Morumbi num estádio que se assemelhe ou se aproxime do que é o padrão Fifa, que é colocar o torcedor a cinco metros do torcedor que vai bater o lateral, eu acho difícil. Acho que o Morumbi é muito menos um problema e muito mais um orgulho.

Nos últimos anos, Juvenal teve aproximações e afastamentos com Marco Polo Del Nero, hoje presidente da CBF. Aidar chegou a advogar para a CBF. Qual será a relação do São Paulo do Leco com a CBF?
O futebol brasileiro é comandado pelo Del Nero da forma como vinha sendo comandado anteriormente. É toda uma estrutura que está ali posta e que vem buscando se modernizar a partir de uma experiência que vivi ainda essa semana na Federação Paulista de Futebol e que reflete isso. O São Paulo é uma instituição importante dentro de um contexto dirigido pela CBF. E, como tal, ajustado. Não pode ser diferente. Então, o São Paulo buscará sem perder sua independência, autoridade e dignidade, se ajustar ao que acontece.

O São Paulo não é dos clubes mais desfavorecidos na divisão de cotas de TV...
Nem dos favorecidos.

Exatamente. Como o senhor vê a divisão de receitas hoje? Há como discutir o modelo?
Isso está muito em função do momento que nossa equipe se mostrar melhor ou menos. Se ela se mostrar melhor, atrai mais e gera um conjunto de resultados, fatores, sentimentos e energias que farão um despertar maior de interesse, marketing, mídia, pay-per-view, torcedor e tudo isso. Se minha equipe cair de produção e fizer um papel pífio, ela não vai despertar interesse e vai cair tudo. Se estiver melhor, vai melhorar, aí eu passo o Vasco, passo o Palmeiras... o Vasco é uma loucura o que tem de repercussão nesse cenário em função de norte e nordeste do Brasil.

O que o senhor diz, então, é de certa forma o modelo inglês, com performance e torcida. Se for sugerido o modelo inglês de divisão de receitas, o São Paulo é a favor?
Em tese, sim.

O senhor tem 77 anos e atua como advogado. Como será sua vida pessoal e profissional nos próximos 18 meses? Pensa em se afastar do trabalho para viver apenas o São Paulo?
Eu já tenho isso bem concebido e espero conseguir implementar, fazer do meu jeito. Eu vou cuidar muito da minha vida pessoal, vou cuidar muito da minha ansiedade, da minha energia, porque eu sei que se isso não estiver bem cuidado a minha saúde pode me trair.

O espelho para isso é o Juvenal?
O espelho é o Juvenal, é o Belluzzo, é o Luis Álvaro, o Marcelo, que morreu [citações ao ex-presidente do Palmeiras Luiz Gonzaga Belluzzo, ao ex-presidente do Santos Luis Ávaro Ribeiro, e ao ex-presidente do São Paulo Marcelo Portugal Gouvêa, falecido em 2008]. Tem uma demanda aí. Eu vou continuar com a minha vida profissional. Tenho a virtude que vive comigo de há muito de ter meu escritório muito próximo de onde eu moro. Tenho meu escritório a no máximo 10 minutos da minha casa. Minha ideia, e isso eu já venho fazendo, é ir todas as manhãs ao meu escritório, e depois eu venho para cá.

Leco ficará na história do São Paulo como o presidente que...?
Que devolveu a alegria ao nosso torcedor. Que devolveu a confiança de que as relações pessoais daqui serão pautadas pela confiança, pelo respeito, em todos os níveis. Com o torcedor, com o dirigente, com o jornalista, com os funcionários, que eu sempre tive bom relacionamento e cultivo. Devolver ao São Paulo a tranquilidade. Se ele tiver isso, tiver confiança... ah, meu bem, a massa são-paulina faz o serviço.