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Ex-office-boy, Tite deu primeiro passo no futebol graças a Felipão

Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo

16/11/2015 10h30

O ano era 1978. Tite tinha 17 anos e era office-boy de uma concessionária Volkswagen em Caxias do Sul. Era sua primeira semana trabalhando na empresa, mas ele já havia decidido que pediria as contas. Em seus primeiros e últimos dias de emprego, Tite (ou Ade, como era chamado pelos familiares) viu um rosto conhecido entrar na concessionária: Luiz Felipe Scolari.

Tite e Felipão moravam em Caxias do Sul e haviam se enfrentado em jogos escolares. Tite jogava no time de futsal do seu colégio, Emilio Meyer. Mais experiente, Felipão acumulava duas profissões: atleta do Caxias (time profissional da cidade) e treinador da escola rival da de Tite.

No encontro casual dentro da concessionária (que funcionava em frente à residência de Tite), Felipão lembrou que o jovem Tite havia se destacado nos duelos escolares.  

“Não quer ir fazer um teste no Caxias?”, convidou Felipão, em 1978.

As portas do futebol se abriram para Tite após o convite de Felipão. Aprovado nas avaliações do Caxias, o meio-campista Tite subiu para o time profissional, a tempo de atuar com o já experiente zagueiro Felipão, no começo da década de 80.

“O Felipe [Felipão] já era um jogador conhecido do Caxias. Eu tinha acabado de começar emprego como office-boy. Um dia ele me viu na concessionária trabalhando e falou se eu queria fazer teste no Caxias. Eu aceitei e pedi demissão no mesmo dia”, relembra o técnico do Corinthians.

Radiante com o convite feito por Felipão para tentar carreira no futebol, Tite só não esperava ouvir coro negativo na família. Ele levou dura da irmã Beatriz, que havia conseguido a vaga para o irmão na concessionária.

“Eu que tinha arrumado o emprego para o Ade (Tite). E não foi fácil, não. Eu tive que convencer o dono a dar uma chance para o meu irmão, que estava desempregado. Dias depois de conseguir o emprego, ele [Tite] chegou em casa dizendo que não iria trabalhar mais porque ia fazer um teste no Caxias. Pior: ele não queria nem voltar para a anunciar a demissão”, relembra Beatriz Bachi, irmã de Tite, ao UOL Esporte.

“Eu obriguei ele a falar com o chefe e explicar por que ia sair da concessionária logo na primeira semana de serviço”, prosseguiu a irmã mais velha. Tite tem outro irmão, Miro.

O período de Tite atuando pelo Caxias foi longo: seis temporadas. Ele também teve passagens pela Portuguesa, Sport, Guarani, entre outros clubes. O então volante encerrou prematuramente a carreira, aos 28 anos, devido a lesões graves nos joelhos.

Amizade com Felipão foi se apagando com o tempo

Importante no ingresso de Tite ao futebol, Felipão tem espaço na casa da família do treinador do Corinthians. Na residência onde vive a mãe de Tite em Caxias do Sul, Felipão é retratado em alguns quadros.

Tite diz ter profunda gratidão a Felipão. Por muitos anos, os dois mantinham conversas quando se encontravam em Caxias. Mas o relacionamento, marcado pelo respeito entre ambos, se tornou meramente profissional.

O desgaste após diversos confrontos como técnico causou a ruptura na amizade de ambos. O primeiro grande ruído na relação aconteceu no fim de 2010, quando Felipão declarou que "não sabia" que ocorreria duelo do Palmeiras contra o Fluminense na Arena Barueri.

"Eu nem sei se tem jogo domingo", dissera Felipão, em tom irônico às vésperas da partida.

Tite comandava o Corinthians e torcia por uma vitória do Palmeiras (dirigido por Felipão) para seguir em busca do título. A declaração de Felipão foi interpretada como um prenúncio de que o time carioca levaria os 3 pontos.

O Flu acabou derrotando o Palmeiras, mesmo com grande atuação do goleiro alviverde Deola, e acabou conquistando na rodada seguinte o título do Brasileirão daquele ano. Parte da torcida do Palmeiras vaiou Deola pela grande atuação em campo.

O caso mais emblemático ocorreu em 2011, quando Tite, já dirigindo o Corinthians, se aproximou de Felipão na lateral de campo e disparou: “fala muito!”. O grito virou bordão do treinador.

Meses depois do incidente à beira do campo em 2011, os dois se cumprimentaram e encerraram a rusga. Mas a relação nunca mais foi a mesma.