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Filme "Ronaldo" mostra uma estrela solitária e decepciona com poucos gols

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

13/11/2015 13h21

Cristiano Ronaldo tem 449 gols na carreira. O documentário “Ronaldo” mostra 37 deles. Decepcionante para quem deseja ver o que faz famoso o garoto nascido na Ilha da Madeira há 30 anos. Estimulante para quem deseja ver e conhecer um pouco da vida privada de um dos grandes jogadores do futebol atual.

O que se vê é uma relação entre três pais e uma mãe: Cristiano Ronaldo e Denis Aveiro, seu pai biológico, que morreu em 2005 de cirrose, Cristiano Ronaldo e Cristiano Ronaldo Jr, Cristiano Ronaldo e Jorge Mendes, seu empresário, e Cristiano Ronaldo com Dolores Aveiro, sua mãe.

Ele demonstra carinho por todos, até por quem gostaria de ter tido por mais tempo a seu lado. E a permear as relações, está sempre a fama e o êxito. “Meu pai era um homem muito engraçado, contava histórias, vivia bêbado. Não tivemos nunca uma conversa de pai e filho, sinto falta do pai que não tive e gostaria que ele estivesse aqui para ver meus êxitos”, diz, após cenas mostrarem sua ida ao cemitério onde o pai iria ser enterrado.

Cristiano Ronaldo beija o filho na boca. São selinhos que demonstram todo o carinho pelo garoto nascido em 2010. O craque, que nunca disse quem era a mãe e que tem guarda exclusiva do garoto, aparece fazendo abdominais com ele, contente quando o menino diz “Lamborghini” ao descobrir qual dos cinco carros não está na garagem, apresentando o filho a Lionel Messi, e carinhoso, mas enfático, ao negar ao garoto o direito de ser goleiro um dia. “É um prazer imenso conviver com meu filho e mostrar a ele todos os meus troféus, minhas conquistas, minhas glórias”.

Cristiano Ronaldo toma vinho com Jorge Mendes. Muito alegre, fala alto, quase grita e define: “ele é o melhor agente do mundo e eu sou o melhor jogador do mundo”. Jorge Mendes, em outro momento do filme, diz que é o pai não oficial do ídolo.

Cristiano Ronaldo atende um telefonema da mãe, às vésperas de um jogo da Copa. “Já tomou o calmante, já tomou os remédios. Fique calma, isso é apenas um jogo de futebol, não é uma questão de vida ou morte”. Em outra cena, Dolores vê o filho em uma disputa de bola e afirma: “Nossa ligação é muito forte. Quando ele leva uma pancada, eu sinto a dor também”.

Há mais do que o Cristiano família – acrescente-se o irmão Hugo – no filme. Uma simples tomada mostra como é vaidoso. Na pia, onde fará a barba, há pelo menos dez frascos de cremes e cosméticos. “Dizem que sou vaidoso, mas faz parte do meu êxito”.

Também mostra uma pessoa solitária. Nada de namoradas, apenas as pessoas mais próximas. Uma pessoa sincera ao dizer que, se pudesse voltar no tempo, não teria ido à Copa. Não tinha condições físicas. “Qualquer outra pessoa teria desistido, mas ele foi”, diz Jorge Mendes, construindo a história do mito.

E há Cristiano sem camisas. O jornalista Joshua Robinson, do The Wall Street Journal, cronometrou o filme, de 89 minutos, e viu Ronaldo 3min45s sem camisa. Mais do que os 3min06s em que aparece jogando por Portugal. O tempo de jogo com a camisa do Real Madrid (7min32s) é praticamente igual ao período em que veste terno ou smoking (7min28s). Menos do que o filme mostra Jorge Mendes falando (9min21s).

O tempo com a camisa do Sporting de Lisboa (1min13s) é praticamente igual ao período em que canta uma música de Rihanna (1min07s).

São facetas do craque. A repetição constante de frases em que diz que adora vencer e se prepara para isso, o mantra de que luta para ser sempre o melhor do mundo, tudo é comprovado, pela comemoração pela conquista da bola de ouro, em seu avião particular. Intensa, alegre e feliz. Naquele momento, Cristiano Ronaldo é apenas um jogador de futebol. Talvez o melhor do mundo, mas apenas um jogador, não uma estrela solitária.